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Pastelaria Ouvidor resiste ao tempo e encanta paladares

Crédito: Reprodução / Instagram Pastelaria Ouvidor
Qualidade é assegurada pela produção artesanal

De queijo, carne, napolitano, frango, banana ou até de vento. Dos clássicos aos gourmets, eles nunca saem da moda e marcam a gastronomia brasileira popular. Em Belo Horizonte, os pastéis fazem parte da história e do imaginário da cidade, sejam acompanhados por café, refrigerante ou, preferencialmente, pelo igualmente tradicional caldo de cana.

Na Galeria Ouvidor, um dos mais antigos e movimentados pontos de comércio popular do hipercentro, uma pastelaria resiste ao tempo, aos modismos e continua com uma legião de fãs que se renova a cada geração.

Da época em que escada rolante ainda era raridade na Capital, a Pastelaria Ouvidor assiste do seu balcão às mudanças de costume, as segue oferecendo sabor e simpatia aos clientes que, por vezes, se acotovelam para saborear ou levar para casa a guloseima que tem origem asiática, mas que por aqui adquiriu a Mineiridade que a traz à edição de hoje.

Em 1964, o primeiro “street mall” de Belo Horizonte era inaugurado, entre as ruas São Paulo e Curitiba, com ares de modernidade e oferecendo, principalmente, os requintados serviços das melhores costureiras e alfaiates que atendiam à alta sociedade. Para atender a essa clientela, foi criada a Confeitaria Ouvidor.

Quentinhos, de queijo, carne, palmito, frango e banana, os pastéis da Ouvidor caem muito bem com caldo de cana gelado | Crédito: Reprodução / Instagram Pastelaria Ouvidor

De acordo com o proprietário da Pastelaria Ouvidor, Antônio Lara, o negócio, porém, não deu certo e isso faria com que surgisse, logo depois, a icônica Pastelaria Ouvidor.

“O negócio não saiu como meu pai tinha imaginado e, para se recuperar, ele resolveu abrir no lugar uma pastelaria. Não faltou quem o chamasse de louco, afinal, pastel é comida de gente pobre. Mas foi um sucesso. Além dos trabalhadores da própria Galeria e das lojas próximas, os pastéis caíram no gosto, inclusive, das madames”, afirma Lara.

A qualidade da massa, criada em parceria com um amigo descendente de japoneses, e a fartura e capricho dos recheios foram a fórmula do sucesso que nunca foi segredo para ninguém. A escolha criteriosa dos insumos e dos fornecedores – que são os mesmos há décadas – são, na opinião do empresário, o grande diferencial. Tudo isso, claro, aliado a um tempero próprio e exclusivo, produzido diariamente com ingredientes frescos. Tudo feito à mão.

“Meu pai dizia que a receita podia ficar escrita na parede, que todo mundo podia copiar as quantidades e a ordem dos ingredientes, mas não o jeito de fazer. Esse jeito é só nosso. O queijo, por exemplo, vem do Serro (Vale do Jequitinhonha), do mesmo fornecedor há não sei quanto tempo. A carne, sempre acém, é comprada em peças e somos nós que moemos e temperamos. Não tem nenhuma mistura. A massa, que nós mesmos produzimos, é fresca e sem nenhum conservante. Ela é produzida e utilizada no mesmo dia. Tudo isso é um jeito só nosso, que não há como imitar”, explica.

Acostumado a receber de gerações das mesmas famílias a um quase incontável número de clientes “que batem ponto no balcão” diariamente, e também aos solavancos da economia brasileira nas últimas seis décadas, o empreendedor não titubeia para classificar os anos de 2020 a 2022 como os piores da história. A pandemia, que levou ao fechamento do comércio, ao esvaziamento do Centro, ao medo da doença e da morte e à queda vertiginosa no faturamento, deu medo, mas também levou a uma decisão:

“Quando o comércio foi fechado pensei: ‘danou-se!’ A partir dali seguimos todos os protocolos, incentivamos a vacinação e decidi que quando fosse permitido, reabriria, mesmo que não fosse viável economicamente. Implantamos um sistema de rodízio dos funcionários e, graças a Deus, não tivemos nenhum caso de adoecimento grave. Acho que se perdesse algum deles, morreria. Passávamos horas sem receber ninguém, mas estávamos lá. Sabíamos que éramos importantes para quem precisava trabalhar ou que morava por ali e estava sozinho e com medo. Às vezes um aceno, um sorriso coberto pela máscara era tudo que aquela pessoa e nós mesmos precisávamos”, relembra.

Os pastéis atraem a clientela fiel na Galeria Ouvidor | Crédito: Reprodução/Instagram

A Covid-19 também atingiu os planos de expansão da Pastelaria Ouvidor. As constantes consultas sobre um possível franqueamento ou licenciamento da marca, possivelmente, vão continuar recebendo um “não” como resposta. O caráter artesanal da produção e a majoração do preço dos principais insumos, principalmente a farinha de trigo – cotada em dólar -, são os principais empecilhos para uma expansão mais agressiva.

A abertura de lojas próprias em outras regiões da cidade, porém, já fazem parte do planejamento de médio prazo. O fortalecimento da produção e venda da massa para outros estabelecimentos como bares e cafeterias, além do consumidor final, já estão em curso.

“Como a nossa produção é toda feita à mão, é muito difícil garantir o padrão como exige o modelo de franquia. Já tentamos algo nesse sentido, mas deu errado. Para dar certo eu precisaria criar uma receita que possa ser congelada, mas aí seria outro negócio, e eu precisaria dar outro nome para ele. Não seria mais o pastel da Ouvidor. E eu não quero isso. Quero que as pessoas reconheçam o nosso sabor, a nossa qualidade. Esse é o maior elogio que podemos receber. Crescer com a venda da massa é mais fácil. Hoje vendemos para outros estabelecimentos e para o consumidor final, mas, ainda assim, com muito cuidado porque é um produto fresco e sem conservantes”, completa o proprietário da Pastelaria Ouvidor.

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