Por que a situação da economia circular piora ano após ano?

Thaisa Bogoni*
Segundo o The Circularity Gap 2023, elaborado pela organização Circle Economy, os resultados da economia circular global vêm piorando ano após ano. Dados frustrantes revelam que, apesar de cada vez mais ouvirmos notícias sobre o assunto, que nos fazem pensar que ações estejam sendo implementadas, o “Walk thetalk” não é a realidade.
O aumento da extração e uso de materiais tem reduzido os índices globais de circularidade, que estavam em 9,1% em 2018, passaram para 8,6% em 2020 e agora em 2023 encontram-se em 7,2%. A circularidade é prejudicada pelo uso quase exclusivo de materiais novos (virgens) para produção, o que faz com que 90% de materiais sejam desperdiçados, perdidos ou permaneçam indisponíveis por anos para reutilização aos ficarem presos em estoques de longa duração.
Como conseqüência, temos o crescimento da emissão dos gases de efeito estufa e o aumento da crise climática, que elevam os riscos de um futuro catastrófico para a humanidade ao transpor os limites seguros do planeta. De acordo com o relatório Riscos Globais lançado pelo Fórum Econômico Mundial 2022, dentre os 10 piores, previstos em escala global para os próximos dez anos, os “Top 3” estão relacionados a questões ambientais: ações climáticas insuficientes, eventos climáticos extremos, e perda de biodiversidade.
Diante dessas previsões pessimistas, fica claro que o trabalho feito no presente está muito aquém das expectativas e precisa ser revertido com urgência. O acúmulo de problemas e resultados negativos, que brecam as mudanças necessárias para resultados promissores, e são responsáveis pela ultrapassagem dos limites seguros planetários no século XXI, só mudará com um esforço que precisa ser prioridade para todos.
Como permanecer nos limites seguros para o planeta?
Identificados em 2009 por um grupo de cientistas liderados pelo sueco Johan Rockström, os limites planetários definem até onde o desenvolvimento humano pode chegar sem afetar de forma irreversível a capacidade regenerativa da Terra. Também conhecido como “teto ecológico”, compreende nove processos que são constantemente monitorados:
- Mudanças climáticas
- Acidificação dos oceanos
- Poluição química
- Carga de nitrogênio e fósforo
- Retiradas de água doce
- Conversão de terras
- Perda de biodiversidade
- Poluição atmosférica
- Destruição da camada de ozônio
Conforme o relatório The Circularity Gap 2023, no início deste século, a humanidade já transgrediu cinco limites planetários que medem a saúde do meio ambiente através da terra, água e ar. Além disso, bilhões de pessoas ainda enfrentam privações extremas e o 1% das pessoas mais ricas possui metade da riqueza financeira do mundo, o que prova que estamos conduzindo a situação para um colapso anunciado e cada vez mais próximo.
O relatório diz que, para adequar a atividade humana e voltar aos limites seguros do planeta, seria necessário reduzir a extração e o consumo global de materiais em um terço. Mesmo sendo um grande desafio, é possível alcançá-lo com a contribuição da economia circular e a transição para uma economia verde.
Como fazer a economia circular acontecer?
A economia circular nos permitirá atender às necessidades das pessoas com apenas 70% dos materiais que agora extraímos e usamos – levando a atividade humana de volta aos limites seguros do planeta, apresenta o relatório The Circularity Gap 2023. Para isso, soluções circulares incorporadas em quatro sistemas globais são necessárias: usar menos, usar por mais tempo, reutilizar e manter limpo/conservado.
De acordo com dados da Fundação Ellen Macarthur, é necessário corrigir primeiro nosso atual sistema econômico para então conseguirmos mudanças significativas a favor das questões climáticas, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa para o alcance das metas que foram estabelecidas no Acordo de Paris. Porém, as ações relacionadas à eficiência energética e a mudança para energia renovável são responsáveis apenas por 55% das emissões globais. Para o alcance do net-zero, é imprescindível rever e melhorar os métodos de fabricação e uso de produtos, materiais e alimentos. Com a adoção encadeada dos três princípios da economia circular, também seria possível reduzir os outros 45% das emissões, que são associadas à indústria, agricultura e uso da terra e não estão diretamente associadas à transição energética.
Compreender como o papel de cada um impacta na implementação da Economia Circular é algo discutido em várias oportunidades e por diferentes pontos de vista. Nós do Capitalismo Consciente nos propomos a debater o papel das empresas, que pode ocorrer por meio de uma atuação regenerativa, focada em rever e reestruturar a forma de se fazer negócios, com foco em gerar benefícios para todos os stakeholders através de um propósito maior, que gere prosperidade e contribua para o futuro do planeta e das próximas gerações.
*Conselheira na Filial do Capitalismo Consciente em Belo Horizonte (MG), publicitária, especialista em Marketing e Gestão de Projetos, pós-graduanda em Moda e Sustentabilidade e pesquisadora da área de consumo consciente. Instagram: @thabogoni e Linkedin: Thaisa Bogoni
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