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Indicadores de confiança e o “espírito animal” de Keynes

Indicadores de confiança e o “espírito animal” de Keynes
Guilherme Almeida, colunista do Diário do Comércio | Crédito: Arquivo Pessoal/Divulgação

Guilherme Almeida*

Você já deve, em algum contexto, ter ouvido aquela frase: “A confiança é fácil de ter, difícil de manter, muito fácil de perder e muito difícil de recuperar”. Trazendo para o debate econômico, isso não é diferente. Vez ou outra é noticiado que a confiança das famílias diminuiu ou aumentou. Mas, afinal, o que significa isso? Por vezes, não é trivial compreender os efeitos desse estado de sentimento na dinâmica das relações econômicas.

Olhando para a história, podemos revisitar a obra do famoso economista britânico John Maynard Keynes, intitulada “A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda”, publicada em 1936. Na obra, Keynes cunha o termo “animal spirits” – que, literalmente, pode ser traduzido como “espírito animal” – para descrever como as pessoas tomam decisões financeiras em tempos de estresse econômico ou incertezas. O “espírito animal” pode ser entendido como as emoções humanas que afetam a confiança das pessoas.

Dada a importância dessa variável para a tomada de decisão, diversas instituições buscam, seguindo metodologias próprias ou universais, mensurar e acompanhar a evolução dos chamados “indicadores de confiança”. Aqui no Brasil temos, por exemplo, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) e o Banco Central. O objetivo desses indicadores é o de acompanhar a avaliação que os agentes, sejam eles famílias, empresários ou investidores, fazem sobre o cenário econômico. Sua leitura é simples: quando estão confiantes, famílias tendem a consumir mais bens e serviços, ao passo que as empresas tendem a investir mais em projetos produtivos e a contratar mais trabalhadores. Isso gera um aumento da demanda, da oferta, do Produto Interno Bruto (PIB) e do nível de emprego. Por outro lado, quando os agentes econômicos estão menos confiantes, o efeito é inverso.

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Em conjunto com outros fatores, a confiança é elemento fundamental para determinar as ações dos agentes, agindo como insumo para a formação das expectativas e para a mitigação das incertezas. Podemos dizer que se trata do indicador antecedente mais importante para a tomada de decisão, refletindo as opiniões e as expectativas dos indivíduos, e evidenciando o grau de otimismo ou pessimismo desses agentes em relação ao presente e ao futuro da economia. De forma ampla, contribui para antecipar as tendências, fornecendo informações sobre como os agentes econômicos esperam que a economia se desenvolva no futuro.

Por influenciar tantas variáveis, como as decisões de consumo, investimento, poupança, produção e emprego, indicadores de confiança são acompanhados de perto pelos formuladores de políticas econômicas, podendo, inclusive, direcionar os rumos de políticas fiscais e monetárias. Para ilustrar esse processo, consideremos o exemplo das decisões sobre os juros no Brasil. O Comitê de Política Monetária, no âmbito do Banco Central, em suas decisões de aumento ou diminuição da taxa básica de juros da economia, a meta Selic, considera o nível de inflação e atividade econômica atual, bem como as expectativas que os agentes possuem para o nível de preços em horizontes futuros. Expectativas importam, pois afetam a definição de preços e salários presentes e futuros. À medida que se projeta uma inflação mais elevada em períodos posteriores, por exemplo, empresas e trabalhadores passam a incorporar tal inflação futura em seus reajustes de preços e salários. Assim, há uma maior elevação de preços no período corrente, e o processo inflacionário é alimentado por essas expectativas. Tais expectativas, como podemos supor, são influenciadas pelo grau de confiança que os agentes possuem acerca da condução das políticas econômicas, da dinâmica da atividade atual e de suas avaliações de como a economia influencia em seus respectivos ambientes.

É importante ressaltar que os indicadores de expectativa estão sujeitos a mudanças. No entanto, eles oferecem uma perspectiva valiosa sobre as percepções e expectativas dos agentes, auxiliando na compreensão e nas tomadas de decisões no âmbito econômico. Governos buscam, por meio de suas políticas, assegurar o melhor ambiente possível aos negócios, às famílias e aos investidores, visando assim, garantir uma melhor percepção por parte desses agentes. Sabemos que muitas vezes, porém, o resultado acaba sendo o contrário. De toda forma, é como Larry Summers, ex-secretário do Tesouro dos Estados Unidos, destacou: “A confiança é a forma mais barata de estímulo econômico”. Por aí, como vai sua confiança em relação à economia?

*Especialista em Educação Financeira no Grupo Suno. Sócio-fundador da Certifiquei, possui experiência como economista, atuando na gestão e elaboração de pesquisas e análises socioeconômicas. Mestre em Estatística pela UFMG. Redes sociais: Instagram: @guilherme.certifiquei / Linkedin: https://www.linkedin.com/in/guilherme-almeida-economista. E-mail: [email protected]

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