Inadimplência avança 0,57% na Capital

O índice de inadimplência em Belo Horizonte voltou a crescer em fevereiro. Na comparação com janeiro, o aumento foi de 0,57%, registrando o maior avanço para o período desde 2019. Já em relação ao mesmo mês de 2022, o indicador passou de 2,82% para 3,65% de inadimplência. Os dados foram divulgados pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL/BH).
O presidente da CDL/BH, Marcelo de Souza e Silva, explica que a capacidade de pagamento dos belo-horizontinos está reduzida, causando um aumento no número de devedores. “A inflação alta em fevereiro e o Carnaval diminuíram a capacidade de pagamento das famílias, levando a dificuldades de honrar os seus compromissos financeiros”, relata.
Sobre o aumento frente ao mês anterior, a economista da entidade, Ana Paula Bastos, conta que foi causado por uma base de comparação forte – já que os efeitos do 13º salário perduram em janeiro, gerando um maior número de débitos quitados – e pelos efeitos do Carnaval, que puxam os gastos para cima e reduzem os dias úteis durante o mês de fevereiro.
Quanto à elevação na comparação com fevereiro do ano passado, ela destaca o ambiente atual de inflação mais pressionada e a taxa de juros mais elevada como alguns dos principais motivos. A economista explica que a inflação no patamar atual gera uma redução na renda disponível para quitação dos débitos, enquanto a alta dos juros encarece a dívida, dificultando sua negociação. Ana Paula Bastos ainda esclarece que a Selic em 13,75% dificulta o acesso ao crédito para quem não está endividado e encarece a negociação para aqueles que estão.
Ela também lembra que as pessoas já estão vindo de um alto nível de endividamento e que os consumidores estão optando por gastar mais com bens de primeira necessidade. Ana Paula Bastos revela ainda que esse aumento da inadimplência serve como um indicador de que as pessoas estão ficando cada vez mais endividadas. “Isso acende um alerta, porque essas pessoas ficam fora do mercado de crédito. Então isso tem impacto no consumo, principalmente, de bens de maior valor agregado que demandam crédito”, aponta.
A economista da CDL/BH destaca que caso os programas do governo federal de renegociação de dividas, como o Desenrola Brasil saiam do papel, eles poderão gerar um grande impacto positivo no índice de endividamento das pessoas.
Enquanto no caso da inadimplência, Ana Paula Bastos explica que está mais ligada ao comportamento do mercado de trabalho. “Então, se a gente gera mais empregos e a atividade econômica fica um pouco mais aquecida, a tendência é que essa inadimplência caia”, conclui.
Perfil do endividado
A população mais endividada em Belo Horizonte são as pessoas com idades entre 65 e 95 anos, com uma concentração de dívida de 13,62%. Isso se deve ao volume de contas principais da casa, redução da renda ao se aposentar e despesas mais altas com saúde.
Por outro lado, os jovens entre 18 e 24 anos são os que possuem a menor concentração de dívidas (-2,12%). Vale lembrar que esse grupo ocupou a maior parte das vagas de empregos geradas no período, aumentou a renda e, consequentemente, teve uma melhora em sua capacidade de pagamento. Todos esses fatores possibilitaram a quitação ou a negociação de contratos atrasados.
Na análise por gênero, a inadimplência entre as mulheres cresceu 2,68% frente a fevereiro do ano anterior, enquanto entre os homens, o indicador ficou em 1,71%. Esse aumento no caso das mulheres é resultado de uma maior taxa de desocupação – 9% para o gênero feminino e 5,7% para o masculino – e pelo fato do rendimento dos homens serem 36,25% superior ao das mulheres; com uma média salarial de R$ 4.225, para eles e R$ 3.221, para elas.
A pesquisa também revelou que o indicador do número de dívidas por CPF no mês de fevereiro registrou 12,67%. Isso representa um avanço de 3,91 pontos percentuais se comparado com o mesmo período de 2022 (8,76%). Enquanto na comparação mensal houve um aumento no número de dívidas por pessoa, sendo que em fevereiro o índice era de 1,51% e, em janeiro, -0,1%.
Os jovens entre 25 e 29 anos concentram o maior número de dívidas por CPF, com 19,78%; enquanto os adultos de 65 a 94 anos registraram a menor quantidade (10,85%). Ana Paula Bastos conta que essa ampliação do volume de dívidas entre os jovens é causada pelo número de contratos inadimplentes dos créditos educativos, custo do cartão de crédito e da alta taxa de juros. “Tudo isso tem dificultado a negociação dos valores de financiamento estudantil e demais contratos”, afirma.
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