Opinião

Shakespeare e Jorge Viana

Shakespeare e Jorge Viana
William Shakespeare, poeta e dramaturgo | Crédito: Adobe Steack

CARLOS PERKTOLD *

Jorge Viana e sua falta de conhecimentos da língua inglesa são mais um dos imbróglios do atual governo que anda revogando lei e requisitos legais para nomear um escolhido que não consegue preenchê-los. É o caso do ex-senador Jorge Viana. Ele nasceu em 1958 e, aos 33 anos de idade foi eleito prefeito de Rio Branco, capital do Acre.

Até a revista Time o considerou uma grande e potencial liderança no Brasil. Em seguida, foi governador e senador atuante. Durante esses anos todos, mesmo sendo engenheiro florestal, nunca se interessou ou teve tempo para aprender uma língua estrangeira, inglês de preferência, ao contrário de vários congressistas poliglotas. Claro, durante o curso universitário ele não teve acesso a revistas especializadas em engenharia florestal.

Minha geração aprendia inglês, francês, espanhol e latim em colégios do antigo curso ginasial e, no curso clássico, até alemão e grego. Ninguém saía deles falando qualquer dessas línguas, mas a construção de firmes camadas de conhecimento desses idiomas despertavam interesses naqueles garotos talentosos interessados no aprendizado de línguas estrangeiras.

Havia ainda aqueles alunos que, anos depois, eram capazes de compreensão de textos estrangeiros sem dificuldade somente com o aprendizado das aulas do colégio. Por isso, surpreende-se que alguém como o ex-governador, habituado a receber autoridades estrangeiras de ONGs interessadas naquele Estado, não tenha estudado inglês, que, segundo Oscar Wilde, é uma das línguas mais fáceis de aprendizado.

Fica uma pergunta: como o prefeito e depois governador se comunicava com aqueles que o procuravam e que não falavam português? Contratou interpretes? Por quanto tempo? Não lhe ocorreu a necessidade de um político se despontando como uma liderança na América Latina tivesse a obrigação de falar inglês? Ou seu esquerdismo é tão forte que não se interessou pela língua capitalista?

Passados 63 anos de vida, nosso herói passa pelo vexame de ter que modificar estatuto da Apex, suspendendo a exigência prevista na empresa encarregada do comércio exterior no Brasil para ser nomeado, ser apeado judicialmente e outra vez nomeado por decisão de desembargador, tudo isso por que Jorge Viana não fala inglês, língua necessária e imprescindível para qualquer tratativa de importação ou exportação. O desembargador que autorizou sua reentrada alega que ele é hábil para exercer a função. Ninguém duvida disso. Mas aqui não se trata de saber se o ex-senador é competente ou não.

Trata-se de cumprir o estatuto da empresa que foi vilipendiado e alterado apenas para que alguém que não o preenche completamente, tome posse na presidência.

Ainda bem que ele, com a nova decisão, não precisará aprender a falar a língua de Shakespeare em 45 dias, prazo que a juíza de primeira instância lhe deu para ser presidente da Apex. Neste prazo ele aprenderia apenas que the book ison the table, my name is Jorge Viana, I am the presidente of Apex in Brazil e terá que parar por aí para evitar os vexames como aqueles da ex-presidente Dilma que deixou perplexo público europeu tentando falar francês que ela desconhece e o seu inglês que, em outra ocasião, fez qualquer terceiro secretário do Itamaraty morrer de rir pelo primarismo.

Que fique claro para os jovens de hoje, futuros líderes políticos: mesmo que seja de esquerda, inglês é mais que necessário. Há empresas que, admitindo alguém para cargo elevado, nem perguntas e falam o idioma de Joe Biden: é obrigação. Lembrem-se também que espanhol é importante, mas é uma língua enganosa para quem fala português: nós entendemos bastante a língua de Cervantes, mas a recíproca não é verdadeira. Aos estudos, moçada.

  • Psicanalista e crítico de artes
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