A cadeira número 24 da Academia Mineira de Letras

Rogério Faria Tavares*
A cadeira de número 24 da Academia Mineira de Letras tem como patrona Bárbara Heliodora e, como fundador, João Lúcio Brandão. Sobre eles e seus sucessores, Cláudio Brandão e Henrique de Resende, já teci os comentários suficientes na coluna da semana passada. Falo, agora, sobre os que vieram depois, cumprindo promessa feita no mesmo texto.
Sylvio Miraglia, sucessor de Henrique, nasceu na Itália, em 1900, e veio para o Brasil bem cedo. Estudou em Jaú, no interior de São Paulo, e clinicou em Bauru. Em 1925, defendeu sua tese de doutorado na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Em Belo Horizonte, fundou o Hospital Vera Cruz, a Associação Médica e a Associação dos Hospitais de Minas Gerais. Foi professor da UFMG e presidente emérito do Instituto Mineiro de História da Medicina. Entre seus livros, relacionam-se “Vida e Sonho” — sonetos, de 1972; “Sonho Cristão” – poesia, de 1977; “Tempo de Reviver”,de 1987; “Hospital Vera Cruz – Esboço Histórico”, de 1988; “A Grande Angústia Humana”, de 1989; e“Serra do Curral – Recordações”, de 1990.
Sylvio Miraglia foi sucedido por Eduardo Almeida Reis. Nascido no Rio de Janeiro, em 1937, formou-se em direito e trabalhou 15 anos no Banco do Brasil. No jornalismo, escreveu para “O Globo”, “Folha de São Paulo”, “Hoje em Dia”, “Estado de Minas” e “Correio Braziliense”. Autor de livros de crônicas, artigos e ensaios, entre seus títulos figuram “Amor sincero custa caro”, “Burrice emocional”, “Bumerangue” e “Histórias do Brasil: de Colombo a Kubitschek”. Perito no ofício de nomear suas produções literárias, também assinou volumes sobre atividades agropecuárias, como “O pinto e a senhora sua mãe: a arte de empobrecer criando galinhas”, “A arte de amolar o boi: manual do proprietário de sítios e fazendas” e “As vacas leiteiras e os animais que as possuem”. Conhecido por seu humor refinado, na opinião de Fal Azevedo, autora de texto biográfico a seu respeito, compôs obra que singra por muitos mares, abraça muitas causas e fala de muitas gentes. Neto de Helena Morley, autora de “Minha vida de menina”, Eduardo Almeida Reis partiu em 15 de março de 2022, deixando os amigos saudosos de sua inteligência sofisticada, de sua cordialidade e de sua simpatia.
Eleito na sucessão de Eduardo Almeida Reis, em junho do ano passado, Ailton Krenak é um ativo promotor das causas dos povos originários do Brasil. Fez história ainda durante a Assembleia Nacional Constituinte, quando seu inesquecível pronunciamento em favor dos direitos das populações indígenas foi determinante para sensibilizar os parlamentares a respeito do tema. O forte empenho na difusão de sua cultura levou-o a lecionar na Universidade Federal de Juiz de Fora, de que é Doutor Honoris Causa, mesmo título a ele concedido pela Universidade de Brasília.
A relação de Ailton com a Academia Mineira de Letras não é de agora. Foi ele, a meu convite, quem organizou, ao lado da professora Maria Inês de Almeida, o dossiê sobre a poesia indígena de Minas, que aparece no volume 81 da nossa revista mais que centenária. Foi a primeira vez, na trajetória da publicação, que imprimimos textos nas línguas nativas do nosso território, reconhecendo e valorizando sua presença e sua importância para a formação do nosso povo, cuja maravilhosa diversidade se realiza também no campo linguístico.
*Jornalista. Doutor em literatura. Presidente da Academia Mineira de Letras
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