Editorial

EDITORIAL | Liderança indesejável

EDITORIAL | Liderança indesejável
Crédito: Reuters/Adriano Machado

Os juros reais praticados no Brasil, ainda assim considerada somente a taxa básica fixada pelo Banco Central e não aquela praticada no balcão do banco, são hoje os mais elevados em todo o mundo, chegando aos 7,5%. Ainda assim, nada que o Comitê de Política Econômica (Copom) do Banco Central considere impróprio depois de mais uma vez, contra tudo e contra todos, manter inalterada a Selic. Ao contrário, pede mais calma, reafirma estar esperando o “tempo certo”, sem ao menos tentar esclarecer o que isso possa ser enquanto desconsidera todas as ponderações e as evidências de todos os males que estão sendo causados ao País.

Em defesa de sua teimosia e, a rigor, sem que tenha como apresentar argumentos técnicos com mínima consistência, se limita a repetir que tem autonomia para decidir, que assim está estabelecido, como um dogma moderno, e assim deve ser. Uma forma de transformar assunto técnico em questão política, que encontra aliados numa minoria barulhenta, que se julga dona da verdade mas absolutamente não parece saber do que está falando. Autonomia em nome de quem exatamente? Seria da indústria em processo de evidente definhamento e já deixou suficientemente claro que não tem como absorver custos que não podem ser repassados ou enfrentar a concorrência que vem de fora? Falariam em nome de outros setores, como o de serviços ou a construção civil, igualmente duramente afetados, não raro dependentes de subsídios que são uma contradição a mais? Ou estariam, sensíveis, defendendo empregos perdidos, postos de trabalho que deixam de ser criados na velocidade requerida? E já saberiam que a competitividade da economia brasileira está na lanterna da economia mundial?

Gente de peso reconhecido, dentro e fora do País, já disse que vencidos os riscos de aceleração da inflação e sem que sejam identificadas pressões ou riscos de outra natureza, nada, absolutamente nada, justifica que o Banco Central continue fazendo mau uso de sua autonomia, um status que a realidade demonstra ser um tanto duvidoso e defendido somente por portadores de viés político assumido e cujas formulações passam ao largo daquilo que possa ser entendido como interesse maior do Brasil e dos brasileiros. Falam do mercado, este poderoso e onipresente fantasma, que não tem cara nem endereço mas tudo pode, porque acreditam estar acima do bem e do mal, mesmo que se alimente na especulação, nunca no trabalho produtivo.

Pedir paciência a quem já passou do limite da exaustão é, afinal, apenas mais um dos contrassensos que nos são impostos. Trata-se, portanto, de apreender a reagir, de sepultar a passividade, de finalmente exigir que seja diferente, não por ideologia mas defendendo o melhor para o Brasil. Tão simples quanto isso.

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