Finanças

Caminho para corte na Selic no 2º semestre

De acordo com especialistas, dependência de dados mantém “porta aberta” para taxa básica de juros baixar
Caminho para corte na Selic no 2º semestre
Crédito: Reuters/Adriano Machado

São Paulo – O Banco Central pode ter decepcionado agentes financeiros que esperavam uma sinalização clara de que o Comitê de Política Monetária (Copom) daria início ao ciclo de flexibilização da taxa básica em agosto, mas não necessariamente eliminou essa possibilidade, uma vez que atrelou as próximas decisões a dados, apontam economistas.

Ao manter a Selic em 13,75% ao ano na véspera, o Copom afirmou que a conjuntura demanda “paciência e serenidade” na condução da política monetária e citou que os passos futuros dependerão da evolução da dinâmica inflacionária, expectativas de inflação e o hiato do produto, entre outros fatores. “A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento e por expectativas de inflação desancoradas, segue demandando cautela e parcimônia”, afirmou a autoridade monetária.

O Copom ainda acrescentou que “conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas e avalia que a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado tem se mostrado adequada para assegurar a convergência da inflação”.

Para o economista-chefe da XP, Caio Megale, o Copom ter mencionado alguma melhora nas perspectivas de inflação “abre as portas para um possível corte na próxima reunião”. Em paralelo, acrescentou, a visão de que o cenário continua exigindo cautela e parcimônia significa que o primeiro corte não será agressivo.

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Ele ressaltou que o último parágrafo do comunicado é fundamental, com o BC sinalizando que cautela e parcimônia permanecem cruciais, mas afirmando que a estratégia de manter a Selic nos níveis atuais por um longo período “tem sido adequada”. A declaração anterior afirmava que o BC seguiria “avaliando se manutenção da taxa básica de juros por período prolongado será capaz de assegurar convergência da inflação”.

“É um sinal de que manter a taxa Selic estável à frente não é necessariamente o plano do comitê”, avalia Megale, citando ainda que o BC retirou menção a um cenário alternativo em que não hesitaria em retomar o ciclo de aperto caso o processo desinflacionário não ocorresse conforme o esperado.

Dovish – Para o chefe de economia para Brasil e de estratégia para América Latina do Bank of America, David Beker, o comunicado é mais um passo na comunicação da autoridade monetária rumo a uma postura mais dovish, embora não seja uma promessa de corte de juros na próxima reunião.

Entre os pontos que considerou como dovish ou potencialmente mais inclinados a uma redução de juros, ele destacou também a exclusão no comunicado pelo BC da promessa de não hesitar em retomar o ciclo de aperto e ainda a retirada do cenário alternativo em que a Selic é mantida em 13,75% no horizonte relevante.

Na visão de Beker – que manteve sua previsão de um primeiro corte da Selic em agosto, com uma redução de 0,50 ponto – , além da dependência dos dados, o Copom também aguarda a decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) sobre a meta de inflação na próxima semana e novas melhorias nas expectativas de inflação antes de cortar as taxas.

“Ainda faltam sete semanas para essa decisão, e o CMN deve manter a meta de inflação em 3%, as impressões mensais da inflação devem continuar surpreendendo para baixo, e novas revisões nas expectativas de inflação de longo prazo devem acontecer até lá”, afirmou.

O CMN, formado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reúne-se no próximo dia 29 para definir a meta de inflação de 2026. As metas de 2024 e 2025 estão fixadas em 3%.

Economistas do Bradesco reiteraram previsão do início da flexibilização monetária em setembro, citando que, embora os dados de inflação tenham evoluído de maneira mais favorável desde a última reunião, o Copom trouxe poucos elementos que indiquem início iminente do ciclo de redução de juros. No entanto, afirmaram não descartar “um corte de juros em agosto, caso a evolução das variáveis destacadas pelo Copom continue favorável”.

Assim como os colegas do Bradesco, a equipe do Itaú BBA também avaliou que o comitê não indicou uma saída iminente da estratégia de manter a taxa de juros no patamar atual – ou seja, um corte em agosto).

“Ainda esperamos que o Copom inicie o ciclo de flexibilização na reunião de setembro”, afirmaram, reforçando a sinalização do BC de que os próximos passos dependerão da evolução da dinâmica inflacionária. “Aprenderemos mais sobre a visão das autoridades na próxima semana, com a divulgação da ata da reunião na terça-feira, 27 de junho”, finalizaram.

Comunicado veio “muito ruim”, diz Haddad

Ministro da Fazenda, Fernando Haddad 02/05/2023 REUTERS/Ueslei Marcelino

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse ontem que o último comunicado do Comitê de Política Monetária do Banco Central veio “muito ruim”, um dia depois de a autoridade monetária anunciar a manutenção da taxa Selic em 13,75% ao ano e não sinalizar com clareza a possibilidade de cortes de juros em agosto.

“O comunicado, como de hábito, o quarto comunicado muito ruim”, disse Haddad a repórteres em Paris, onde acompanha o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em viagem.

Na véspera, o Copom manteve um tom duro ao avaliar o processo de desinflação no Brasil, defendendo que é preciso ter “paciência” no controle dos preços. Boa parte dos mercados financeiros esperava algum tipo de aceno a um afrouxamento monetário em agosto.

Haddad – que há meses vem criticando o nível da Selic, assim como outros membros do governo – disse que muitas vezes o Banco Central “corrige” o tom de seu comunicado na ata da reunião, que é divulgada na terça-feira seguinte ao encontro, mas argumentou que isso não alivia o que chamou de “descompasso” entre a conjuntura macroeconômica do país e o nível da taxa de juros.

O ministro destacou o recente arrefecimento do dólar frente ao real, alívio na curva de juros e a resiliência da atividade econômica como pontos positivos. “É claro o sinal de que podíamos sinalizar um corte da taxa Selic”, defendeu o ministro, acrescentando que seu ministério está “muito preocupado” com o nível dos custos dos empréstimos, uma vez que isso tem impacto sobre a saúde fiscal do país.

“Essa decisão do Copom está contratando um problema. Contratando inflação futura e o aumento da carga tributária futura”, afirmou Haddad.

Conforme a reforma tributária passa a assumir os holofotes na reta final da tramitação do arcabouço fiscal no Congresso, Haddad disse que o Brasil está no “melhor momento” para aprová-la, afirmando que o país “não tem chance” sem a reorganização tributária. (Reuters)

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