Ritmo da economia brasileira deve ser menor neste ano

Diante de um cenário de fortes efeitos por conta da alta dos juros, a economia brasileira deve diminuir o ritmo neste ano. Pelo menos é o que apontam os especialistas de entidades do setor privado. O crescimento de 2,9% do Produto Interno Bruto (PIB) de 2022, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira (2), indica que o nível ainda é baixo na comparação aos anos anteriores.
Segundo especialistas e entidades consultados pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO, os resultados estão dentro das expectativas esperadas para o ano que passou. Entre os fatores que alavancaram os números, destaque para o setor de serviços, que foi puxado pelo aumento do consumo no País e da oferta de empregos.
O economista do Sistema FIEMG, João Pio, explica que 2022 foi marcado de forma expressiva pela demanda. Segundo ele, o pós-pandemia registrou o retorno do consumo por parte da população, figurando como motor do PIB no período.
“Quando a gente olha pela ótica de quem consome, percebe que o maior motor da economia nacional é o consumo. Afinal, esse consumo esteve represado, sobretudo, no setor de serviços durante a pandemia. Passada a turbulência, tivemos a expansão de auxílios dos governos federal, estadual e municipal, assim como corte de impostos, o que impactou na renda das famílias e fomentou o consumo”, diz.
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Já o economista da Associação Comercial e Empresarial de Minas (ACMinas), Paulo Casaca, avalia que, em princípio, este é um bom resultado. No entanto, quando analisados os dados trimestrais, percebe-se desaceleração. “Trata-se de um ponto de alerta para 2023. Afinal, já temos diversos sinais de que as economias brasileira e mineiras estão desacelerando. Isso deve se manter no primeiro semestre de 2023”, adianta.
Economia mineira deve crescer além
Apesar de os resultados estaduais ainda não terem sido divulgados, Casaca acredita que o indicador da economia mineira deva crescer um ponto percentual acima do apurado no Brasil. Esse dado também compõe a prévia de crescimento do PIB, divulgada pelo Banco Central. “O crescimento do Brasil foi de 2,9%. Para Minas Gerais o resultado esperado é de 3,9%. Acredito que isso deve se manter no resultado do PIB calculado pelo IBGE”, afirma.
Para o especialista da ACMinas, Minas Gerais provavelmente apresentará desempenho melhor que a média brasileira. Mas, segundo ele, o resultado está em ritmo de desaceleração já em 2023. “Na economia, falando especificamente sobre o setor de comércio, que a gente pode dizer que é dentro do setor de serviços, foi onde mais se teve crescimento expressivo. O setor de serviços cresceu 4,2%, enquanto o de comércio cresceu apenas 0,8%”, pontua.
De acordo com a avaliação do IBGE, as atividades econômicas que fizeram com que o setor de serviços avançassem no ano passado foram os de exercício presencial, como o de transportes e comunicações. Já o setor de comércio não registrou um crescimento expressivo, pois foi o primeiro entre os setores mais prejudicados com a pandemia, e que segue em recuperação gradativa.
Considerando outras atividades da indústria, como o setor de agronegócio, João Pio avalia que os resultados traduzem um desempenho negativo impactado, principalmente, pela produção de soja. “O setor foi muito prejudicado pelas mudanças climáticas, o que interferiu na produção anual”. Já os estudos do IBGE apontam que outros alimentos puxaram desempenho para baixo, como a mandioca com -1,6%, além do fumo e a batata inglesa, com resultados -7,1% e -2,4%, respectivamente.
Segundo a assessora econômica do Sistema FAEMG, Aline Veloso, as atividades produtivas relacionadas à agricultura, por influência do clima e com impacto pelo lado da oferta, por sua vez, e que tiveram um aumento na produção, não conseguiram se sustentar por conta de sua participação.
“Considerando a produção da agropecuária do País, se o indicador apresentasse um número positivo, mantendo uma tônica acompanhada em cada trimestre para essa mensuração do PIB, teríamos uma mudança de cenário. No entanto, vamos acompanhar como será essa mensuração do PIB de 2022 para Minas Gerais, que deve ser divulgado em breve pela Fundação João Pinheiro (FJP)”, sugere.
O aumento do PIB mineiro no terceiro trimestre também foi devido ao aumento dos preços das comodities na economia mineira. É o que explica o economista da Fecomércio MG, Stefan D’Amato. “O Setor de serviços reagiu ao abrandamento da pandemia e deverá seguir a posição de destaque no valor adicionado bruto mineiro, ampliado em 4,4% no terceiro trimestre em comparação ao trimestre anterior. Estes efeitos são resultados da elevada taxa de juros que desestimula o crédito para investimento produtivo”, afirma. Os dados para o quarto trimestre ainda serão divulgados.
D’Amato aponta que o setor comercial tem uma grande participação no setor de serviços e que está sofrendo um grande impacto com a desaceleração. “É uma desaceleração crescente das vendas, principalmente os segmentos que dependem do crédito e, também, devido ao aumento expressivo da inadimplência dos consumidores no período. A instabilidade na área política, a indefinição das diretrizes governamentais e a alta inflacionária geram insegurança para os comerciantes e prestadores de serviços, sendo eles nacionais ou mineiros”, diz.
O especialista pontua que, adicionalmente, o impacto da desaceleração mundial e as incertezas geopolíticas, são fatores que podem dificultar à retomada do crescimento acelerado da economia mineira. No entanto, caso não haja uma mudança em um curto espaço de tempo, buscando a estabilização das expectativas, haverá reflexos negativos na economia, desestimulando o crescimento econômico.
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