EDITORIAL | Sintomas alarmantes

A mais recente sucessão presidencial, um capítulo triste na história desse país, foi também, na aparência pelo menos, evidência da vitalidade das instituições políticas, que souberam resistir às investidas contra seus valores mais altos. Verdade e fato a ser festejado, embora deva ser percebido também na sua integridade, para além da polarização registrada, dos desvios de conduta ou, mesmo, dos nomes que estiveram no centro dos acontecimentos.
Como alguns preferem, a fulanização, como se tudo estivesse resumido à preferência por este ou aquele nome, o bem e o mal neles encarnados conforme a visão de cada um.
A sequência dos acontecimentos está a mostrar que não é assim tão simples. Os votos recolhidos mostraram uma divisão quase ao meio, fragilizando o vencedor e impondo uma construção política bastante delicada na busca, que permanece incerta, da governabilidade. Nesses movimentos, ainda por concluir, está o ponto focal, aquilo que mais interessa e onde não é difícil perceber, com elevado grau de preocupação, que as mudanças, afinal, não foram assim tão grandes. Porque prevalece, intacto, um sistema que é contra a política, se entendida como construção da vontade e dos interesses da maioria. Bem ao contrário, dando razão àqueles que acreditam que o Estado brasileiro foi sequestrado, dele se apoderaram grupos incapazes de enxergar além de seus próprios interesses e que só se movem para alimentá-los.
Foi nesse ambiente que valores mais saudáveis, de amplitude coletiva, foram postos de lado, esquecidos na mesma proporção em que desvios de comportamento se tornaram tão naturais quanto banalizados. E não estamos enxergando e apontando somente a corrupção escancarada e sim pontos mais sutis, embora também parte de um todo que deveria provocar repulsa na escala suficiente para exterminá-los de pronto. Algo bem ilustrado nas nomeações, que estão ocorrendo às claras, de esposas de potentados de variados calibres para cadeiras vitalícias em tribunais de contas dos estados.
Fina ironia para que seja dito o mínimo. Contaminação justamente das casas concebidas como barreiras às impropriedades que acontecem à luz do dia e sem qualquer pudor.
Repetindo, para adiante chegar ao final do espaço reservado a este comentário, já não é mais questão de apontar o dedo nesta ou naquela direção, procurando culpados para alimentar a ilusão de que eles estariam de fato sendo execrados. O que se percebe é que o processo se tornou sistêmico, numa contaminação verdadeiramente alarmante.
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