Finanças

Campos Neto tenta se afastar de conflito político

Campos Neto tenta se afastar de conflito político
Campos Neto: processo do BC não tem componente político | Crédito: REUTERS/Adriano Machado

Brasília – Em meio às críticas do governo Lula sobre o atual patamar da taxa básica de juros Selic, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou ontem durante coletiva de imprensa que a autarquia é um “órgão técnico” e que, por isso, “não deveria se envolver em termos políticos”.

Segundo ele, o BC tem hoje um bom relacionamento com o Ministério da Fazenda. Campos Neto, em coletiva de imprensa sobre o Relatório de Inflação, afirmou ainda que tem “convicção” de que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, está “bem-intencionado”.

Os comentários de Campos Neto surgem na esteira de atritos entre o governo e o BC neste início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente do BC vem sendo criticado por membros do governo e pelo próprio Lula por manter a Selic em 13,75% ao ano, sem passar indicações claras de quando o ciclo de cortes poderá começar.

Aos jornalistas, Campos Neto afirmou que o BC está fazendo um trabalho técnico na condução da política monetária. De acordo com o presidente da autarquia, é preciso comunicar à sociedade que o trabalho do BC com os juros tem um custo de curto prazo.

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“Nosso processo aqui não tem nenhum componente político. É estritamente técnico”, afirmou Campos Neto, ressaltando que o custo para combater a inflação é alto e é sentido no curto prazo. “Nosso trabalho é explicar por que existe autonomia e por que isso é importante para a sociedade.”

Ao mesmo tempo, ele defendeu que a autonomia do BC é importante justamente para a tomada de decisões sobre a Selic e o combate à inflação, sem que se incorra em custo maior no longo prazo.

Questionado sobre os principais documentos de política monetária do BC – o comunicado e a ata do Copom – Campos Neto novamente destacou o caráter técnico.

“Acho que a ata, de certa forma, sempre tem dimensão técnica, de tentar explicar o que foi feito tecnicamente. E ela incorpora alguma correção, alguma explicação que precisava ser dada em relação às incertezas desde o comunicado”, afirmou.

Meta – Questionado sobre a possibilidade de mudança nas metas de inflação, Campos Neto pontuou que o governo possui dois votos no Conselho Monetário Nacional (CMN), órgão responsável pelos parâmetros, enquanto o BC possui apenas um voto.

“A gente não determina a própria meta de inflação; quem determina é o CMN”, afirmou, lembrando que o BC tem apenas a autonomia operacional para perseguir a meta autorizada pelo governo, e não o poder de determiná-la.

Em fevereiro, a reunião do CMN foi precedida por especulações, em Brasília, de que o conselho poderia alterar a meta de inflação estabelecida para 2023, de 3,25%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

Autarquia enxerga sistema financeiro “supercapitalizado”

Brasília – O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que a autarquia tem instrumentos para injetar liquidez ou fazer algum ajuste no mercado de crédito, se necessário, mas acrescentou que não é possível adiantar se haverá redução de compulsórios e frisou que o sistema financeiro está “supercapitalizado”.

“Não tem como especular sobre o que vai ser feito, depende de como vai ser o desenvolvimento dessa crise internacional no Brasil. Hoje a gente não está vendo um problema de liquidez”, afirmou Campos Neto ao ser questionado se o BC estuda reduzir os compulsórios em meio ao esfriamento do mercado de crédito.

Campos Neto afirmou que o BC está acompanhando de perto a performance do crédito no país em meio às turbulências no mercado bancário internacional desencadeadas pela quebra de dois bancos regionais dos Estados Unidos. “Existe sim uma preocupação, obviamente, com o que está acontecendo e como vai ser a contaminação”, afirmou.

Ele ponderou, contudo, que nos EUA os bancos regionais têm critérios mais frouxos do que os bancos grandes, o que não acontece no Brasil. Ainda assim, afirmou que o BC tem alguma preocupação com segmentos específicos de crédito.

Campos Neto destacou as debêntures, monitoradas “com bastante cuidado”, e também o excedente sacado, produto ligado ao caso da Americanas, que ele disse ter sofrido uma queda, mas que já está se recuperando.

“O Banco central está preparado se entender que nessa parte de liquidez existe algum problema, mas não acreditamos que este é o caso nem será o caso.”

Campos Neto acrescentou que a autarquia tem uma agenda estrutural de longo prazo que mira dar mais instrumentos aos bancos para captar liquidez, o que abre espaço para a redução dos compulsórios. O BC também tem como objetivo viabilizar a redução do crédito direcionado, afirmou.

Campos Neto ressaltou a importância da separação entre os instrumentos de política monetária – a taxa de juros – e aqueles voltados para a estabilidade financeira – as chamadas medidas macroprudenciais. Nesse sentido, ele notou que, na Europa, houve aumento de juros mesmo em meio às preocupações com o sistema bancário diante da crise.

“Entendemos que essa é a melhor forma de atuar”, afirmou. (Reuters)

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