Finanças

Apesar de melhora no real, mercado não vê espaço para forte valorização

Para que o dólar continue em queda, seria preciso mais convicção de que a política fiscal proposta por Fernando Haddad será mantida
Apesar de melhora no real, mercado não vê espaço para forte valorização
Especialistas sugerem que Brasil reduza a incerteza na política fiscal para manter o fortalecimento da sua moeda | Crédito: Adobe Stock

Os especialistas do mercado de financeiro afirmam que o real tem apresentado uma recuperação importante nos últimos dias e ainda deve se manter valorizado, mas de forma estável frente ao dólar. De acordo com os fundamentos da economia, a cotação da moeda americana poderia estar em torno de R$ 4,80. Vale ressaltar, no entanto, que a melhora do real estaria atrelada em grande parte ao enfraquecimento do dólar no mercado internacional.

Segundo o mercado, é importante que o Brasil reduza a incerteza na política fiscal para manter o fortalecimento da sua moeda. Isso depende da credibilidade do novo arcabouço da política fiscal e da política monetária, que está relacionada à definição da meta de inflação e dos novos diretores do Banco Central. 

Na manhã desta sexta-feira, o dólar à vista avançava 0,07%, a R$ 4,9723 na venda.

Ao DIÁRIO DO COMÉRCIO, a especialista em investimentos e sócia no escritório RV4 Investimentos Luciana Ikedo pontua que “no mercado existe uma brincadeira que diz que projetar o dólar frente ao Real ajuda no desenvolvimento da humildade dos economistas”, diz.

Dólar a R$ 5?

“Muitos fatores influenciam a valorização do real em relação ao dólar. A maioria do mercado projeta o dólar próximo aos R$ 5 no final de 2023. Isso deixa pouco espaço para uma valorização ainda maior do real”, avalia Luciana Ikedo.

Para ela, as pessoas que pretendem viajar ou que possuem negócios indexados ao dólar, uma boa estratégia é a de adquirir a moeda. “Fazer reservas em dólar gradualmente é uma boa alternativa. Faz com que o preço médio final fique mais interessante do que se as aquisições fossem feitas de uma única vez”, sugere.

Para a professora e analista econômica da PUC Minas Milena Albarez é imprevisível definir que o real continue a crescer. Para ela, há espaço, mas questões internas precisam de solução. “Tem uma questão importante a entender. Lógico que há um espaço para que a nossa moeda possa crescer, mas fica um risco de fatores que é o desrespeito por parte de agentes econômicos às metas fiscais que estão sendo propostas pelo governo”, ressalta. “É preciso ajustar essas questões domésticas”, acrescenta a docente.

Apesar do melhor desempenho do real, as incertezas em Brasília ainda impedem que a moeda brasileira valorize mais. Levar em consideração os fundamentos, como contas externas e juros, mostra que o real já poderia estar mais apreciado. Para que o dólar continue em queda, o mercado precisará ter mais convicção de que a política fiscal do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, vai funcionar.

Economia brasileira enfrenta fragilidades

“Não acredito que o real continue com esse movimento de alta. Vale lembrar é que a gente atingiu um patamar um pouco abaixo de R$ 4,90. O que é algo não visto na economia brasileira já há algum tempo”, explica o professor do curso de Economia do Ibmec-BH Helio Augusto Berni.

O economista explica que, para entender um pouco esse processo, é necessário lembrar que recentemente o Congresso Nacional sinalizou para a economia que haveria um pouco mais de punição. Punição essa para aqueles agentes econômicos que não cumprissem as metas fiscais do novo arranjo fiscal. “Isso diminui o nível de risco e faz com que você crie mecanismo de controle ao aumento da dívida pública. Neste caso, você terá melhores as condições de mercado e algumas variáveis macro”, observa.

Segundo ele, a economia brasileira apresenta algumas fragilidades atualmente. “A gente tem uma questão muito perigosa hoje rondando a economia brasileira. Ela está relacionada à manutenção do sistema de metas de inflação”, afirma.

O docente do Ibmec lembra que recentemente se iniciou uma certa pressão por parte do governo federal em diminuir as taxas de juros. “Essa ação não seria uma coisa adequada nesse momento. Se acontecer diminuição da taxa de juros, a gente corre o risco de perder o controle inflacionário no curto prazo. Portanto, isso tudo vai contribuindo para o aumento de risco sistêmico da economia, que pode gerar deterioração de algumas variáveis, inclusive do próprio câmbio”, conclui.

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