Peculiar e estranha obra de Tim Burton

Com sessões lotadas, a mostra “O Cinema de Tim Burton”, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB BH) chega ao fim na próxima segunda-feira (6). Tim Burton é um dos diretores mais aclamados e controversos da sua geração. O catálogo reúne 42 filmes: 23 deles dirigidos pelo norte-americano, 18 longas-metragens que são referências em sua carreira e um produzido por ele. Um dos maiores destaques é “Ed Wood” (1994), vencedor do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, com Martin Landau interpretando o impagável Bela Lugosi, e de Maquiagem. A fotografia em preto-e-branco não levou a estatueta de Hollywood, mas é primorosa.
O filme é uma biografia artística de Edward Wood, que ficou conhecido como “o pior cineasta de todos os tempos”, com seu fabuloso trash “O Plano 9 do Espaço Sideral”, entre outros filmes. Burton formou um elenco de excelência, com Johnny Depp no papel principal, Patricia Arquette, Bill Murray, Sarah Jessica Parker e Vicent D’Onofrio.
A atualidade de rememorar os bastidores de “O Plano 9 do Espaço Sideral” remete à triste realidade em que lixo cultural, midiático e industrial se impõem ao cotidiano. Disse um mestre que não podemos mais nos dar ao luxo de opor o virtual ao real, longe de nós fazê-lo, diante de eletrodomésticos que governam nossas casas, meio atabalhoadamente, diante de nosso despreparo tecnológico.
Em imagens televisivas vemos fabulosos lugares como Singapura, que segundo consta não tem recursos naturais, sequer para o próprio abastecimento de água, mas é um cenário que Ed Wood poderia, com alguns recursos, produzir sem embaraços. Afinal países como o Brasil alimentam países distantes e deixam um rastro em seu bioma que nada deve ao “Plano 9 do Espaço Sideral”. José de Souza Martins, na revista do “Valor Econômico”, sugere que está em construção uma extrema direita personificada com mais sustança que Bela Lugosi, escondida nos confins da excrecência. Podemos temer!
Outro ponto alto da mostra “O Cinema de Tim Burton” é a fantasia gótica musical de animação sobre o Natal “O Estranho Mundo de Jack” (foto), com título original de “Tim Burton’s The Night Before Christmas”, também de 1994, com direção de Henry Selick e argumento e produção de Burton.
“O Estranho Mundo de Jack” é uma história fantástica sobre o Natal, que habita a cabeça de Burton desde a época em que ele era animador dos Studios Walt Disney. Doze anos depois, o sonho do cineasta chegou às telas nas mãos de Henry Selick, diretor como enorme experiência em stop-motion, técnica de animação de bonecos.
O resultado é um filme, ao mesmo tempo, ousado e simples, mórbido e singelo, que confronta o universo maldito do Halloween e o espírito natalino, com um visual deslumbrante, belas canções e 74 estranhíssimos personagens. “O Estranho Mundo de Jack” é diferente de tudo o que já foi feito no gênero, com uma abordagem bastante original sobre o Natal.
Trata-se de uma fábula delirante sobre o sonho de Jack Skettington, o bem-amado Rei das Abóboras da escura Cidade de Halloween, povoada por monstros e seres diabólicos. Ao entrar acidentalmente na Cidade do Natal, ele vislumbra o colorido, os brinquedos e as decorações natalinas e acaba personificando uma versão muito alternativa de Papai Noel, repleta de sustos e horrores…
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