Emerge conecta universidades e empresas
                            O modelo de tripla hélice de inovação, que se refere a interação entre academia, indústria e governo, para fomentar o desenvolvimento econômico e social, é um clássico, porém, no Brasil ainda encontra sérias dificuldades.
A desconfiança e os conflitos entre empresas e universidades atrasam o desenvolvimento de soluções e a melhoria e lançamento de novos produtos e serviços que poderiam dar mais qualidade de vida à população. Esses entraves ainda contribuem para dificultar o acesso a recursos privados que poderiam irrigar pesquisas e outras atividades nos campi universitários.
Atentos a esse cenário, dois jovens empreendedores mineiros – Daniel Pimentel e Lucas Delgado -, formados por universidades federais do Estado, fundaram a Emerge, empresa que faz a conexão entre as universidades, por meio de projetos científicos de pesquisadores, e grandes empresas.
De acordo com Pimentel, a Emerge é uma consultoria que trabalha com deep techs – startups que se dedicam a desenvolver novas tecnologias por meio de testes e pesquisas aprofundadas em áreas como matemática, física, engenharia e biologia. As deep techs não têm só o desafio de mercado, mas também o desafio técnico para conseguir prosperar.
“Fizemos parte do movimento de empresas juniores e vimos que para fomentar a interação empresa-academia precisávamos estimular as universidades. O Brasil tem ciência e empreendedorismo, mas isso não é convertido em inovação e produtividade. Estimulamos os cientistas a abrirem empresas, mas os negócios baseados em ciências têm desafios próprios: os cientistas não têm conhecimento sobre o mercado e são negócios de capital intensivo atrelado ao risco. Mudamos, então, o modelo de negócio para grandes empresas, focando em transferência de tecnologia”, explica Pimentel.
O papel de Emerge é juntar a empresa que precisa de uma solução tecnológica ao cientista e universidade que pode já ter feito esse desenvolvimento ou ter pesquisas com potencial para tal. De outro lado, profissionalizar o mercado de transferência tecnológica.
No caso da Emerge, são três modelos de negócios: consultoria de inovação para grandes empresas; treinamentos e programas com universidades e centro de pesquisas no Brasil para os cientistas vislumbrarem como podem, de fato, percorrer o caminho da inovação e do empreendedorismo. Também criaram veículos de investimento para aportar capital e compartilhar know how com cientistas que querem empreender.
A empresa utiliza técnicas de prospecção tecnológica, bibliometria e patentes, além de parcerias com as universidades. Ferramentas tecnológicas permitem levantar quem está trabalhando com qualquer tecnologia no Brasil e no mundo, chegando a grupos de pesquisa não óbvios e, aí a partir daí, às startups e universidades.
Até agora a Emerge já trabalhou com mais de 2.500 cientistas de universidades brasileiras conectando com empresas como Ache, Natura, Eurofarma, Novartis, Boticário e outras. O último projeto foi um mapeamento sobre biodiversidade na Amazônia. Estamos também em busca de outras tecnologias que utilizem insumos de outros biomas brasileiros – Pantanal, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica e Pampa.
“Para que o nosso trabalho dê certo, é preciso um trabalho de consultoria. Entender a estratégia e a demanda da companhia que nos chama. A partir dessa compreensão, estruturamos a busca. Não temos setor nem linha tecnologia definida. Todo projeto a gente traz um especialista de uma universidade. A indústria traz a demanda tecnológica. O cientista parceiro traz o olhar técnico. E, do ponto de vista do País, precisamos também que o governo crie políticas públicas que fomentem essa relação”, descreve o sócio-fundador da Emerge.
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