Opinião

Sobe ou desce? O debate dos juros no Brasil

Sobe ou desce? O debate dos juros no Brasil
Guilherme Almeida, colunista do Diário do Comércio | Crédito: Arquivo Pessoal/Divulgação

Guilherme Almeida*

Olá, leitor! É uma satisfação contribuir com ideias nesse rico espaço. Nesta coluna, serão abordados assuntos de cunho econômico. Eu sou o Guilherme Almeida e espero facilitar o entendimento de temas tão importantes para a dinâmica de nossas vidas. Nessa estreia, vou tratar de um dos assuntos do momento: o patamar dos juros no Brasil.

Muitos apontam que os juros elevados são um problema. E aqui, eu devo discordar: os juros não são o problema, e sim, fruto de diversos problemas, notadamente estruturais. Mas, antes de entrar no aspecto a respeito do patamar dos juros, é preciso conceituar algumas questões fundamentais para o entendimento do debate.

Primeiro: o que são os juros? Em síntese, juros são uma taxa cobrada pelo uso do dinheiro. Seu valor depende de diversos fatores, incluindo a taxa de juros de mercado, o risco envolvido no empréstimo e o prazo da operação.

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Segundo: qual taxa de juros está no centro das discussões? A protagonista da discussão recente é a taxa Selic, sendo sua meta definida pelo Comitê de Política Monetária, o Copom, no âmbito do Banco Central (BC). O que precisamos compreender é que a taxa Selic é usada como referência para a definição das taxas de juros em todo o mercado brasileiro, afetando desde as operações de empréstimo até os investimentos.

Terceiro: como a taxa Selic influencia as taxas de juros praticadas na ponta? A taxa Selic é um dos instrumentos que o Banco Central (BC) tem à sua disposição para a condução da política monetária, isto é, do conjunto de medidas adotadas visando controlar a oferta de dinheiro na economia e influenciar diversos indicadores. Por ser uma referência, quando a Selic sobe, os juros cobrados em empréstimos e financiamentos também tendem a subir. Quando a Selic cai, os juros em empréstimos e financiamentos tendem a cair.

A definição da meta da taxa Selic, hoje em 13,75%, é baseada em uma análise da situação atual e futura da economia brasileira. O objetivo principal do BC é controlar a inflação, mantendo-a dentro da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) que, para 2023, é de 3,25%, mensurada pelo IPCA, indicador oficial de inflação no Brasil.

Aqui surge o questionamento: com a inflação desacelerando, por que não vemos uma redução nos juros básicos? Primeiramente, o objeto considerado para avaliação do nível de preços por parte dos bancos centrais não costuma ser a inflação cheia, e sim, o que chamamos de núcleo da inflação. Esse núcleo fornece uma visão mais estável e duradoura da evolução dos preços ao longo do tempo. Para medi-lo, o BC possui diversos indicadores, sendo que a média desses índices acumula cerca de 8% nos últimos 12 meses.

Outro ponto considerado na análise da autoridade monetária são as expectativas do mercado acerca da inflação futura. E por que o BC deve se importar com o que o mercado espera dos índices de preços? A resposta é que o comportamento das expectativas afeta a definição de preços e salários, presentes e futuros. À medida que se espera uma inflação mais alta à frente, empresas e trabalhadores passam a incorporar tal inflação futura em seus reajustes de preços e salários. Assim, há uma maior elevação de preços no período corrente, e o processo inflacionário é alimentado por essas expectativas. Muito dessas expectativas encontra respaldo no ambiente econômico e na condução da política monetária por parte do Banco Central. Para se ter uma ideia, o último relatório que compila tais expectativas, o chamado Boletim Focus, mostrou que o mercado espera uma inflação de 6,02%, 4,16% e 4% para 2023, 2024 e 2025, respectivamente.

Sem saturar os motivos, perceba, então, que diversos fatores afetam o patamar de juros em uma economia. Especialmente no Brasil, problemas estruturais fazem com que o custo do dinheiro seja elevado. Ademais, um núcleo de inflação ainda apertado, com expectativas longe da meta, faz com que não haja espaço, ao menos no momento, para uma redução. E o que poderia trazer os juros para patamares mais baixos? Justamente o contrário do que foi citado: melhor ambiente econômico, núcleo de inflação reduzido e expectativas ancoradas. Nessa linha, um certo alívio está para chegar, visto que o mercado acredita que a aprovação do novo pacote fiscal pode atender, em partes, esses quesitos, levando a Selic à sua primeira redução no início do segundo semestre.

* Especialista em Educação Financeira no Grupo Suno. Sócio-fundador da Certifiquei, possui experiência como economista, atuando na gestão e elaboração de pesquisas e análises socioeconômicas. Mestre em Estatística pela UFMG.

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