Opinião

EDITORIAL | Mudar e não sair do lugar

EDITORIAL | Mudar e não sair do lugar
Crédito: Adriano Machado/Reuters

O resultado da eleição de outubro passado representou, para a maioria dos brasileiros, alívio, na perspectiva de que os desmandos da gestão passada pudessem ter fim, com o consequente start de um processo de reconstrução nos mais diferentes setores da política e da gestão pública. Acontecimentos posteriores, da invasão das sedes dos três Poderes ao mais recente caso das joias que teriam destino escuso, certamente reforçam tal entendimento. Como já foi dito, as instituições, que pareciam esfarrapadas, mostraram vitalidade suficiente para impedir o pior. De qualquer forma, daí a pensar que a vida política tenha voltado aos trilhos a distância é ainda abissal.

O resultado da eleição, que até agora uns poucos solitários ainda tentam desacreditar, provocou uma primeira ruptura mas ainda assim exibiu um país  dividido, contaminado pelos mais baixos expedientes ofertados pelos modernos meios de comunicação eletrônica. O suficiente para fragilizar os novos governantes, no que toca à crucial representação parlamentar, mantendo de pé, fortalecidos, os mecanismos de deturpam e corroem o processo político, em que apoio tem preço conhecido, ainda que em tendência constante e alta. Tudo às claras, à luz do dia, sem qualquer pudor e com a garantia explícita de um pluripartidarismo concebido exatamente para assegurar que assim seja e assim permaneça.

Um sistema consolidado, antigo, bem acima de nomes que aparentemente estão no centro da polarização comentada, para muitos salvadores da pátria que, de fato, pouco representam. Algo que se evidencia, e mais uma vez, nesse exato momento, quando a disputa de poder entre os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado ganha tons de deboche diante da sugestão de que a tramitação de medidas provisórias tenha distribuição aleatória, reduzindo assim a margem de manobras do Executivo e, claro, elevando o preço do pedágio por quaisquer eventuais conceções. Um arranjo para, supostamente, conter apetites das duas casas legislativas, porém com o interesse público passando mais uma vez ao largo de cogitações e decisões.

De tudo isso, diante dos desafios que permanecem e são de proporções que deveriam bastar para mobilizar tudo e todos em torno de um projeto comum de superação e reconstrução, sobra a conclusão  de que na realidade permanecemos paralisados, sem perspectivas de que tal estado de coisas possa evoluir para melhor. Teríamos mudado, mais uma vez, para não sair do lugar, produzindo apenas ilusões ou falsas esperanças. Até quando?

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