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Pampulha: um espelho de BH para o mundo

Pampulha respira arte e cultura | Crédito: Leonardo Morais
Impacto econômico de projeto não ocorre necessariamente no local, mas nas imagens do conjunto arquitetônico que passam a circular pelo mundo

Belo Horizonte foi planejada e criada no final do século 19 para ser uma cidade moderna, industrializada. Mas, nos anos 40, a Capital ainda não tinha decolado nesse propósito, ficando apenas como importante centro administrativo e de comércio e serviços. São Paulo e Rio de Janeiro eram mais atrativas no que se refere ao setor fabril, na instalação de grandes indústrias. 

Além disso, a área dentro da avenida do Contorno não tinha mais espaço para a implantação de grandes fábricas, tanto que a Cidade Industrial, em Contagem, na região metropolitana, emergiu exatamente com essa finalidade. Mas a inovadora Pampulha trouxe ares de modernidade e projetou Belo Horizonte internacionalmente.

De acordo com a professora do departamento de História da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) Júlia Calvo, apesar de a industrialização não encontrar espaço em Belo Horizonte, a capital mineira tinha, na década de 1940, um comércio movimentado, diverso, com importantes representações de marcas. 

As pessoas vinham de regiões distantes para adquirir produtos e serviços na Capital. Havia até alguns prédios modernos e a Feira de Amostras, no local onde é hoje a rodoviária. Mas a cidade ainda tinha a fama de “roça grande” ou “Poeirópolis”, segundo a historiadora.

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“BH foi criada em 1897 para ser uma grande cidade, moderna. Mas, até 1940, isso não acontece. Como não dava pra ter um desenvolvimento industrial, como acontecia nas grandes cidades do mundo, tinha-se a impressão de que aquela modernidade planejada jamais viria”, relata.

Espaço de lazer e turismo

A situação só começou a mudar quando o então prefeito Juscelino Kubitschek de Oliveira, após revitalizar o Centro da cidade, resolve dar continuidade, tirando de vez do papel, a um projeto criado pelo prefeito Otacílio Negrão de Lima nos anos 30: o Complexo da Pampulha. Otacílio iniciou as desocupações na região e represou o córrego Pampulha em 1938. JK ampliou e incrementou o projeto. 

“O JK pensava num espaço de lazer e turismo mesmo, moderno, nas pessoas vindo para BH para conhecer a região. No projeto inicial, tinha até um campo de golfe e um hotel, o que depois é alterado”, conta.

Encontro com Niemeyer dita novo rumo para história

Juscelino trouxe o urbanista francês Alfred Agache, que havia feito trabalhos modernos no Rio de Janeiro e em São Paulo. “Agache o aconselha a esquecer o projeto, fala que o que JK precisa é de uma cidade satélite, não de lazer. Mas Juscelino persiste, chega a fazer um concurso de projetos, o que não dá muito certo. Só depois ele conhece o Oscar Niemeyer, iniciando ali uma longa parceria”, informa a historiadora.

Conjunto arquitetônico da Pampulha levou apenas nove meses para ficar pronto | Crédito: Centro de Referência Audiovisual (CRAV) / Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte (FMC-BH)

Segundo Julia Calvo, como JK havia acabado de revitalizar o Centro, a Prefeitura não dispunha dos recursos para a obra. “O Juscelino faz um acordo com os construtores, que assumem o risco financeiro do projeto”.

Cheio de curvas modernistas em alusão às montanhas de Minas, o conjunto da Pampulha – que inclui o cassino, a Casa do Baile, o Iate Golfe Clube (atual Iate Tênis Clube) e a Igreja de São Francisco de Assis – leva apenas nove meses para ficar pronto, com conclusão em 1943.

“O impacto econômico não está necessariamente no local, está nas imagens do conjunto arquitetônico que passam a circular pelo mundo. Aparecem nas revistas internacionais e projetam Minas Gerais. Só aí que Beagá vai ter de fato o arrojamento que se propunha desde a sua fundação”, observa Julia.

Além disso, acrescenta a historiadora, o conjunto terá um impacto financeiro no município na medida em que atrai negócios e pessoas e exige a realização de obras de infraestrutura como, por exemplo, a avenida Antônio Carlos. “O impacto da Pampulha é no macro. É uma coroação de BH como uma capital moderna”.

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