EDITORIAL | Mudar para sobreviver

Para a humanidade, hoje o grande desafio pode não ser um daqueles sobre os quais mais se fala, como condições ambientais e mudanças climáticas, desigualdade ou segurança alimentar. Quem pensa assim é um executivo de multinacionais de atuação planetária e autor do livro “Impacto positivo: como empresas corajosas prosperam dando mais do que tiram”. Paul Polman esteve em São Paulo recentemente como palestrante do Fórum Ambição 2030, evento promovido pelo Pacto Global das Nações Unidas com o objetivo de discutir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Vale – e muito – reproduzir o que disse Polman, que entre outras posições foi CEO da Unilever: “Quanto mais eu olho, mais acredito que, no fundo, a maior crise que o mundo enfrenta é a da ganância, da apatia e da preocupação exclusiva com o interesse próprio”. Para acrescentar “precisamos de lideranças morais mais humildes, mais humanas, que coloquem a pessoa à frente do interesse do acionista porque temos uma crise de ordem moral”.
“Sabemos como construir banheiros em áreas necessitadas, mas ainda assim mais de 1,5 bilhão de pessoas não têm acesso a eles. Sabemos construir casas, mas o número de moradores de rua só aumenta. Sabemos prover educação, ainda assim 246 milhões de crianças no mundo não estão nas escolas”. E segue: “É sempre bom ter tecnologia, é excitante, facilita muito nosso trabalho. Mas a maioria dos desafios – a falta de coesão social, a destruição das democracias, a erosão da confiança – é infligido pelo ser humano. E só poderão ser resolvidos com a força da vontade humana”.
Ele apontou também que a implantação das metas das Nações Unidas para construção de uma nova economia, traduzidas nas ODS, sofreu retrocessos estimados entre 10 e 20 anos como consequência da pandemia. Longe de desanimar, esta constatação deve ser vista como estímulo e sim nos fazer concluir que precisamos trabalhar mais para compensar o tempo perdido e alcançar os objetivos estabelecidos. Com o alerta de que não se trata somente de uma transição de modelos, mas de pensar em como fazer uma transição justa.
Sobre o Brasil, Paul Polman disse perceber aumento de interesse pela questão, além de ações positivas que aplaude antes de concluir: “Ou seguimos com o business atual, cuidando dos próprios interesses ou repensamos nossas ações fazendo as grandes mudanças necessárias”. Aceitando os sacrifícios mas revertendo um final catastrófico.
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