DC LIVROS | 29/04

O romance ‘esquecido’ de Machado de Assis
Considerado por muito tempo um “romance esquecido” de Machado de Assis, “Casa Velha” foi a única narrativa não publicada em forma de livro enquanto o autor era vivo. Lançada primeiramente como folhetim entre 1885 e 1886 pela Revista Carioca, a obra que é um retrato dos traços da primeira fase literária do autor, permaneceu no esquecimento durante décadas até ser resgatada, em 1943, por críticos literários e pesquisadores. Com uma nova edição integral revisada pela Via Leitura, selo do Grupo Editorial Edipro, nesta obra o leitor acompanha as lembranças de um padre que investiga documentos sobre o Primeiro Reinado na residência de um falecido ministro: ele descobre uma história de amor incestuosa entre o herdeiro Félix e a agregada da casa, Lalau, e faz um balanço das perdas e ganhos dessa paixão. Ao longo de dez capítulos, Machado de Assis sugere que há um grande paralelo entre as esferas públicas e privadas da vida e mostra como um drama familiar pode ser um retrato fidedigno do Brasil no século XIX. Embora este título tenha sido publicado postumamente na fase realista do autor, ele ainda apresenta os principais temas abordados no ápice de sua escrita romântica. (Casa Velha, Machado de Assis, Via Leitura – Grupo Editorial Edipro, 80 páginas, R$ 26,90)

A literatura cabocla de Everaldo Gonçalves
O livro “O fetiche do ouro e a pedra milagrosa na filosofia caipira” apresenta uma versão acurada do professor Everaldo Gonçalves sobre o garimpo de ouro no Brasil. Em seus contos, o materialista resgata a história do mineral desde o século XVIII, o extrativismo nas Minas Gerais, até os dias atuais, de garimpo criminoso na Amazônia. Ex-professor da USP e da UFMG, ele mergulha em suas lembranças de menino na localidade paulista onde nasceu, Iracemápolis, em 1944. Da região em que havia única indústria de cana-de-açúcar, a Usina Iracema, o autor traz o “dialeto caipira”, o “caipirês”, falado pelos antigos habitantes do então distrito de Limeira. (O fetiche do ouro e a pedra milagrosa na filosofia caipira, Everaldo Gonçalves, 140 páginas, R$ 24,90 – eBook) | R$ 49,90 – físico)

A pluralidade de correntes no Liberalismo
Contribuir com a pluralidade liberal seja reconhecida e respeitada, produza frutos e se consolide no debate público é a motivação do jornalista e presidente do Instituto Liberal, Lucas Berlanza, na obra “O Papel do Estado Segundo os Diversos Liberalismos”, lançamento da Editora Almedina Brasil. O livro apresenta as histórias das correntes liberais e, segundo o autor, traz luz às discussões ofuscadas por reducionismos.O título acolhe a existência de diversos liberalismos como galhos de uma mesma árvore e é um convite à serenidade na avaliação dos recém-chegados a esta proposta teórica e movimento político. Isso porque é comum adotar uma postura de simplificação do papel do Estado Liberal sem, muitas vezes, considerar que o pensamento por esse viés não está alheio ao contexto histórico de cada época. Berlanza revisita o whiggismoe a filosofia de John Locke, bem como alguns dos afluentes iluministas verificados em Voltaire, Montesquieu e Kant, realça as contribuições essenciais de Adam Smith e observa os complexos desafios representados pelo pensamento rousseauniano e pelos artífices da Revolução Francesa, além do apelo à prudência conservadora que remete a Edmund Burke. O livro relaciona grandes pensadores do século XIX que refletiram sobre as atribuições do Estado, as prerrogativas do indivíduo e as conformações assumidas pela democracia, como o alemão Humboldt, os liberais doutrinários, Tocqueville, Gladstone e o Partido Liberal britânico. Do liberalismo ibérico, com a Constituição de Cádiz e os movimentos de emancipação da América Hispânica de um lado, e o liberalismo luso-brasileiro do outro, a obra avança para o manchesterianismo e o spencerianismo, símbolos do livre-cambismo e da retração estatal. (O Papel do Estado Segundo os Diversos Liberalismos, Lucas Berlanza, Editora Almedina Brasil, 380 páginas, R$ 129)

Brasil genocida? A gênese de uma sociedade hostil
“Extermínio”, publicado pela Editora Planeta, é uma verdadeira imersão no passado violento que corre no sangue de cada brasileiro. Cientista social e mestre em Ciência Política, Viviane Gouvêa apresenta evidências de que a violência hoje incutida no Brasil não surgiu sem motivo e a origem desta sociedade hostil e institucionalizada é histórica. Por isso, o protagonista desta obra é o Estado, aquele que deveria proteger os cidadãos, mas tem uma tendência a equacionar conflitos com o uso da força, do tiro e da tortura.Passados os 200 anos da Independência, a escritora se utiliza de uma linguagem acessível para expor partes macabras do passado, e revelar feridas que hoje refletem na sociabilidade nacional. Viviane Gouvêa explica que, apesar de contemplar os períodos ditatoriais, concentrou a pesquisa em episódios do regime democrático “raramente debatidos, à luz das limitações inerentes a uma democracia de fachada, sempre válida para poucos”.A obra é dividida em oito capítulos-chave. (Extermínio: duzentos anos de um Estado genocida, Viviane Gouvêa, Editora Planeta, 255 páginas, R$ 61,90)
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