Empresa tem que fazer trabalho preventivo

Nos tempos atuais, situações de exaustão e estresse crônicos provocados por excesso de trabalho se tornam cada vez mais comuns e deixam as pessoas mais suscetíveis à síndrome de burnout. Burnout significa esgotamento e é algo que pode se manifestar em trabalhadores que vivem uma rotina desgastante e não conseguem administrar essa situação de forma saudável.
De acordo com Karine Cavalcanti, especialista em Recrutamento e Seleção e sócia fundadora da Conceito 3W, consultoria de solução em pessoas, é preciso que o RH esteja atento à saúde mental dos colaboradores, mapeando e corrigindo situações que possam levar ao burnout.
“Em muitas empresas a área de RH ainda é vista como uma área operacional e que trabalha de forma reativa. Ou seja, atuando em demandas e problemas que acontecem no dia a dia. Mas a verdade é que a área de RH tanto se transformou em Gente e Gestão (e esse é um novo termo muito utilizado, ou Pessoas e Cultura) exatamente para poder trabalhar de uma maneira preventiva, proativa”, explica.
Segundo Karine Cavalcanti, a ideia é fazer com que o RH seja realmente uma área que cuida de pessoas e não só de processos. “E cuidar das pessoas significa cuidar de tudo que está ao redor delas, a saúde por exemplo”.
O conteúdo continua após o "Você pode gostar".
A especialista enfatiza que um RH proativo antecipa-se de possíveis problemas e não espera situações extremas acontecerem para agir. “Sabemos que o enfrentamento das doenças e a superação delas são questões muito pessoais, mas existem medidas preventivas que a empresa pode tomar para evitar o surgimento de transtornos internos e, ainda, amenizar as consequências deles no ambiente de trabalho”, afirma.
Confira três sugestões simples e econômicas que a área de RH das empresas pode implementar para ajudar a cuidar da saúde mental dos times:
1) Ofereça benefícios de saúde
Optar por uma boa cartela de benefícios para o time é uma estratégia que ajuda a manter a saúde física e mental dos colaboradores e ainda é econômica do ponto de vista financeiro. Isso porque os impostos calculados em cima dos benefícios são menores do que em cima da receita de salários.
“Apostar em benefícios para a saúde mental dos colaboradores é uma excelente estratégia para conseguir reforçar a importância de cuidar da saúde mental do seu time. Enquanto existem empresas que estão olhando para benefícios voltados para o entretenimento e outras coisas, alinhar o pacote de benefícios de uma empresa ao bem-estar mostra que existe uma cultura que foca em saúde, algo muito valorizado hoje pelos colaboradores”, sugere Karine Cavalcanti.
A principal dica da especialista é o uso do cartão flexível. “Eles proporcionam uma gama de parcerias e descontos super interessantes para todas as categorias, incluindo saúde mental”, diz.
2) Prepare e humanize seus líderes
Invista em ensinar os seus líderes a falar sobre emoções e como os seus colaboradores estão se sentindo. Esse é um dos caminhos mais assertivos para conseguir mapear potenciais riscos de saúde mental.
3) Eduque seu time sobre produtividade
Muitos profissionais acreditam que sentar em frente a um computador por 12 horas é sinônimo de produtividade, mas, o que importa mesmo no final do dia é a quantidade e a qualidade das entregas. Deixar isso claro para líderes e funcionários, estimulando uma cultura que valorize mais a produtividade do que as horas de trabalho em si é muito importante para ajudar a cuidar da saúde mental dos colaboradores e, consequentemente, da saúde empresarial.
Demissão por doença grave em xeque
Sem uma lei específica que trate sobre a manutenção do vínculo trabalhista após o paciente retornar de um tratamento contra o câncer ou doença grave, muitas pessoas enfrentam dificuldades para se manter no mercado de trabalho.
Por outro lado, a demissão, nesses casos, pode ser considerada como um ato discriminatório. “O Tribunal Superior do Trabalho presume, na Súmula 443, que a demissão do empregado portador de doença grave (como câncer e HIV) que suscite estigma ou preconceito é discriminatória”, ressalta a advogada especialista em saúde, Claudineia Jonhsson.
“Não há uma lei que tipifique como crime a demissão relacionada às doenças. Mas se ficar comprovado o ato de discriminação evolvendo esses desligamentos da empresa, adentramos na esfera criminal, por sua expressa tipificação legal. Sendo, nestes casos, direito do trabalhador requerer reintegração do emprego por meio judicial”, reforça Claudineia Jonhsson.
Não obstante, dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), com base em registros de hospitais de câncer e populacionais, mostram que, no Brasil, ao menos 700 mil pessoas são diagnosticadas com a doença anualmente. Em 10 anos, o salto foi de 28%, passando de um quadro de 428 mil pacientes sendo tratados, para 625 mil entre 2010 e 2020.
Dos 625 mil novos casos, 50,3% acometem homens e 49,7% mulheres. O câncer de pele não melanoma, seguido por mama, próstata, cólon e reto, pulmão e estômago é o que mais atinge a população. O Nordeste tem a maior incidência de câncer de próstata, com taxa de 72,35 a cada 100 mil habitantes. E o Sudeste concentra o maior número de casos de câncer de mama, com 81,06 a cada 100 mil habitantes.
Com esse cenário, a lei mais uma vez auxilia o paciente, que fica isento de comprovar que a demissão foi motivada pela doença e a empresa tem o dever de provar que a dispensa foi por outro motivo.
“A base legal está descrita no artigo 1º da Lei 9.029/95, que proíbe condutas que possam impedir o acesso ao emprego ou à manutenção desse emprego em razão de diversas práticas discriminatórias, dentre as quais podemos incluir o câncer”, finaliza Claudineia Jonhsson.
Ouça a rádio de Minas