Hoje à noite, na Academia, a posse de Ailton Krenak

Rogério Faria Tavares*
Eleito na sucessão do saudoso Eduardo Almeida Reis, com 36 dos 39 votos, o escritor Ailton Krenak tomará posse hoje, às oito da noite, na cadeira de número 24 da Academia Mineira de Letras, na sede da instituição, à rua da Bahia. A solenidade contará com a presença de Joenia Wapichana, presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas, a Funai, que virá especialmente de Brasília para presenciar esse fato inédito na história das academias de letras do país. O discurso de recepção a Krenak será pronunciado pela acadêmica Maria Esther Maciel. O diploma será entregue pelo acadêmico Patrus Ananias e o distintivo será posto pelo acadêmico Ângelo Oswaldo de Araújo Santos. Depois da sessão, será oferecida aos convidados uma ‘experiência gastronômica’ organizada por um grupo de treze especialistas que se formou exclusivamente para atuar no evento. Coordenado pela expert Sílvia Herval, o time fará o manejo e o preparo de alguns dos alimentos mais consumidos pelos povos originários do Brasil, como a mandioca, o feijão e o milho. Ainda serão servidos diversos chás de ervas típicas. O próprio Krenak acenderá o fogo com que os cozinheiros trabalharão.
A cadeira agora ocupada por Krenak tem como patrona a poeta Bárbara Heliodora, nascida em São João del Rey, em 1759. Mulher do inconfidente Alvarenga Peixoto, Bárbara sofreu toda sorte de perseguições depois que a conjuração mineira falhou e que seus líderes foram presos ou deportados. Já o fundador da cátedra foi João Lúcio Brandão, que nasceu em Ouro Fino, em 1875. Autor de romances como “Pontes e cia”, de 1912, premiado pela Academia Brasileira de Letras, e “Bem viver”, de 1917, João Lúcio ficou nacionalmente conhecido pelos seus livros didáticos voltadas para as crianças, de que são exemplos “O livro de Elza”, “O livro de Violeta”, “O livro de Zezé” e “O livro de Ildeu”, títulos inspirados nos nomes de seus primeiros filhos. Um deles, o excelente contista Ildeu Brandão, antigo dirigente do “Suplemento Literário”, também pertenceu à Casa de Alphonsus de Guimaraens e de Henriqueta Lisboa.
Quem sucedeu a João Lúcio Brandão foi Cláudio Brandão, nascido em Ouro Preto em 1894. Fundador da Faculdade de Filosofia da UFMG, nela atuou como professor titular de Língua e Literatura Gregas. Entre os volumes por ele assinados, encontram-se “Introdução à História da Língua Portuguesa”, “Latim” (manual didático para o curso ginasial, em quatro volumes), “Gramática Latina” (manual para o curso superior) e a célebre “Sintaxe Clássica portuguesa”, de 1963. Depois de Cláudio, foi a vez do modernista Henrique de Resende ingressar na AML. Integrante do Grupo Verde, de Cataguases (cidade em que nasceu, em 1899), foi um dos fundadores da célebre revista do mesmo nome. Sua estreia literária se deu em 1923, com “Turris Ebúrnea”, uma coleção de poemas simbolistas. Cinco anos depois, com Rosário Fusco e Ascânio Lopes, lançou “Poemas cronológicos”. “Cofre de charrão” surgiu em 1933. De sua produção poética ainda fazem parte “Rosa dos ventos” e “A derradeira colheita”.
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Depois de Henrique de Resende, a cadeira de número 24 ainda foi ocupada pelo médico Sylvio Miraglia (fundador do Hospital Vera Cruz e da Associação Médica de Minas) e por Eduardo Almeida Reis, sobre os quais escreverei mais na semana que vem.
* Jornalista. Doutor em literatura. Presidente da Academia Mineira de Letras.
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