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Reinvenção é a marca da joalheria Manoel Bernardes

Grande desafio da joalheria cinquentenária, hoje, é fazer a transformação digital sem comprometer o atendimento
Reinvenção é a marca da joalheria Manoel Bernardes
A Manoel Bernardes chegou a ter 12 lojas, mas, em 2005, mudando mais uma vez o posicionamento, reduziu para cinco | Crédito: Manoel Bernardes/Divulgação

Pioneirismo talvez seja a palavra que mais marca a história de uma empresa que abriu espaço primeiro fora do Brasil e depois na própria terra para insumos e design nacional dentro da sua atividade.

Mais do que dar continuidade aos negócios e prover a família, aos 19 anos um empresário ganhava a missão de honrar e perpetuar o nome do pai em um dos mercados mais seletos do mundo: de joias.

Inovação e tradição familiar formam uma dupla nem sempre de fácil convivência, mas que levou a joalheria Manoel Bernardes a ser conhecida nos principais mercados de luxo do mundo e também à edição da série Mineiridade de hoje.

Na década de 1940, o senhor Manoel Bernardes – o pai – iniciou suas atividades com a comercialização de gemas de cor brasileiras no mercado internacional. Naquela época, em que a comunicação e os meios de transportes ainda eram precários, ele centralizava a produção de pedras de Minas Gerais – especialmente das regiões próximas à Capital, Governador Valadares (Vale do Rio Doce) e Teófilo Otoni (Vale do Mucuri) – selecionava e classificava as gemas. Assim, compradores – estrangeiros e os maiores brasileiros – encontravam de uma só vez os melhores exemplares de cada gema desejada em um só lugar.

Bernardes se tornava, já na década de 1950, o principal distribuidor de gemas brasileiras e uma personalidade da sociedade mineira. Ali era a primeira mostra do pioneirismo da família.

A morte do patriarca no início dos anos de 1970, porém, mudou o rumo dos negócios. A expertise para trabalhar a venda de gemas se foi com ele, mas ficou um estoque precioso de pedras selecionadas. Foi assim que o filho mais velho – também Manoel Bernardes – aos 19 anos, se viu, com a mãe, diante do desafio de sustentar a família e honrar o nome do pai.

“Não tínhamos o conhecimento e nem o talento do meu pai. Mas tínhamos um bom estoque e um sobrenome respeitado. E foi aí que decidimos usar esse estoque para fazer joias. Fizemos isso com uma visão de futuro. O atendimento era individualizado em mesa, não mais em balcão. Tínhamos uma sede maravilhosa, que encantava os clientes estrangeiros, com um teto em forma de diamante e madeiras nobres. Havia a possibilidade de criar e ter o nosso posicionamento. Fazíamos peças bonitas que valorizavam o design, mas não tínhamos a indústria. Ela só veio 20 anos depois”, relembra o empresário.

Não tínhamos o talento do meu pai, mas tínhamos um sobrenome respeitado, diz Bernardes | Crédito: Manoel Bernardes/Divulgação

Em 1979 era aberta a segunda unidade da joalheria, dessa vez no recém-inaugurado BH Shopping. Até a consolidação do shopping foram anos difíceis, mas logo o mall ajudaria a mudar o perfil de consumo da região e se tornou um grande parceiro da joalheria. Pouco tempo depois, em 1984, retomaram o trabalho de vender as gemas.

“Mas o mundo tinha mudado e os clientes não vinham mais ao Brasil. Abrimos escritórios nos Estados Unidos, Tailândia, Índia e Hong Kong. Mais uma vez mostrando a visão de futuro. Vimos a possibilidade de vender joias com pedras brasileiras em várias partes do mundo. Montamos um escritório em San Martin, no Caribe, e dali vendíamos joias com pedras brasileiras. Percebemos, então, que era possível montar uma indústria de joias com uma perspectiva diferente, unindo as gemas brasileiras. A nossa vantagem competitiva era ser de Minas, perto da extração das gemas”, explica.

Mercado nacional

O desafio nessa fase era convencer o público brasileiro, que não valorizava as gemas nacionais. Como não havia uma tradição de design brasileiro no mercado de joias, as peças nacionais eram muito influenciadas pelo desenho italiano. A saída era apostar em um design contemporâneo.

E já no início do novo século a Manoel Bernardes surpreendeu o mercado internacional com joias feitas com gemas e design brasileiros, por meio de consórcios liderados pela Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimento (Apex Brasil). Foram 10 anos trabalhando com o grupo divulgando o design brasileiro para joias.

A marca chegou a ter 12 lojas, mas, em 2005, mudando mais uma vez o posicionamento, reduziu o número para cinco e fechou o foco em um perfil de clientes que valorizam a origem das pedras e o design exclusivo. Ao mesmo tempo, se preparava para inaugurar no complexo de luxo que agrega boutiques exclusivas no BH Shopping.

Agora, quando o e-commerce já completa sete anos, o desafio é fazer a transformação digital sem comprometer o atendimento e criar uma linguagem capaz de atrair as novas gerações.

“Como uma empresa que sempre trabalhou a relação pessoal pode modernizar os processos e a ativos por meio do digital? Com 50 anos, existe uma cultura consolidada, é preciso fazer com cuidado, mas, ao mesmo tempo, com agilidade. Também precisamos trabalhar a linguagem para atrair os jovens e rejuvenescer a marca. Tudo isso sendo ESG. Tenho que estar atento à dinâmica da sociedade e fazer com que a responsabilidade socioambiental seja concreta dentro da empresa de na nossa cadeia produtiva que é tão pulverizada”, completa Bernardes.

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