Viver em Voz Alta

Viver em Voz Alta: Alphonsus de Guimaraens, o patrono da AML

Viver em Voz Alta: Alphonsus de Guimaraens, o patrono da AML
Alphonsus de Guimaraens | Crédito: Divulgação

Rogério Faria Tavares*

Em 1970, no ensejo das comemorações do Centenário de Nascimento de Alphonsus de Guimaraens, organizadas pela Academia Mineira de Letras (AML) em homenagem ao seu patrono, fundador da cadeira de número 3, escreveu Tácito Pace: “Foi verdadeiramente um predestinado e pode ser observado assim. Carinhoso e bom, não conseguiu fugir à agressão da vida, que, por vezes, tratou-o rudemente, na conquista da serenidade espiritual em que se empenhou, mas isso foi o que lhe preparou a glória estelar e para a qual ascende no seio da posteridade”.

É de 1973 a publicação de importante texto sobre Alphonsus da acadêmica Maria José de Queiroz, atual ocupante da cadeira de número 40.

Ele apareceu em separata do número 71, volume 24, da revista Kriterion, da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG. Ao longo do ensaio, a reputada professora realiza exame comparado dos legados de Verlaine e de Alphonsus: “Que fazem Verlaine e Alphonsus? Despertam a sensibilidade, apta a tocar o intocável, a ver o invisível. A arte simbolista, a que recorrem, convida-nos à função de psicólogos do insondável. Isso mesmo. Porque nos instrui na sutileza das correspondências, ensinando-nos a desvelar a realidade. Urge considerar, de perto, não as coisas, mas os signos. Todas essas amadas, essas noivas mortas, essas donas e madonas, esses anjos e arcanjos diante de um futuro incerto e de um passado obscuro nos ajudam a compreender que o passado e o futuro são rostos, são imagens. As coisas nos devolvem nosso próprio olhar. Para o olho que vê, tudo é espelho, tudo é profundidade, e para o olho que vê sentindo, tudo é sentimento e, ao mesmo tempo, miragem, realidade frágil, tecido efêmero. As fórmulas concretas, de realidade tangível, tornam-se abstrações, conceitos”.

No discurso em que tomou posse na mesma cadeira de número 3, em 2006,  Angelo Oswaldo de Araujo Santos indagou: “Quem como ele? Aprendi a admirá-lo, desde o primeiro impacto, ao ouvir minha mãe recitar a desventura louca de Ismália, e cresci percorrendo sua obra, tocado pela força mística e a luz noturna dos versos plangentes. (…) O destino impôs-lhe o estigma da tristeza, nas ladeiras da cidade natal, ao subir dolorosamente o caminho do Bom Jesus das Cabeças, ao encontro da noiva morta. Simbolista nas Arcadas de São Francisco, foi morar na praça do coqueiro e do cinamomo, na velha Conceição do Serro, e veio ser juiz em Mariana, embalado pelas badaladas lúgubres da sé catedral.”

Em 2009, a acadêmica Carmen Schneider Guimarães, antiga ocupante da cadeira de número 5, escreveu em nossa revista, sobre Alphonsus: “O poeta ouro-pretano jamais falava em público e chegou a desfalecer, de certa feita, para livrar-se da tribuna de acusação, no interior do estado. Lembra seu filho João que seria impossível imaginá-lo a bradar, mesmo a falar naturalmente, face ao tribunal pleno, pela condenação de alguém. E conclui que o promotor interino o substituía nessa parte melancólica da função. A Academia Mineira de Letras referendou-o para patrocinar esta Casa. Sem que se percebesse, seu nome se ajustou ao patamar mais alto, tendo sido louvado por aprovação unânime. Patrono, o que protege espiritualmente, apadrinha. Patrono – advogado de suas causas intelectuais, desde que invocado no misticismo da palavra: patrocinador deste sodalício, convocado pelos méritos valiosos de sua magnífica obra, a fim de que dela se valham os acadêmicos para deleite e aprendizado. Patrono, que é exemplo e enobrece”.

*Jornalista, doutor em Literatura, presidente emérito da Academia Mineira de Letras

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