Variedades

Ratton adapta conto de Murilo Rubião

Ratton adapta conto de Murilo Rubião
Crédito: Bianca Aun

Em seu novo longa-metragem, “O Lodo”, o diretor mineiro Helvécio Ratton adapta o conto homônimo de Murilo Rubião, marcado por uma atmosfera gótica com algo de kafkiano e sufocante. Produzido pela Quimera Filmes e distribuído pela Cineart Filmes, a obra estreia hoje nos cinemas brasileiros.

“O que mais me atraiu no conto foi a naturalidade com que Rubião insere o absurdo na vida dos personagens, à maneira de Kafka. No filme, há uma tensão crescente entre a narrativa realista e a sucessão de acontecimentos insólitos na vida do protagonista. Por um lado, tudo está em seu lugar, a vida parece seguir seu curso normal. Mas, por trás dessa normalidade aparente, irrompe o absurdo, com sua própria lógica, e nos desconcerta.”, explica o diretor Helvécio Ratton.

O protagonista é Manfredo (Eduardo Moreira), funcionário de uma empresa de seguros, sempre preso a funções burocráticas, que começa a se sentir deprimido e busca ajuda de um psiquiatra, o Dr Pink (Renato Parara).

O roteiro foi escrito pelo próprio Ratton e L. G. Bayão, e transita entre diversos gêneros, combinando realismo e fantasia. “Sonho e realidade se misturam no filme, as fronteiras entre eles são fluidas, às vezes quase imperceptíveis. O Lodo mistura suspense, humor, horror… Minha ideia é colocar o espectador na mente do protagonista, em seu mundo cada vez mais estranho e claustrofóbico”, ressalta Ratton.

O elenco conta com vários atores e atrizes do Grupo Galpão, e a interação entre o elenco, dada sua longa parceria no palco, rende ao filme ótimas interpretações, especialmente de Eduardo Moreira e Inês Peixoto, como irmã do protagonista que chega, no meio da história, com um estranho garoto na casa dele. Ela é uma personagem ardilosa, eco do passado de Manfredo, que chega para se aliar ao Dr Pink. A fotografia de Lauro Escorel sublinha a atmosfera da trama, que em sua maior parte está em ambientes fechados, ressaltando a asfixia emocional do protagonista.

“Foi um desafio encontrar a linguagem adequada para contar no cinema essa história realista e absurda ao mesmo tempo. Tive ao meu lado uma equipe afinada, com muita gente talentosa e experiente, com quem já fiz outros filmes, e esse entrosamento fez muito bem a O Lodo. E foi um privilégio contar com atores do Grupo Galpão e outros ótimos atores de Minas, o que me permitiu fazer um trabalho intenso antes da filmagem e encontrar o tom certo da interpretação”, afirma o diretor.

Exibido na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, o filme recebeu ótimas críticas. “Existem algumas razões para supor que O Lodo seja o melhor trabalho do diretor Helvécio Ratton. Talvez a mais óbvia delas seja a boa direção de atores. Talvez a mais importante seja a maneira como Ratton consegue, aqui, transitar entre o mundo cotidiano e o dos pesadelos que assombrarão seu protagonista,” escreve Inácio Araújo, no jornal Folha de S. Paulo.

“A inteligência do conto original, muito bem compreendida por Helvécio Ratton, está em situar no mundo físico as questões que se passam na mente de Manfredo. O trânsito do onírico para o concreto se dá pela via do insólito, terreno fértil na obra de Murilo Rubião,” comenta o crítico Carlos Alberto Mattos.

Helvécio Ratton é mineiro e mora em Belo Horizonte. Estreou na direção filmando no hospício de Barbacena o documentário “Em Nome da Razão”). Dirigiu “A Dança dos Bonecos” (1986) e “Menino Maluquinho” (1995), filmes que marcaram o cinema brasileiro por tratarem o público infantil com sensibilidade e inteligência. Na comédia de costumes “Amor & Cia” (1998), trouxe para o cinema a crítica social e o humor fino do escritor português Eça de Queiroz.

Em “Uma Onda no Ar” (2002), Ratton se inspirou na história da Rádio Favela, rádio pirata criada por jovens negros em uma comunidade de Belo Horizonte. “Batismo de Sangue” (2007), baseado no livro de Frei Betto, trata de acontecimentos passados durante a ditadura militar no Brasil. “Pequenas Histórias” (2008) usa magia e humor para encantar adultos e crianças e marca o retorno do cineasta ao universo infantil.

O documentário “O Mineiro e o Queijo” (2010) aborda, de forma política e poética, as contradições que cercam o queijo Minas Artesanal, tombado como patrimônio cultural e impedido de circular no Brasil. Dirigido ao público infanto-juvenil e inspirado em fatos e lendas de nossa história, “O Segredo dos Diamantes” (2014) conta a aventura de um garoto que busca um tesouro do século 18 para salvar a vida do pai. “O Lodo” (2023), adaptação livre do conto homônimo de Murilo Rubião, é um thriller fantástico sobre um homem comum que procura um psiquiatra para tratar uma depressão e sua vida se transforma num verdadeiro inferno.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas