Editorial

Resistir até que ponto?

Resistir até que ponto?
Foto: Abiove/Divulgação

Em pouco mais de três décadas o agronegócio no Brasil deu um salto de produção, produtividade e qualidade que não encontra precedentes no planeta. Movimento que na realidade começou antes, nos anos 70 do século passado, tendo como principal alavanca o hoje pranteado professor Alysson Paulinelli, cujo trabalho ganhou reconhecimento em todo o mundo, tudo isso para possibilitar que a produção de grãos alcance, na presente safra, 315 milhões de toneladas, mais um recorde para o setor. Mais amplamente, a produção de alimentos, com destaque também para as proteínas animais, colocou o País em posição de destaque, entre os maiores produtores da atualidade, tudo isso com ganhos de qualidade que são também notáveis.

Esse quadro, que hoje pesa decisivamente na composição da renda nacional e nos últimos anos garantiu que o País escapasse da recessão, tem gerado aplausos e reconhecimento, mas não, na escala necessária, investimentos para dar suporte aos produtores, no que toca, principalmente, a armazenamento e escoamento em direção aos portos em que alimentos produzidos no Brasil embarcam em direção aos principais centros de consumo no mundo. Para que se tenha ideia mais precisa do que isso significa, na safra 2022/23, segundo estima a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), das 315,8 milhões de toneladas de grãos que serão colhidas, 124,4 milhões, praticamente um terço do total, não encontrarão espaços de armazenamento. Situação tão absurda quanto a informação de que produtores do Centro-Oeste têm despachado cargas para o Rio Grande do Sul, onde a quebra da safra gerou alguma ociosidade no sistema de armazenamento. Como dano colateral, este ano 167,6 mil toneladas de soja colhida no Mato Grosso do Sul já foram embarcadas para o exterior pelo porto do Rio Grande.

Manter-se competitivo nessas condições será, para o produtor brasileiro, cada vez mais um ato de heroísmo, dando razão a quem afirma que no agronegócio brasileiro tudo vai bem da porteira para dentro e tudo vai mal da porteira para fora. Da mesma forma fica a cada dia que passa mais difícil acreditar que os bons números hoje exibidos, transformados em justo motivo de orgulho nacional, possam ser sustentados indefinidamente. Bem ao contrário, é preciso que eles sejam vistos com máxima atenção e preocupação, provocando assim reações que são impositivas. Trata-se de oferecer a quem produz o suporte necessário, da colheita passando pelo armazenamento e transporte até o embarque, garantindo que as margens não se percam nas etapas intermediárias.

Impedir que o círculo virtuoso, tão festejado, se complete será o mesmo que permitir que o sucesso de hoje seja o fracasso de amanhã.

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