“PIB à la carte”

Guilherme Almeida*
Em mais de uma ocasião, alguma figura política bradou a frase “não comemos PIB”. Lembro-me de duas, em especial: uma quando houve queda do Produto Interno Bruto (PIB) no período do governo Dilma e outra durante o governo Bolsonaro, mas dessa vez quando o indicador subiu mais do que o esperado pelo mercado. Quando avaliamos no literal, é claro que não comemos PIB. Como Roberto Ellery, professor do departamento de economia da UNB, disse em um artigo, não só não comemos, como “não vestimos, moramos ou dançamos no PIB”. O PIB é uma construção teórica que busca medir a produção em uma região, em determinado período. Porém, dizer que “não comemos PIB”, apesar de literalmente estar correto, menospreza a importância desse indicador.
O Produto Interno Bruto (PIB) é uma medida utilizada para quantificar o valor total de bens e serviços produzidos em uma economia durante um determinado período. Ele é calculado somando-se o valor de todos os bens e serviços finais produzidos dentro das fronteiras, podendo ser do município, estado ou país. Aqui, faço destaque à menção da palavra “finais” no conceito. Isso porque todos os bens e serviços intermediários, isto é, utilizados no processo produtivo, não são contabilizados para não gerar duplicidade. Imagine, por exemplo, a produção do pão de sal. Nele, o padeiro utiliza trigo, fermento e outros ingredientes. Cada insumo possui um preço, mas estes valores já estão inclusos no valor final do pão de sal. E é este último que realmente importa.
Apesar de suas limitações, o PIB desempenha um papel crucial na economia, fornecendo uma medida do tamanho da riqueza e do crescimento econômico de um território. Quando você lê no jornal que o PIB do Brasil cresceu 1,9%, isso significa que a riqueza gerada no País, em um dado período, cresceu 1,9%. E é isso que foi divulgado pelo IBGE, na última semana. O PIB do 1º trimestre surpreendeu, puxado por um crescimento extraordinário da agropecuária – setor que, literalmente, coloca comida à nossa mesa. Toda riqueza gerada no País totalizou R$ 2,56 trilhões nos três primeiros meses do ano.
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E como chegamos a esse valor? Em sua construção, há duas formas de se chegar ao PIB: uma pela ótica da oferta e outra pela ótica da demanda, sendo que ambas devem resultar no mesmo montante de riqueza gerada. O PIB pela ótica da oferta analisa a produção total dos diferentes setores da economia. A riqueza é calculada somando o valor adicionado de todos os setores produtivos, ou seja, o valor que cada setor adiciona ao produto final. Os setores da economia são agrupados em categorias como agricultura, indústria e serviços. O valor adicionado de cada setor é calculado separadamente e, em seguida, são somados para obter o PIB total. Essa abordagem enfatiza a contribuição de cada setor para a economia como um todo.
Por outro lado, temos o PIB pela ótica da demanda. Essa abordagem analisa o gasto total dos consumidores, das empresas, do governo e do setor externo, isto é, exportações e importações. Somando esses componentes de gasto, obtém-se o PIB total pela ótica da demanda. Tal abordagem destaca como os diferentes agentes econômicos contribuem para a atividade econômica do País.
Para ilustrar, podemos considerar os resultados desagregados da última semana. Pela ótica da oferta, a riqueza gerada pelo setor agro cresceu impressionantes 21,6%. Em valores correntes, o setor totalizou R$ 259,7 bilhões. Os serviços, por sua vez, viram suas contribuições crescerem 0,6%, acumulando R$ 1,47 trilhão. A indústria, com seus relevantes R$ 508 bilhões em valores correntes, encolheu 0,1% frente ao período anterior. Considerando os impostos, livre de subsídios, cujo montante totalizou R$ 317 bilhões, podemos somar os resultados setoriais, obtendo um PIB em valores correntes de R$ 2,56 trilhões. Se fizermos o mesmo pela ótica da demanda, teremos o mesmo resultado.
A ideia é que, quanto maior e mais diversa é a quantidade de bens e serviços ofertados, maior será a qualidade de vida da população. Se a economia está crescendo, significa que mais bens e serviços estão sendo produzidos. Isso implica em aumento da riqueza e faz com que, em média, a vida das pessoas melhore. É claro que ainda temos um abismo de desigualdade no País e no mundo, mas o crescimento do PIB é algo fundamental para o bem-estar de todos, inclusive se quisermos mudar esse cenário.
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