Cultura Inclusiva: onde o assédio não tem vez

Vera Lucia Silva*
Com os pés no chão e sem romantizar, precisamos mergulhar nas dores e cicatrizes de nosso tempo, assimilar os desafios e entender que a evolução e transformação demandam tempo, mas, sobretudo, ações concretas e imediatas. Com isso, compreender que em uma sociedade complexa, as soluções não são únicas e que na beleza da diversidade estão algumas de nossas respostas. Como diversidade, equidade e inclusão devem andar lado a lado, ao refletir sobre o assédio, trago comigo uma certeza: a cultura inclusiva é um alicerce para o combate a este tipo de comportamento, que deixa marcas profundas.
É sempre oportuno reforçar que o assédio de qualquer tipo é um ato criminoso, que fere os Direitos Humanos. Termos uma legislação que tipifica essas condutas como crime é um avanço, que nos permite sair da barbárie e aumentar o nosso nível de civilização.
A caminhada é longa e as lições aprendidas não devem ser desconsideradas, Elas que fazem a sociedade evoluir e nos encorajam a seguir adiante. Cito com intencionalidade a coragem, pois enfrentar e propor mudanças em realidades adversas é um ato que exige força.
Acredito que um dos fatores que estimula esta força é a conscientização. Nesse sentido, datas como o 2 de maio, Dia de Combate ao Assédio Moral, são importantes gatilhos e um convite à ampla reflexão. Notamos um espaço maior na imprensa e redes sociais para denúncias sobre assédio. Em minha percepção, houve uma sensibilização da sociedade e um nível de consciência que não tolera atitudes normalizadas no passado.
As organizações têm um papel essencial para promover uma mudança cultural. Creio que esta atuação está diretamente ligada com a promoção de uma cultura inclusiva. Pois, em um ambiente inclusivo não há espaço para o assédio, muito pelo contrário, é um lugar de segurança psicológica.
Deve-se entender, primeiramente, que a diversidade existe na sociedade. Percebemos a necessidade de aumentar essa representatividade nas instituições. É necessário romper barreiras que impedem o acolhimento da diversidade.
Ressalto que o assédio, um dos principais elementos ofensores de uma cultura inclusiva, não acontece somente com grupos minorizados. Qualquer pessoa pode sofrer ou assediar, estabelecendo uma relação abusiva. Nas várias formas de manifestação do assédio moral, o assediador pode estar em um nível hierárquico superior ou ser um colega de trabalho. Já o assédio sexual ocorre quando há uma relação de poder estabelecida. Caso contrário, trata-se de uma importunação sexual, que também é crime.
Não queremos que situações de assédio aconteçam em nosso ambiente, mas entendemos que além de ações preventivas, devemos sensibilizar as pessoas para que saibam como agir ao presenciar o ato, não somente no ambiente organizacional, mas em qualquer lugar.
Por isso, outro aspecto essencial na cultura inclusiva e combate ao assédio são os meios de acolhimento e canais de denúncia. É necessário que as equipes envolvidas estejam preparadas para atuar caso ocorram essas situações, com uma apuração criteriosa e atendimento humanizado. Na Samarco, incentivamos que todo ato que fere a dignidade da pessoa deve ser relatado, independente de quem seja a vítima ou o assediador.
Nas empresas as normas de conduta devem ser amplamente divulgadas. Uma pessoa consciente de seus direitos e deveres é uma forte aliada e guardiã da cultura inclusiva. Por isso, lançamos neste ano, a Política de Direitos Humanos e avançamos diariamente em nosso Programa de Diversidade, Equidade e Inclusão.
Percebemos a importância do envolvimento da liderança. Somente é possível avançar na cultura de inclusão com o engajamento de todos (as), ampliando a consciência e capacitando sobre o que causa dor no outro.
Mais do que tratar a outra pessoa como eu gostaria de ser tratada, é entender como o outro deseja ser tratado. Reitero: a cultura inclusiva é a melhor forma de combater o assédio. Apesar de uma longa jornada pela frente, acredito que o caminho já está apresentado. Seguimos, sempre, um passo de cada vez.
*É gerente-geral de Desenvolvimento Humano e Organizacional da Samarco
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