Cenário mais estável no País derruba o dólar

De janeiro a junho, a queda do dólar ante ao real, se levarmos em consideração a cotação do último dia do mês, atingiu 6,46%, passando de R$ 5,09 em janeiro para R$ 4,76 em junho. Uma variação que alcançou um valor não observado desde abril de 2022, de acordo com dados do Banco Central (BC).
É consenso entre os especialistas ouvidos pela reportagem que há redução das incertezas frente à nova gestão política e econômica do País, principalmente com a aprovação do arcabouço fiscal.
Para a economista Paloma Lopes, da Valor Investimentos, essa desvalorização no primeiro semestre, que se considerada desde 2016, chega a 17%, vem de um panorama de incertezas global em que bancos internacionais vêm aumentando pouco a pouco as taxas de juros para conter a inflação.
“Como eles não estão acostumados, eles reduzem pouco, diferente do Brasil que já prevendo inflação, coloca a taxa a 13,75%”, diz.
A economista avalia que a aprovação do arcabouço fiscal também contribui para o cenário mais estável e alivia um pouco as tensões e as incertezas do mercado brasileiro.
“Mas o futuro vai depender tanto do mercado interno quanto externo. O arcabouço deu uma melhorada nas perspectivas, porém, nosso Produto Interno Bruto (PIB), a taxa Selic e o superávit, tudo contribui para estas oscilações. Mas, são oscilações brandas, não acredito numa queda considerável futuramente. E o mercado externo ainda está muito incerto e ele afeta muito a nossa economia”, analisa.
Mesma posição tem o economista-chefe Gustavo Sung, da Suno Research, para ele, uma série de fatores influenciaram o cenário atual: “A queda do risco-país, principalmente com a apresentação do arcabouço fiscal foi um deles. Não foi o que todos esperavam, mas já dá um norte. Isso traz maior visibilidade para as contas públicas”, avalia.
Outro ponto que ele levanta é a balança comercial que está batendo recordes, devido às safras recordes que contribuíram para elevar o PIB no primeiro trimestre. “Por fim, o fim do ciclo da taxa de juros dos EUA trouxe para o mercado mais ânimo e mais investimentos em outras moedas, ajudando a economia brasileira. Além da taxa alta dos nossos juros”, diz. Porém, ele pondera ressaltando que fatores externos dificultam uma projeção melhor.
Sung estima que em função destes motivos, a queda não deve atrapalhar os resultados positivos da balança comercial. “O Brasil deve continuar registrando recordes e a baixa do dólar não vai atrapalhar. O volume exportado compensa as outras variáveis”, relata.
Para a economista do banco Ourinvest, Cristiane Quartaroli, o comportamento do câmbio foi de cautela. Na opinião dela, o mercado segue na expectativa sobre qual será o tom da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) hoje se o Banco Central irá dar alguma sinalização sobre o início do ciclo de queda da taxa Selic. “Além disso, o fato do texto do arcabouço fiscal ter voltado para a Câmara com alterações, trouxe um pouco de aversão ao risco”, avalia.
O sócio-proprietário da A8 Investimentos, Altino Junior, afirma que a moeda americana tem perdido valor no mundo e não é uma tendência exclusiva do Brasil. Para ele, o mercado brasileiro segue favorável aos investimentos estrangeiros. “Já que países emergentes como o nosso, perceberam a inflação antes dos países europeus e EUA e já estavam praticando uma alta antecipada dos juros, tornando a economia mais atraente para investimentos externos”, analisa.
Consumidor final
Para o consumidor final, a economista Paloma Lopes vê de forma positiva a desvalorização do dólar frente ao real. “Temos vários produtos de consumo diário que são dolarizados na cadeia produtiva. O valor mais baixo, reduz o preço para o consumidor final, segurando, consequentemente, a inflação”, diz. Ela exemplifica com o pãozinho feito à base do trigo, produto exportado pelo Brasil.
Altino Junior também destaca vantagens para o consumidor. “O dólar mais baixo aumenta o poder de compra do consumidor comum. Facilita viagens, amplia possibilidade do acúmulo de reservas em dólar, e da compra de aparelhos tecnológicos, como aparelhos celulares e computadores”, diz.
O economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung, ressalta que o câmbio mais desvalorizado para os consumidores é positivo. “Mas se olharmos para as empresas exportadoras, não necessariamente”, aponta.
O economista-chefe da Fecomércio MG, Stefan D’Amato, chama atenção para o barateamento dos produtos importados. “ A valorização do câmbio tende a estimular importações de pequeno valor e elas já estavam causando impactos negativos para os empresários nacionais devido à sua ilegalidade”, ressalta.
Ele avalia que a falta de controle pode prejudicar a competitividade das empresas brasileiras, que não conseguem concorrer com os preços mais baixos dos produtos importados, resultando em redução na produção nacional, aumento do desemprego e acelerando o processo de desindustrialização do País.
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