Opinião

EDITORIAL | Exemplo a imitar

EDITORIAL | Exemplo a imitar
Crédito: REUTERS/Ricardo Moraes

O ex-presidente Itamar Franco, que governou entre 1992 e 1995, completando o mandato vago em consequência do impeachment de Fernando Collor de Mello, merece lugar de destaque, provavelmente o principal, entre os ocupantes do Palácio do Planalto depois da redemocratização. E deixou lições, no trato da coisa pública, que não foram assimiladas.

Como o afastamento de seu chefe da Casa Civil, Henrique Hargreaves, também um de seus mais próximos amigos, acusado de comportamento impróprio no exercício de suas funções. Deixou o posto e a ele foi reconduzido quando, após investigações, não houve comprovação de delitos. Rigor do qual não escapou nem mesmo seu ministro da Fazenda, que fez inconfidências diante de um microfone que não sabia estar ligado.

Tudo isso nos vem à lembrança diante de acontecimentos mais recentes, envolvendo o titular da pasta das Comunicações, Juscelino Filho, contra quem pesam acusações de recebimento de diárias indevidas, viagem em jato oficial para atender a compromissos particulares, e asfaltamento de uma estrada em interesse próprio. Atitudes nada republicanas, que o presidente Lula prometeu investigar e punir, inclusive com afastamento, embora na última segunda-feira tenha se dado por satisfeito com as explicações do próprio acusado, que evidentemente desmente tudo que foi dito e permanece no cargo.

Em Brasília há quem diga que o presidente da República se curvou ao constrangimento de evitar contrariar o indicado do partido União Brasil e assim pôr em risco seus cinquenta e tantos votos na Câmara dos Deputados.

Uma cautela que, mesmo em tempos menos amargos, o então presidente Itamar não teve simplesmente porque soube colocar seus deveres acima de tudo, o que certamente ajuda a explicar porque concluiu o mandato com  índice de aprovação que continua sendo o mais alto entre os ocupantes do cargo no período pós-redemocratização.

Claro que são tempos diferentes e situações diferentes, mas de qualquer forma a comparação é inevitável, registrando, mais que o embaraço do atual inquilino do Palácio do Planalto, as impropriedades de um sistema político concebido e construído para dar abrigo a interesses sempre particulares, na mesma medida em que afasta os agentes públicos daquilo que deveria ser intrínseco à sua condição. Na segunda-feira que passou, o presidente Lula saiu derrotado, perdeu sua primeira grande batalha política e, com isso, certamente se apequenou. São as circunstâncias, poderá afirmar o próprio presidente, que não estará errado e sim abraçando uma responsabilidade ainda maior de corrigir erros e mudar rumos.

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