EDITORIAL | Todos somos ameaçados

As tais redes sociais, turbinadas da noite para o dia por grupos multinacionais que figuram hoje entre os maiores e mais ricos do planeta, têm um futuro no mínimo bastante incerto. Foram tantos os abusos e distorções acumulados em poucos anos, tantos e tamanhos os riscos, que em países mais desenvolvidos, cultos e politicamente estáveis já deram o sinal de alarme. Como está definitivamente não pode ficar face à proporção dos riscos que já são suficientemente visíveis para que permaneçam ignorados sob a falsa ideia de que qualquer intervenção possa representar riscos à liberdade de expressão.
A sucessão de abusos, numa cadeia em que as tais fake news são apenas a face mais visível, já deixou suficientemente claro que a internet e seus apêndices, em crescimento contínuo e vertiginoso, definitivamente não podem continuar sendo terra de ninguém. Ou uma grande lata de lixo em que cabe de tudo, quase nada, como se imaginava de início, para verdadeiramente aproximar pessoas e promover o conhecimento. O movimento, está mais que comprovado, foi exatamente inverso, numa escalada que, se não for contida, representa claríssima ameaça aos padrões de cultura, num sentido bem amplo, apropriados pela humanidade porque tidos como os mais adequados.
Definitivamente é preciso enxergar, é preciso entender as proporções da ameaça, em que questões como, por exemplo, as influências deletérias nas recentes eleições brasileiras podem ser muito poucas diante do potencial de risco, para reagir. Caso do Congresso dos Estados Unidos, que está prestes a impor barreiras mais efetivas e de responsabilização das empresas que operam as redes sociais pelo seu conteúdo. Nesse contexto, é evidente, empresas que hoje controlam a distribuição de informações e conhecimento, além de 80% das verbas globais de publicidade, tendem a fenecer porque seu espaço natural de crescimento estará bloqueado.
Não será despropositado afirmar que o futuro da sociedade e do sistema político predominante tal como o conhecemos e defendemos está condicionado às reações que, felizmente, começam a ganhar proporções mais próximas das ameaças que se pretende conter. Indiferença não é mais possível nem tolerável, questão que países da América do Norte e Europa finalmente parecem ter compreendido. Cabe ao Brasil, cabe aos brasileiros, observar com muita atenção o que se passa, cuidando também de seu acautelar e de acompanhar os movimentos que visam deter abusos e distorções que vêm sendo praticados. E tudo isso não apenas para deter o mau. Trata-se, afinal, de devolver as ferramentas tão poderosas condições para o seu melhor uso, tal como inicialmente se imaginou que poderia ser.
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