EDITORIAL | Convite à humildade

O presidente Lula, que tomou posse depois de uma vitória bastante apertada prometendo fazer da reconciliação do País uma de suas primeiras tarefas, parece ter esquecido sua promessa. Seu comportamento, até agora, tem sido errático, em nada lembrando seu primeiro mandato e, pior, chegando em alguns momentos a lembrar o antecessor com atitudes ou declarações tão controversas quanto inoportunas, além de igualmente distantes da “liturgia do cargo” que não pode ser esquecida. E certamente que não estamos falando apenas de formalidades, por mais que elas devam fazer parte da indumentária de quem ocupa a cadeira mais importante do País.
Estamos falando também de pragmatismo, algo que não deve ser ignorado em quaisquer circunstâncias, muito menos por alguém que tem que se haver com opositores cuja conduta, pelo menos da parte de ativistas, vem se demonstrando, para dizer o mínimo do mínimo, um tanto agressiva. Jogar com as mesmas armas não deveria fazer sentido para alguém que também se pretende dono de grande habilidade política. Nessa toada, não nos parece difícil antecipar, Lula não conseguirá mais que perder tempo, com o agravante de fornecer de mão beijada munição a seus opositores, aqueles mesmos que entendem fake news como ferramenta legítima, protegida pela liberdade de expressão.
Dito de outra forma, o presidente da República precisa aprender a ficar calado, sabendo que o silêncio pode e é bem mais útil que declarações ou atitudes insensatas que infelizmente continuam fazendo parte da cena política brasileira. Como, afinal, deixar de perceber que fazer diferente é entrar num jogo em que as chances de perder são sempre maiores? Como se colocar contra o agronegócio de maneira um tanto simplista, deixando de lado o fato de que o setor tem sido responsável pela sustentação da economia nacional? Ele deveria saber que defender a reforma agrária em termos políticos, técnicos e econômicos adequados não significa, nem de longe, defender invasões de terras. Não, com certeza, quando existe espaço institucional para abrigar reivindicações que sejam mais que bandeiras políticas.
Se a própria reconciliação nacional é, de fato, tarefa das mais urgentes no sentido de reunir as forças que possam, em harmonia e convivência, pôr em marcha a tarefa de recuperar a economia e, mais, recuperar valores que foram perdidos ou esquecidos, cabe convidar o presidente Lula para que reflita melhor sobre seu comportamento, suas ambições e suas responsabilidades. Ou que saiba medir mais adequadamente, com humildade, o seu próprio espaço.
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