Boas ideias para copiar

Desburocratização é um daqueles temas sobre os quais todos parecem concordar, porém numa convergência que na prática não avança além da retórica. Houve um tempo que até um ministério foi criado – propriamente dito da Desburocratização – para dar conta da tarefa, mas não avançou além do marketing que serviu aos governantes da ocasião.
Foi no distante ano de 1979 e não foi além de lustrar o nome do ministro Hélio Beltrão, o primeiro titular da pasta. Suas teses e propósitos bem mereciam ser revisitados quando a administração pública enfrenta o duplo desafio de reduzir o déficit público, elevando receitas sem recorrer à forma simplista de aumentar tributos. E chama atenção, como já foi dito nesse espaço, que a alquimia que vai sendo preparada em Brasília não tenha entre seus ingredientes, e nos volumes que são necessários, o corte de despesas.
Também, para os brasileiros, problema bastante antigo e amplamente conhecido. O Estado brasileiro, que alguns apontam como sequestrado pelo corporativismo, com o passar do tempo ficou gordo, ineficiente e, completando, caro. Nada que ninguém, independentemente do lado político em que se movimenta, possa negar, além de debitar parte do problema justamente à burocracia, onde o acúmulo de gorduras é da mais fácil percepção. Algo que, por óbvio, atinge e incomoda também o setor privado, mais amplamente todo e qualquer cidadão, ambos atingidos e incomodados por custos que não deveriam, ou não precisariam, existir, sendo assim fácil constatar que no Brasil de hoje seria perfeitamente possível fazer mais com menos.
Tudo isso, claríssimo, para aliviar o caixa, para gerar os saldos de que o ministro Haddad tanto precisa e que não são poucos os que acreditam ser mais uma daquelas tarefas que se enquadram no rol das impossibilidades. Na burocracia tão cara aos políticos de segunda ou terceira linha que nela se nutrem e de alguma forma se confundem, poderia ser encontrada, se houvesse vontade, a melhor das respostas, algo bem próximo do alívio geral tão desejado quanto necessário. Um regime de emagrecimento forçado, capaz de ajudar a consumir as gorduras de que tanto se fala nos palanques e nas campanhas eleitorais.
Fica registrada assim a lembrança de Hélio Beltrão, querido e respeitado no seu tempo e que, se falhou, foi justamente por não ter apontado as forças que puseram abaixo seus esforços. Mais que a lembrança, a constatação de que seu ideário prossegue sendo de maior atualidade, à espera justamente de quem o abrace com a mesma disposição e melhor sorte.
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