Vendas de cimento caem 2,5% entre janeiro e maio

O alto endividamento e a inadimplência das famílias, além da taxa de desemprego em patamares ainda elevados, continuam afetando as vendas da indústria cimenteira, segundo avaliação do Sindicato Nacional da Indústria de Cimento (Snic). No acumulado do ano até maio, as vendas do produto registraram queda de 2,5%.
Na ponta, as empresas que comercializam o produto verificaram retração. Na Cristiano Casa e Construção, localizada na capital mineira, o diretor administrativo João Batista de Oliveira estima recuo acima de 2,5% nas vendas de cimento, no período de janeiro a maio deste ano. Ele explica que o uso do produto é bem intenso no começo das obras, o que mostra que o ritmo de construção está menor. O motivo: juros altos.
A taxa básica de juros da economia, a Selic, está em 13,75% ao ano. A taxa está nesse nível desde agosto do ano passado e é o mais alto desde janeiro de 2017, quando também estava nesse patamar. O juro elevado é motivo de reclamação da Confederação Nacional da Indústria (CNI), ao alertar que os juros cobrados nos empréstimos no Brasil estão acima da capacidade de pagamento das empresas, contribuindo para a perda de investimentos no País.
O presidente do Snic, Paulo Camillo Penna, afirma que a persistência da alta taxa básica de juros penaliza a cadeia da construção civil não apenas nas vendas, mas também na geração de emprego, renda e na retomada das obras para o retorno do crescimento no Brasil.
Na loja de material de construção, Oliveira conta que as vendas de cimento efetuadas neste ano, até o momento, são mais voltadas para obras que já estão em andamento ou que estão sendo finalizadas do que para novas. “Acredito que muitos investidores da área da construção estão aguardando a redução dos juros”, analisa.
Dados divulgados pelo Snic confirmam essa tendência, já que os lançamentos imobiliários apontaram queda de 30,2% no primeiro trimestre de 2023 frente a igual período do ano passado. O recuo foi ainda maior dentro do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida (MCMV), 41,8% menor ante o primeiro trimestre de 2022. A queda das vendas foi de 9,2% no total e 37,1% no MCMV, diminuindo ainda mais os estoques de obras, o que gera efetiva preocupação da indústria do cimento frente a demanda no curto e médio prazo.
Melhoria em maio
O diretor administrativo da Cristiano Casa e Construção conta que os negócios começaram a melhorar em maio, com alta de quase 15% na comercialização do cimento na comparação com abril e entre 2% e 3% frente a maio de 2022. “Tradicionalmente as vendas no segundo semestre são melhores”, diz.
No País, as vendas da indústria do cimento no mês de maio registraram alta de 1%, quando comparado com o mesmo período do ano passado. Em termos nominais foram comercializadas 5,6 milhões de toneladas do produto.
Na comparação por dia útil (indicador que considera o número de dias trabalhados e que tem forte influência no consumo de cimento), as vendas do produto registraram em maio 231,7 mil toneladas, incremento de 3,8% em comparação a abril deste ano e de 1,2% em relação a igual período de 2022.
O diretor comercial do Depósito J.A, localizado em Belo Horizonte, Adan Guilherme, conta que o cimento já subiu duas vezes neste ano e já foi anunciado outro aumento, o que impacta negativamente nas vendas. O recuo na comercialização em maio na comparação com igual mês de 2022 foi de 15%.
No ano passado, o setor cimenteiro registrou queda na demanda de 2,8% no País. Minas é o maior produtor de cimento no Brasil, com nove grupos industriais operando no Estado, além de 15 fábricas de cimento que geram 23 mil empregos diretos e indiretos.
Custo médio da construção recua 0,25%
O custo médio da construção, medido pelo Índice Nacional da Construção Civil (Sinapi), apresentou recuo de 0,25% em maio, conforme cálculo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com a Caixa Econômica Federal. O levantamento foi divulgado na quarta-feira (7). Em abril, a queda foi de 0,09%.
No País a variação foi de 0,36%, subindo 0,09 ponto percentual em relação ao mês de abril (0,27%). Em maio deste ano, o Maranhão foi a unidade da Federação com maior aumento nos custos da construção no mês, atingindo alta de 1,92%. A região Sudeste, com alta na parcela dos profissionais em São Paulo, ficou com a maior variação regional em maio, 0,59%.
Os resultados dos últimos doze meses evidenciaram variações de 2,84% para o Estado e de 6,13% nacionalmente. O resultado em Minas Gerais mostra que o custo por metro quadrado atingiu R$ 1.632,23 (96,03% da média nacional), sendo R$ 987,58 referentes aos materiais (98,33% da média nacional) e R$ 644,65 à mão de obra (92,70% da média nacional). No Brasil, o custo foi de R$ 1.699,79, sendo R$ 1.004,40 relativos aos materiais e R$ 695,39, à mão de obra.
No ano até maio, o custo médio da construção subiu 1,42% em Minas e 1,23% no País, conforme o levantamento do IBGE.
Em maio deste ano, a Fundação Getulio Vargas (FGV), também constatou aumento nos custos no País. O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) teve elevação de 0,59% no quinto mês de 2023. Foi a maior elevação do indicador desde julho de 2022.
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