‘Subterrânea: uma fábula grotesca’ trata de inquietações sobre a sociedade brasileira

As angústias provocadas pelo recente contexto político e social brasileiro, somadas às inspirações originadas pela obra “As aventuras de Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll, despertaram na artista mineira radicada em São Paulo, Juliana Birchal, a vontade de se expressar por meio de uma fábula.
Com apresentações nos dias 16, 17 e 18 de junho, no Teatro de Bolso do Sesc Palladium, o solo “Subterrânea: uma fábula grotesca” aborda a trajetória de uma mulher-cigarra que, uma vez nascida cigarra, deve se conformar a cumprir o seu papel: acasalar, reproduzir e morrer, mantendo assim, a ordem natural das coisas.
Dessa forma, o ciclo de vida desse inseto tão curioso, traz consigo a representação da figura feminina na sociedade patriarcal e como, muitas vezes, as mulheres acreditam que a sobrevivência depende do cumprimento das obrigações que o próprio sistema impõe.
“Um momento no qual a gente viu discursos de ódio e intolerância ganharem espaço, a extrema direita ganhar força e as pessoas reivindicarem o direito de falar sobre os seus preconceitos sob o nome de ‘liberdade de expressão’. Meu trabalho individual na sala de ensaio, sem o compromisso de realizar um espetáculo, sempre se relacionava com isso de alguma forma”, conta Juliana Birchal.
A associação do “subterrâneo” a um lugar interno onde o pior de nós está escondido foi instantânea. Pouco a pouco, juntou-se a essa imagem a de insetos que vivem debaixo da terra e que atuam como pragas. Dentre os insetos investigados, a cigarra se destacou.
“Toda essa pesquisa foi bastante intuitiva, não sabia exatamente no que iria dar, mas finalmente cheguei ao inseto cigarra e fez sentido para mim criar uma narrativa a partir disso. Para mim, o ciclo de vida da cigarra dialogava perfeitamente com essa mulher de bem, que é ao mesmo tempo vítima e algoz desse sistema de poder”, conclui.
O trabalho em sala de ensaio contemplou a investigação sobre diferentes corpos-máscaras, do nariz de palhaço ao objeto como máscara. A experiência da atriz foi somada àquela do ator e diretor Lenine Martins, conhecido pelo seu trabalho sobre a narrativa épico-dramática e mascaramento contemporâneo.
Juliana Birchal
Atriz e palhaça, tem sua pesquisa concentrada no teatro físico e no teatro de máscaras. Mestranda em Artes Cênicas pela ECA-USP, investiga os mascaramentos do Théâtre du Soleil, companhia internacional com quem realizou residência artística entre 2014 e 2016.
Em 2017, formou-se no curso de Formação Básica de Palhaço dos Doutores da Alegria (2017). No teatro, trabalhou com a Cia. Picnic (2019-2022), O Trem Cia. De Teatro (2020), Fernando Neves (2017), grupo Espanca! (2010) e Juliana Pautilla (2010). É licenciada em Teatro pela UFMG e formada pelo curso profissionalizante em teatro do CEFART/Palácio das Artes (2008-2010).
Serviço
Subterrânea: uma fábula grotesca
Data: 16, 17 e 18 de junho – sexta e sábado às 20h e domingo às 19h
Local: Teatro de Bolso do Sesc Palladium
Preços: R$ 30 (inteira) / R$ 15 (meia-entrada) (se levar 1 kg de alimento não perecível tem direito à meia)
Indicação etária: 14 anos
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