Opinião

Certificações em gerenciamentos de projetos

Certificações em gerenciamentos de projetos
Crédito: Divulgação

Geneviève Poulingue*

Quando o assunto “Certificações em Gerenciamento de Projetos” surge, me vem imediatamente à cabeça 1998 no Rio de Janeiro quando fiz pela primeira vez uma prova de certificação, à época o PMP (Project Management Professional) do PMI. Eu ainda era um recém-formado, estava fazendo o exame basicamente como experiencia. Naquela época o teste era feito à mão, em papel, todo em inglês e disponibilizado no Brasil só duas vezes por ano.

Chegando ao local da prova encontrei mais onze candidatos, dez deles de duas diferentes conhecidas multinacionais e que fizeram cursos preparatórios “in-company” pagos por essas empresas. E mais um que assim como eu iria enfrentar o exame tendo estudado por conta própria. Muitos disseram quer eu corajoso e isso me fez a perceber a importância daquela certificação. Eu ainda era muito jovem e muitos profissionais mais velhos, experientes e de empresas famosas estavam investindo tempo e dinheiro para obtê-la. Essa experiencia foi fundamental para a minha carreira. Mesmo com minha reprovação no exame.

Quatro anos depois eu estaria novamente diante daquela prova, só que mais experiente e preparado, o que me permitiu a certificação PMP e o total entendimento do valor do certificado. Havia um instituto buscando desenvolver uma nova forma de trabalho diferenciada como uma profissão, havia um guia de melhores práticas desenvolvido em conjunto por diversos profissionais, de várias partes do mundo e que viram naquilo uma oportunidade para melhorarem individualmente e coletivamente.  

Para mim, que já trabalhava com gerenciamento de projetos desde estagiário, ter um corpo de conhecimento para me balizar, poder comparar o que eu estava fazendo com outros profissionais na mesma situação, foi fundamental para o desenvolvimento do meu trabalho.

Isso porque mesmo sendo estudante e depois engenheiro civil formado, não achei na época literatura e respaldo na academia para aquela forma de trabalho, o que gerou uma situação no mínimo inusitada: a falta de reconhecimento.

Por mais que eu tivesse certeza de que tinha encontrado o caminho para o desenvolvimento do trabalho que estava realizando, aos olhos dos colegas estudantes e professores da engenharia, ter focado naquilo ao invés da reconhecida profissão de engenheiro não fazia sentido. Escutei na época frases como: “Você trabalha com gerenciamento de projetos? Mas qual tipo de projeto? Elétrico, hidráulico ou estrutural?”. “Você realmente acha que vai trabalhar com cronogramas na sua vida profissional?”. Vários desses mesmos colegas estariam anos depois sentados em uma sala de aula de uma faculdade de negócios, para fazer uma MBA de Gerenciamento de Projetos onde eu lecionava Gerenciamento de Cronogramas, quando esse tipo de trabalho já tinha ganho reconhecimento e credibilidade, e estes profissionais precisavam se atualizar.

E em uma dessas aulas escutei de um ex-colega de sala de engenharia a frase: “Você tinha razão quando viu a importância do Gerenciamento de Projetos, que eu só consegui ver depois.” Essa frase demonstrou com humildade que nem sempre estamos certos, nem sempre o que é tradicionalmente certo e reconhecido será para sempre. E foi com essa mesma necessidade de humildade que eu, várias vezes na minha carreira na agora reconhecida gerência de projetos, precisei admitir que a forma que eu estava acostumado a trabalhar e que tinha dado certo por tanto tempo, deveria ser atualizada para manter a performance.

Então me vi novamente na mesma situação de estagiário, precisando encontrar respostas para novos problemas gerados por novos desafios de mercado. E assim como da outra vez, institutos como Agile Alliance e IIBA (Agile e Análise de Negócios respectivamente) surgiram com respostas às minhas necessidades, através dos seus grupos de profissionais, corpos de conhecimento e consequentes certificações. A grande diferença, dessa vez, é que a academia já abraçara e desenvolvia fortemente o Gerenciamento de Projetos, dando a institutos sérios e comprometidos a possibilidade de mais rapidamente buscar e testar soluções que, se aceitas e comprovadas pelo mercado, poderão posteriormente ter na academia o local para se consolidar.

Portanto, penso que esse pode ser realmente o melhor caminho: profissionais que se juntam para empreender em soluções para os problemas de agora, e a academia consolidado aquelas que realmente funcionaram. Porque solucionar problemas precisa ser de forma rápida, mas credibilidade e reconhecimento só vêm com o tempo.

É necessário entender que as certificações são o resultado de uma cadeia de desenvolvimento de soluções aos novos problemas que as mudanças de mercado exigem, e que por trás há profissionais dedicados à melhoria, corpos de conhecimento resultante de pesquisas e atualizações, e institutos e academias que consolidarão os melhores. Não apenas um papel que se consegue fazendo uma prova. E, por estarem sempre agregando o novo, terminar por ser ferramentas de inovação.

*Economista e reitora da Faculdade SKEMA Business School www.skema.edu

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