Agronegócio

Estado recicla 94% das embalagens do campo

Somente em 2022, cerca de 3 mil toneladas foram destinadas corretamente em MG; País é referência mundial
Estado recicla 94% das embalagens do campo
Embalagens de defensivos agrícolas são recicladas | Crédito: Inpev/Divulgação

A logística reversa de embalagens vazias de defensivos agrícolas é uma realidade em Minas Gerais. O Estado já recicla 94% das embalagens, o restante ainda é incinerado, mas a meta é alcançar a totalidade. Só no ano passado, cerca de 3 mil toneladas (3.146/t) de embalagens foram destinadas corretamente no Estado.

O número representa 6% do total de 52.538 toneladas de embalagens com correta destinação realizadas pelo Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (Inpev) no ano de 2022, único a gerir o processo no país, por meio do programa Sistema Campo Limpo.

No programa, as embalagens entregues pelos agricultores são recebidas em centrais, postos de recebimento fixos ou itinerantes e enviadas para as usinas de incineração ou reciclagem, localizadas em São Paulo. 

O presidente do Instituto, Marcelo Okamura, em entrevista exclusiva ao DIÁRIO DO COMÉRCIO, explica que, de acordo com Lei Federal 7.802/1989 e o Decreto 4.074/2002, a responsabilidade do descarte de embalagens de defensivos agrícolas passou a ser de todos que fazem parte da cadeia de produção e utilização. Ou seja, desde as indústrias de fabricação aos pontos de distribuição, às lojas de venda, revenda, postos de recebimento ao agricultor. “Apesar de ser uma obrigação, nosso maior desafio é fazer com que o produtor entregue as embalagens, pois nosso trabalho começa a partir do momento que a recebemos e não no recolhimento”, esclarece.

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Um dos problemas enfrentados para garantir a totalidade da destinação correta das embalagens é justamente a ilegalidade. “A partir do momento que o resíduo começa ter valor econômico e gerar produtos com valor agregado, começam as indústrias ilegais. E quem não está conosco está ilegal. Não há outra entidade legalizada para destinação correta no país”, ressalta Okamura.

Sustentabilidade e redução de custos

Na cadeia do programa de logística reversa, o sistema de reciclagem das embalagens dá origem a 33 tipos de artefatos que atendem diferentes setores. Na construção civil, por exemplo, setor que mais utiliza os artefatos, são gerados dutos corrugados e tubos para esgoto. Para o setor de transporte, são geradas caixas para baterias, dormentes ferroviários e postes de sinalização. Para o energético, são fabricadas cruzetas para postes e para a indústria moveleira, são produzidos moldes em papelão para proteção industrial.

Além desses, o próprio setor de defensivos agrícolas tem utilizado os produtos gerados pela reciclagem, concluindo assim o processo da economia circular. São embalagens e tampas com certificações de segurança para o transporte de material perigoso e com a aprovação da Marinha do Brasil para o transporte marítimo.  “Antigamente tínhamos uma economia linear em que o destino das embalagens era o lixo. Hoje, a indústria já se preocupa com o nível de reciclabilidade das embalagens dos seus produtos, para que ela possa tornar-se cada vez mais sustentável”, explica Marcelo. 

Em MG, há sete centrais de recebimento e 62 postos de recebimento ligados ao Sistema | Crédito: Inpev/Divulgação

O presidente do Inpev revela ainda que a produção dos artefatos paga atualmente 65% dos custos que as indústrias filiadas ao instituto possuem com o processo reverso. “Quanto mais produto a gente gerar, mais sustentável será nosso negócio. E o objetivo é esse, que ele se torne sustentável”, projeta o presidente.

Ele explica que o Inpev frequentemente busca parcerias para que cada vez mais produtos sejam reciclados na cadeia produtiva. “Já temos em mãos a tecnologia para reciclar as embalagens flexíveis. Nossa meta, agora, é reduzir os produtos incinerados, com a efetivação da reciclagem desses materiais”, diz.

Cuidado com o planeta e as futuras gerações

A redução dos produtos incinerados é uma meta recorrente. Um estudo de ecoeficiência que o Instituto realizou em parceria com a Fundação Espaço Eco mostra que o Sistema Campo Limpo em seus 20 anos de existência já evitou a emissão de quase 1 milhão de toneladas de CO2 na atmosfera.

O volume equivale a 18.409 viagens de caminhão ao redor da terra. Esse estudo sugere que se o Sistema não existisse e essas emissões tivessem ocorrido, mais de 6,9 milhões de árvores teriam que ser plantadas para compensá-las.

Além disso, segundo o estudo, o Sistema economizou 43 bilhões de megajoules de energia, o que corresponde ao consumo de energia elétrica de 6,3 milhões de residências durante um ano.

“Além de reduzir a pressão por novas matérias-primas, a gente torna o processo produtivo mais ecoeficiente. Gasta-se menos água, menos combustível e evita a emissão de CO2 no planeta. Se o processo é totalmente reverso, ganha o meio ambiente, a economia e preservamos o futuro das novas gerações”, defende Okamura. O programa gera, ainda, 1.500 empregos diretos em todo o país.

Referência mundial

Em Minas, há sete centrais de recebimento de embalagens e 62 postos de recebimento ligados ao Sistema. No País, são mais de 260 associações de revendas e cooperativas, atendendo cerca de 2 milhões de propriedades rurais. 

De acordo com o presidente do Instituto, o programa brasileiro é referência mundial em logística reversa de embalagens vazias de defensivos agrícolas e economia circular. Ele reforça que só o Brasil dá destinação correta pós-consumo para 94% das embalagens plásticas primárias (que entram em contato direto com o produto) e 80% do total das embalagens de produtos comercializados anualmente.

“Nenhum país do mundo registra uma cobertura tão ampla. Na França, que tem o segundo melhor desempenho, a destinação não passa de 77%; em seguida, o Canadá, com 73%. Os Estados Unidos são o nono lugar no ranking, com 33%. Estamos muito além e alcançamos níveis além do imaginado”, informa.

O Inpev

Com mais de 20 anos de atuação, o Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (Inpev) é a entidade gestora do Sistema Campo Limpo. É uma entidade sem fins lucrativos criada por fabricantes de defensivos agrícolas com o objetivo de promover a correta destinação das embalagens vazias de seus produtos. 

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