Opinião

Celebração pela mulher deve ser “glocal” e diária

Celebração pela mulher deve ser “glocal” e diária
Crédito: Divulgação

Geneviève Poulingue*

O mundo celebra o Dia Internacional da Mulher em 8 de março. Eu começo a reflexão perguntando se em um dia cabe toda a equidade de gênero almejada. Penso que se quisermos algum avanço precisamos de todos os anos disponíveis. Comecemos com dados.

Uma breve panorâmica das estatísticas disponíveis, usando o índice de igualdade de gênero utilizado como referência na Europa, entre outros, ou a “lacuna global de gênero” do Fórum Econômico Mundial, que se concentra em quatro dimensões (oportunidades econômicas e de trabalho, educação, saúde e condições de vida, poder político).

O Brasil, o maior e mais populoso país, está em 94º lugar entre 146 países, com um índice de 0,696. O acesso à saúde e à educação são os pontos fortes do Brasil nesta análise. Como em muitos outros países, são as oportunidades de trabalho e remuneração que fornecem um quadro convincente (85º com um índice de 0,669) e a participação política (104º com um índice de 0,136).

Em primeiro lugar no nível regional, seguido de perto pela Europa, a América do Norte é a que tem melhor desempenho em termos de progresso. A América Latina está em terceiro lugar depois da Europa. Há grandes disparidades no tratamento das mulheres entre os países.

É claro que, na base do ranking, encontramos o Afeganistão e isto em todas as dimensões do índice! No Dia Internacional da Mulher, não podemos esquecer que em alguns países, por razões religiosas, o tratamento das mulheres é inaceitável. As primeiras batalhas serão sobre o retorno aos sistemas democráticos.

Mesmo que os métodos de cálculo sejam diferentes, os resultados convergem sobre a disparidade global das condições de vida das mulheres e sobre o tempo necessário para construir um mundo mais equitativo, independentemente do gênero.

Apesar de não ter sofrido frustrações como mulher, pois as portas se abriram nos momentos certos de minha carreira, compreendo a multiplicidade de contextos que se apresentam no mundo. Claro que nenhuma de nós está totalmente livre de experiências desafiadoras.

Lembro-me de uma entrevista de recrutamento que tive quando era recém-casada e tinha um mestrado em Administração.  Um executivo me perguntou “quantos filhos eu achava adequado para uma família ideal”. O questionamento vinha por causa de um sistema de aposentadoria por repartição na França. Em provocação, eu respondi: “muito, como imagino que você gostaria! E, sentindo o tom da minha resposta, ele me perguntou o eu achava do tricô. Finalizei a entrevista respondendo algo nesse sentido: “Sou economista sem habilidade para artes, então se você estiver falando do relatório Tricô, orientado ao primeiro ministro, sim, seguramente, eu gosto”.

Venho de uma geração em que as mulheres foram projetadas para conduzir as famílias embora eu tenha tido a sorte de seguir uma educação superior. Completei meus estudos aos quarenta anos de idade para obter o doutorado. Com um perfil empreendedor, trabalhei na SKEMA e em outras instituições, sempre com o desejo de dar tudo de mim. Ao mesmo tempo, não me esqueci de minha família.

Dirijo um IES (Instituição de Ensino Superior) e, portanto, trabalhando no mundo da educação, acompanho jovens homens e mulheres em sua formação acadêmica e profissional. Muitos jovens ainda têm uma formatação que os levará a reproduzir mais ou menos os modelos conhecidos em casa e na sociedade. Mas, a maioria dos meninos e meninas compreendeu a importância da diversidade e da colaboração homem-mulher.

Eles também entendem que esta é uma questão de justiça, começando com a escolha da educação e mais tarde com a igualdade de tratamento entre homens e mulheres em uma carreira profissional e na sociedade. As diferenças biológicas não têm nada a ver com isso! Ter uma geração de futuros líderes com potencial de formação de liderança feminina e menos machismos é motivo de muita satisfação para mim.

Acredito que o mundo da educação está envolvido na mais profunda transformação cultural, mostrando às jovens que elas têm o direito de sonhar em trabalhar em campos como ciência, política ou outras áreas de interesse para elas e aspirar a responsabilidades e salários em condições de igualdade. E o dever de lutar por seus direitos quando isso for negado.

A faculdade SKEMA reafirma seu compromisso com a equidade de direitos e está empenhada em apoiar mulheres e homens que desejam estabelecer direitos iguais nas esferas econômica e gerencial e ter acesso ao mundo político. Em 2007, a faculdade criou o observatório sobre a feminização da empresa com o Professor Michel Ferrary, pesquisador afiliado à SKEMA, para analisar a evolução da porcentagem de mulheres nos conselhos de administração, comitês executivos, administração e força de trabalho das 60 maiores empresas privadas francesas (CAC40 + CAC Next 20) para avaliar o impacto da diversidade sobre o desempenho econômico e social das empresas. Os resultados mostram que ainda há muito a ser feito para abrir os Conselhos de Administração e Comexes.

Dados e histórias nos mostram que avançamos e precisamos seguir para que mais lideranças femininas capacitadas surjam em todo mundo. Para isso, a celebração pela mulher deve ser glocal e diária.

*Economista e reitora da Faculdade SKEMA Business School www.skema.edu

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