Coop em Minas

Cooperativismo impulsiona desenvolvimento econômico e social

Um dos princípios do cooperativismo é a adesão voluntária e livre de quem se engaja no setor | Crédito: Adobe Stock
Modelo de negócio está presente em diversas atividades, sendo responsável por grande parte do PIB

Um modelo de negócio, cujos donos são os próprios cooperados, presente em todos os setores da economia, gerando trabalho, renda e prosperidade para as pessoas e as comunidades. Assim pode ser definido o cooperativismo, sistema de grande importância para o desenvolvimento social e econômico de Minas Gerais e do Brasil.

No último 1º de julho foi celebrado o Dia Internacional do Cooperativismo, data em que o setor teve muito a comemorar, uma vez que, em meio aos diversos desafios, continua a crescer e a impulsionar a economia.

Somos mais de 18 milhões de cooperados no Brasil, sendo 2,4 milhões em Minas, com uma movimentação estadual superior a R$ 93 bilhões por ano, ou seja, 11,6% do PIB mineiro”, explica o presidente do Sistema Ocemg, formado pela junção do Sindicato e da Organização das Cooperativas do Estado de Minas Gerais (Ocemg), Ronaldo Scucato.

Atualmente, 33% da população mineira está envolvida diretamente com o cooperativismo, sendo que o segmento gera 51 mil postos de trabalho no Estado. As cooperativas de Minas retornam anualmente cerca de R$ 2,6 bilhões em tributos.

O cooperativismo está em praticamente todos os segmentos da economia, desde o agronegócio, passando por saúde, educação e crédito. Em Minas Gerais, por exemplo, um dos destaques é o agronegócio. O Estado conta com algumas das mais importantes cooperativas de café do País e do mundo.

Um exemplo é a Cooperativa Regional de Cafeicultores de Guaxupé (Cooxupé), em Guaxupé, no Sul de Minas Gerais, a maior do segmento da cafeicultura no planeta.

O cooperativismo une produtividade e sustentabilidade, individual e coletivo, e coloca sempre as pessoas em primeiro lugar. Um jeito diferente de trabalhar, consumir, vender e prosperar que conquista, ano após ano, mais e mais pessoas no Brasil e no mundo.

Scucato lembra que por meio do cooperativismo é possível ampliar os resultados de mercado, otimizando recursos e tecnologia, por exemplo. “Nesse modelo de negócios, os custos são divididos e os ganhos compartilhados proporcionalmente à participação”, disse.

Os membros também ganham no âmbito da representatividade, já que o setor tem ampla interlocução com instituições públicas e privadas, além de agregar valor à sua atividade por meio de processos coletivos de negociação de produtos, capacitação, compras, entre outros. Portanto, cooperando, é possível acessar mais recursos, investir mais, desenvolver em conjunto e compartilhar ganhos muito maiores do que quando se empreende sozinho.

Scucato: 33% da população mineira é envolvida com cooperativismo | Crédito: Genilton Elias/OCEMG

Falta de informação é desafio

Na avaliação do presidente do Sistema Ocemg, entre os principais desafios do setor atualmente está a falta de informação sobre esse modelo transformador de negócios por parte da população. Scucato destaca também a falta de investimento para ampliar os resultados das cooperativas no País e ainda as perspectivas de valorização do segmento, especialmente no âmbito do agronegócio como parceiro fundamental, grande responsável por colocar alimentos na mesa dos brasileiros, bem como do mundo.

De acordo com Scucato, o setor vem atuando de maneira incansável junto ao poder público para garantir melhores resultados.

Ele destaca também a atuação no âmbito da profissionalização do setor para um posicionamento cada vez mais competitivo no mercado, “especialmente por meio do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop), braço de capacitação, monitoramento e promoção social do cooperativismo em Minas e no Brasil, responsável por qualificar mão de obra para o setor, contribuindo para o seu fortalecimento e, consequentemente, para o fortalecimento do País”, disse.

Cooperativismo muda cenário em São Roque de Minas

O município de São Roque de Minas, na região Centro-Oeste do Estado, sofreu por muitos anos com o êxodo de moradores, que para completar os estudos se mudavam para outras cidades e, na maioria das vezes, não voltavam, comprometendo o desenvolvimento econômico e social. Uma história que se repete em várias localidades em Minas Gerais, mas que começou a mudar em São Roque graças ao cooperativismo.

Com a perda de habitantes, que teve o auge na década de 60, e se arrastou pelas décadas seguintes, a economia do município ficou comprometida e instituições financeiras deixaram a cidade. A situação piorou com o fechamento da MinasCaixa no final da década de 80, quando toda a movimentação financeira foi transferida para cidades vizinhas.

Em meio a este cenário, o agrônomo João Carlos Leite idealizou a criação da Cooperativa de Crédito de Livre Admissão de São Roque de Minas (Sarom), o que começou a mudar este cenário e culminou também na fundação da Cooperativa Educacional Sarom de São Roque de Minas, em 1999.

A presidente da cooperativa educacional, Maria José de Faria Leite, explica que a iniciativa surgiu após uma viagem, a convite da Ocemg, para a Europa. A diretoria da Sarom ficou impressionada com o investimento em educação por meio de cooperativas no velho continente e resolveu replicar o modelo em Minas Gerais.

A nova cooperativa passou a oferecer desde o maternal até o ensino médio. “Atendemos atualmente 148 estudantes e temos uma média, desde a constituição, de 10% de todos os alunos de São Roque de Minas”, disse Maria José Leite.

Para se ter ideia dos resultados, desde a abertura de turmas no ensino médio, no final dos anos 2000, cerca de 100 alunos concluíram o terceiro ano na instituição. Grande parte saiu da cidade para concluir o ensino superior, mas o índice de retorno destes novos profissionais é de 48%, o que impacta de forma positiva a economia do município.

Maria José Leite explica que entre os diferenciais da cooperativa está a inclusão da educação cooperativa, empreendedorismo, em parceria com o Sebrae Minas, e educação financeira na base curricular.

Outro diferencial é o custo. A Sarom ajuda a manter a cooperativa educacional, reduzindo dessa forma a mensalidade cobradas dos alunos.

Na avaliação da presidente da cooperativa educacional, o grande desafio atualmente é trabalhar a consciência do cooperado como dono e usuário do empreendimento. “Como eu tenho uma presença boa de pais, toda vez que a gente tem um encontro, fazemos um momento de educação cooperativista, tentando mostrar o papel deles ali dentro e como que a cooperativa depende da gente”, acrescentou.

Cooperativismo é celebrado em julho

O Dia Internacional do Cooperativismo é celebrado desde 1923 pela Aliança Cooperativa Internacional (ACI), porém, a data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1994.

A celebração, que ocorre sempre no primeiro sábado de julho, é marcada pelo Dia de Cooperar no Brasil. Iniciativa idealizada pelo Sistema Ocemg, visando disseminar os conceitos do cooperativismo, além de incentivar ações voluntárias.

História

O cooperativismo surgiu em meio à diversidade em 21 de dezembro de 1844. Tecelões da cidade de Rochdale, na Inglaterra, sob a ameaça de substituição da mão de obra por máquinas a vapor e agravamento da miséria da classe operária, criaram um pequeno armazém cooperativo de consumo: a Sociedade dos Equitativos Pioneiros de Rochdale.

No Brasil, o berço do cooperativismo é Minas Gerais com a criação, em 1889, da Cooperativa Econômica dos Funcionários Públicos de Ouro Preto, na região Central do Estado.

Enquanto o capitalismo promovia a competição, esse novo sistema incentivava a cooperação. Cada um dos 28 tecelões ingleses contribuiu com uma libra e. em apenas um ano, o capital da organização cresceu para 180 libras. Ao fim de uma década, a sociedade cooperativa já contava com 1.400 associados.

A experiência bem-sucedida de Rochdale logo se espalhou pela Europa, com o estabelecimento de cooperativas de trabalho na França, e de crédito, na Alemanha e na Itália, alcançando posteriormente o mundo todo. Em 1881, já existiam mil cooperativas e 550 mil associados.

Quarenta e cinco anos depois do surgimento na Inglaterra, funcionários públicos no município de Ouro Preto criaram a primeira cooperativa no Brasil. O foco da iniciativa era o consumo de produtos agrícolas.

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