De volta a Araxá

Rogério Faria Tavares*
Terra de dona Beija (imortalizada na obra do acadêmico Agripa Vasconcelos), dos poetas Chico e Maria Lúcia Alvim (filhos do prefeito Fausto Alvim), dos escritores Leila Ferreira e Luiz Humberto França, e do acadêmico Olavo Drummond, Araxá é também o lar adotivo da excelente Líria Porto, cuja refinada obra poética todos deveriam conhecer. Município que estima a literatura (é sede do Fliaraxá, comandado pelo competente Afonso Borges), é, ainda, conhecido pelo poder de suas águas, local para descanso, cura e lazer.
Sempre presente nas memórias afetivas de minha infância, foi um dos lugares prediletos de meus pais. Não foram poucos os janeiros e os julhos que passei no chamado “Barreiro”, andando de bicicleta, nadando, correndo e trocando figurinhas com os amigos. Habitada por uma população cordial e hospitaleira, sua história não seria a mesma, no entanto, sem o majestoso Grande Hotel, idealizado por Benedito Valadares e Getúlio Vargas como o centro de um grande complexo turístico, de cassinos e termas, estas inauguradas em 23 de abril de 1944. Em “O diamante líquido – História, memória e turismo na cidade balneária de Araxá” (Editora da Universidade Federal de Uberlândia, 376 páginas), fruto da tese de doutorado da ótima pesquisadora Glaura Teixeira Nogueira Lima, leio: “A estância do Barreiro tornou-se um atrativo em que imperaram esplendor, inefável beleza e serviços de hotelaria altamente qualificados. Foi frequentada por hóspedes de prestígio, gerentes exímios e funcionários especializados (mestres de cozinha, garçons, barmen, recepcionistas, manobristas, crupiês, dentre outros) e por determinados grupos sociais dela orgulhosos. Nessa proximidade reafirmou-se a convicção de que o que existe de apuro externo em projetos dessa natureza fora do país pode ser visto também aqui, acrescido de características próprias, principalmente aquelas relativas às identidades mineira e local”.
Pois foi exatamente essa a experiência que tive, há alguns meses, ao revisitar o lugar. O Grande Hotel está de volta, no auge de seu brilho, oferecendo ao público experiência de primeira linha, que conjuga os altos padrões globais de atendimento ao melhor da tradição mineira – que é receber com carinho e de modo personalizado, atento e atencioso. É o que pude notar em todos os detalhes, sobretudo na gastronomia, que reúne pratos internacionais e as delícias da cozinha mineira (principalmente de seus doces). Patrimônio histórico e cultural, o hotel ainda guarda preciosas obras de arte e uma biblioteca charmosíssima, detentora de acervo valioso, aberto à consulta. Poucas coisas me encantam mais que um hotel que mantém uma biblioteca – não num cantinho escondido e envergonhado, mas num de seus cômodos principais, como em Araxá.
Se Sabrina e eu aproveitamos ao máximo os banhos e a mítica piscina de água emanatória, Carlos e Gabriela não pararam um minuto, entretidos todo o tempo pelas atrações e pela beleza do lugar. Minha palavra final é de homenagem à equipe do hotel (na qual está a excelente Fernanda Bicalho), que não perde uma oportunidade de ser amável e delicada. Em tempos tão brutos e intolerantes como os que vivemos hoje, o que pode ser melhor que isso?
* Jornalista. Doutor em literatura. Presidente da Academia Mineira de Letras
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