Brasil está na lanterna de ranking global

Em que pese a crise global sem precedentes desencadeada pela Covid-19, a partir de 2020, o Brasil segue amargando uma posição vexaminosa no Ranking de Competitividade do International Institute for Management Development (IMD). O estudo, feito em parceria com a Fundação Dom Cabral (FDC), revela o Brasil na 60ª posição em uma lista de 64 economias analisadas. O País fica à frente apenas de África do Sul (61), Argentina (62), Mongólia (63) e Venezuela (64). Logo acima, aparece a pouco badalada Botswana (59) e a Colômbia (58), um perfil mais parecido com o brasileiro.
De acordo com o professor associado da FDC, Carlos Arruda, o resultado é uma decepção, visto que era esperado que o País melhorasse a sua performance.
“A entrada do Kuwait na pesquisa em 38º lugar fez com que todos os países abaixo caíssem uma posição. Isso ajuda a explicar a piora brasileira apenas em parte, mas não o desempenho. No mínimo, andamos de lado e não fizemos o ‘dever de casa’. Pioramos em todos os indicadores e, em alguns dos mais importantes, estamos entre os piores ou somos os piores. Países com economias muito menores e mais frágeis conseguiram se sair melhor e conquistar posições no ranking”, explica Arruda.
No topo do ranking, a predominância é de economias europeias e asiáticas. A Dinamarca continua na liderança, seguida da Irlanda (2º), que subiu da 11ª posição e ocupou a colocação que, na última edição, pertencia à Suíça, que caiu para o terceiro lugar. Os Estados Unidos, maior economia do mundo, subiu uma posição (de 10º para 9º). A Indonésia registra o maior aumento (de 44º para 34º) e a Letônia a maior queda (de 35º para 51º).
Quando a comparação é feita dentro de outros grupos dos quais o Brasil faz parte, como os Brics, o País também não está bem colocado. Nesse grupo de países emergentes, a China se destaca na 21ª colocação, seguida por Índia (40º). Depois do Brasil (60º) só a África do Sul (61º). A Rússia e a Ucrânia não foram incluídas nesta edição do anuário.
A Irlanda é apontada um ótimo exemplo de país que está sabendo se modernizar e se tornar competitivo. Da crise de 2008 ela saiu praticamente arrasada, com Portugal, Itália, Grécia e Espanha.
“A partir daí a Irlanda se reorganizou e passou a investir seriamente em educação, criou mecanismos de atração de empresas e de escritórios de transnacionais, desburocratizou o seu sistema tributário e hoje conduz uma política que reserva parte dos recursos arrecadados para fundos de segurança, feito para serem usados apenas em situações críticas. Tudo isso fez com que ela tivesse uma atuação admirável”, destaca
Destaques
O relatório é dividido em quatro pilares-chave para as economias. No pilar de Desempenho Econômico, o Brasil apresentou melhora significativa (de 48º para 41º) puxado por avanços no fator de Empregabilidade. Os demais pilares, porém, sofreram quedas, sendo a maior em “Eficiência dos Negócios” (de 52º para 61º). Esse último pilar apresentava os melhores resultados do País e, desde a edição de 2021, vem apresentando significativa queda, especialmente no fator “Práticas de Gestão” (de 44º para 57º, em 2023). Nos pilares de “Infraestrutura e Eficiência do Governo”, o Brasil se configurou na 55ª e 62ª colocação, respectivamente. Neste último, o País está à frente apenas da Venezuela e Argentina.
“Temos uma deficiência histórica no campo da infraestrutura. Precisamos melhorar o ambiente para esse tipo de investimento e acelerar as ações. Isso tem a ver com políticas públicas capazes de desburocratizar os processos, fazer as reformas necessárias e demonstrar para o mundo que somos um país estável e confiável. Mas não depende só do governo. Parte dessa pesquisa é feita ouvindo a percepção da comunidade empresarial e é preocupante que os próprios empresários avaliem mal as suas práticas de gestão. A iniciativa privada precisa compreender o seu papel. Não há mais tempo para imaginar que o governo, seja ele qual for, vai resolver tudo”, pontua.
Para o futuro, o professor mantém o otimismo acreditando nas potencialidades já muito conhecidas do Brasil, especialmente no que tange à transição para uma economia global de baixo carbono. Ele, entretanto, alerta para a necessidade de ser mais fortes e velozes.
“O Brasil tem tomado decisões competitivas corretas, mas a velocidade ainda é lenta. Programas estruturantes, o controle das finanças, as propostas de reformas são importantes, mas precisamos acelerar. A retomada da Secretaria de Competitividade dentro do Ministério da Indústria e Comércio, por exemplo, é uma notícia ótima, mas precisamos ser mais assertivos e velozes se não quisermos, de novo, deixar a oportunidade passar”, adverte o professor associado da FDC.
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