EDITORIAL | O passado nos ensina

O financiamento da economia industrial, a partir do século XVII, foi realizado a partir do ouro extraído em terras brasileiras, remetido a Portugal de onde, considerada a hegemonia político-econômica de então, chegou à Grã-Bretanha. São os registros da história que nos fornecem a melhor e mais importante perspectiva da importância para o planeta do metal extraído do Brasil, então o maior produtor mundial. O ciclo do ouro também nos conta a história – foi curto e rápido – essencialmente por conta dos métodos de extração superficial e manual. Isso significa dizer que as terras auríferas foram apenas arranhadas, sem que o principal de sua riqueza tenha sido alcançado.
E continua por ser alcançado. Hoje, o Brasil sequer fica entre os mais importantes produtores mundiais de ouro e inexistem medições amplas e confiáveis sobre o volume de reservas depositadas em território nacional. Pior. A maior parte da produção se dá em escala informal, quase sempre clandestina, com o resultado da atividade passando de mão em mão até chegar ao exterior sem nunca ser alcançada pelo fisco. As perdas consequentes são imagináveis, bastando para isso ter em conta a escala do garimpo clandestino em terras yanomamis que ganhou grande evidência no início do ano.
No passado, involuntariamente, a maior das riquezas nacionais acabou contribuindo para o surgimento e fortalecimento das grandes economias globais ao mesmo tempo em que ajudou a empobrecer o país e sua população. Poderia e deveria ser diferente agora como consequência esperada da soberania nacional e de políticas orientadas para sua exploração racional. Combater a mineração clandestina, que possivelmente já está contaminada pelo crime organizado, é questão imperativa, assim como a proteção das terras indígenas. Mas é preciso enxergar mais longe, de pronto avançando no controle da comercialização e coibindo o contrabando. E tudo isso com uma visão bem mais larga.
Cabe entender o potencial dessa atividade econômica na qual o Brasil reúne condições para voltar a ocupar posição destacada no cenário mundial, com ganhos mais que relevantes para sua economia. Tudo isso no exato momento em que buscamos alternativas para o crescimento, para a geração de riquezas que ajudem a financiar investimentos, no campo social inclusive, que são apontados como essenciais e destinados a corrigir distorções que atingiram escala inaceitável. O ouro bem poderá ser uma das mais importantes respostas aos desafios que estão colocados.
Ouça a rádio de Minas