EDITORIAL | Obra que não anda

A duplicação da BR-040, ligação por terra entre o Rio de Janeiro e Brasília passando por Belo Horizonte, é assunto que está em pauta há pelo menos meio século e sem que tenha avançado além do trecho entre Rio e Juiz de Fora. Absolutamente não há como explicar, menos ainda justificar, atraso nessas proporções e que resiste até mesmo à privatização e ao recolhimento de pedágio, o que torna a questão bem próxima de mais um grande escândalo. Notadamente no crítico trecho entre Belo Horizonte e Conselheiro Lafaiete, em que as melhorias deveriam estar há muito concluídas, impactado pelo pesado tráfego de caminhões que transportam minério de ferro, representando riscos para os próprios e todos os demais usuários.
Nesse particular, a omissão das autoridades públicas assume proporções ainda mais contundentes. Faz tempo, pressionada pelas circunstâncias, a então Companhia Vale do Rio Doce assumiu a responsabilidade de construir no trecho uma via paralela, fechada, destinada a absorver todo o trânsito de minério de ferro. Parte do problema, justamente a pior, estaria assim resolvida se não tivesse esbarrado em impedimentos ambientais que obstaram sua conclusão e entrega, apesar dos evidentes e recorrentes prejuízos, certamente bem maiores que os danos ambientais apontados quase num capricho, além de intransigência por completo descabida.
Um quadro conhecido e tão grave que volta a mobilizar a Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais e do Brasil ( Amig ), que acaba de criar um grupo de estudos e trabalho que visa buscar soluções para a questão, focado principalmente na segurança e consequente redução de acidentes no trecho. Um movimento oportuno, inclusive, porque indiretamente chama atenção para a questão maior, abordada no início deste comentário. Lembrando que o novo governo já apontou entre suas prioridades justamente a retomada de obras inacabadas e cabe lembrar a duplicação da BR-040, que depende exclusivamente de ajustes com a concessionária, retomada do contrato ou nova licitação.
Conforme dito acima, passado tanto tempo, é de todo inaceitável que nada tenha sido feito com relação ao destino da principal ligação rodoviária com a Capital Federal, questão que está colocada desde a inauguração de Brasília, em 1960. Nada, absolutamente nada, justifica tamanho descaso, fazendo crer que o movimento desencadeado pelos municípios mineradores abre uma janela para que o tema volte à pauta, com aderência de outras entidades, do governo estadual e da bancada mineira no Congresso. Continuar esperando passivamente pela boa vontade das autoridades federais deve ser o único ponto fora de questão.
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