Finanças

Banco Central sinaliza um afrouxamento monetário

Instituição debateu a resiliência da atividade econômica no primeiro trimestre
Banco Central sinaliza um afrouxamento monetário
Foto: Marcos Santos / USP Imagens

São Paulo – O Banco Central sinalizou ontem que a maioria dos membros do Comitê de Política Monetária vê a possibilidade de iniciar um afrouxamento monetário “parcimonioso” na próxima reunião, em agosto, desde que um cenário de inflação mais benigno se consolide, enquanto uma minoria adotou uma postura mais cautelosa.

Segundo a ata do último encontro, divulgada ontem, houve uma divergência de opiniões em relação à sinalização dos próximos passos.

“A avaliação predominante foi de que a continuação do processo desinflacionário em curso, com consequente impacto sobre as expectativas, pode permitir acumular a confiança necessária para iniciar um processo parcimonioso de inflexão na próxima reunião”, apontou a ata.

De acordo com o BC, outro grupo mostrou-se mais cauteloso, enfatizando que a dinâmica desinflacionária ainda reflete o recuo de componentes mais voláteis e que a incerteza sobre o hiato do produto gera dúvida sobre o impacto do aperto monetário até então implementado.

“Para esse grupo, é necessário observar maior reancoragem das expectativas longas e acumular mais evidências de desinflação nos componentes mais sensíveis ao ciclo”, completou a ata.

A ata reafirmou ainda que os membros do Comitê foram unânimes em concordar que os passos futuros dependerão da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica; das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo; de suas projeções de inflação; do hiato do produto e do balanço de riscos.

Ontem, operadores precificavam chances de quase 100% de o Banco Central cortar a taxa Selic em 0,25 ponto percentual em agosto, de acordo com probabilidades implícitas em contratos de juros futuros. No fim da tarde de ontem, a precificação dessa chance estava em 92%.

Para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a ata mostra que o governo está no “caminho certo”, com a “harmonização” entre as políticas fiscal e monetária podendo acontecer em breve.

O BC decidiu deixar inalterada a Selic em 13,75% ao ano em reunião na semana passada, e manteve um tom duro ao avaliar o processo de desinflação no Brasil, frustrando o mercado ao não indicar intenção de cortar juros em agosto e provocando novas críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Mas, para Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter, a “ata foi mais dovish e indica que a visão ‘predominante’ do Copom é do início do corte na próxima reunião, considerando o cenário atual de queda da inflação e queda das expectativas”.

Leonardo Costa, economista da ASA Investments, concorda que o documento indicou que há consenso para o início do ciclo de queda de juros na próxima reunião, apostando em um início bastante gradual, com corte de 0,25 ponto percentual.

Mas o BC alertou ainda que flexibilizações do grau de aperto monetário exigem confiança na trajetória do processo de desinflação, afirmando que flexibilizações prematuras podem provocar reacelerações do processo inflacionário e, consequentemente, levar a uma reversão do próprio processo de afrouxamento monetário.

“A materialização desse tipo de cenário pode impactar negativamente não apenas a credibilidade da política monetária, mas também as condições financeiras”, disse.

A ata ainda repetiu que a conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento e por expectativas de inflação desancoradas, segue demandando cautela e parcimônia.

Ontem, o IBGE informou que o IPCA-15 ficou praticamente estável em junho graças à queda dos preços de combustíveis, e a taxa em 12 meses foi ao menor nível em quase três anos, o que deve intensificar os argumentos para o início do ciclo de corte de juros.

O BC também debateu a resiliência da atividade econômica no primeiro trimestre, mas segue com a visão de que o crescimento foi puxado pelo setor agropecuário e que os demais setores devem apresentar crescimento modesto ao longo do ano. (Reuters)

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