Editorial

Aprendendo com os erros

Aprendendo com os erros
Crédito: Alisson J. Silva/Arquivo Diário do Comércio

A ligação entre Minas Gerais e o Rio de Janeiro remonta ao passado colonial e ao ciclo do ouro, no século XVIII. Era a Estrada Real, de Vila Rica a Parati, porto de embarque do ouro e pedras preciosas vindas das montanhas mineiras. Uma via esvaziada com o esgotamento da extração aurífera, abrindo espaços, com o início da industrialização, para a construção da estrada União e Indústria, primeira rodovia pavimentada no País ligando o Rio de Janeiro a Juiz de Fora, então nascente polo industrial. Esse primeiro trecho prosseguia em direção a Belo Horizonte – a Estrada Velha –, aberta a picaretas e nunca pavimentada, assim permanecendo até o início dos anos 60, no século passado.

A pavimentação veio pelas mãos do presidente Juscelino Kubitschek, coincidindo com a construção de Brasília, conectada ao Sul do País pela BR-3, da nova Capital Federal a Belo Horizonte, seguindo em direção ao Rio de Janeiro, tudo isso planejado há quase 70 anos. Nos anos 70, o trecho inicial, considerando o Rio de Janeiro como ponto de partida, foi duplicado até Juiz de Fora, já então com a promessa de que as obras continuariam até Brasília.

Não aconteceu e, reconhecida a incapacidade do Estado, a privatização, afinal consumada, era apresentada como cura para todos os males. A nova concessionária assumiu compromisso de manter a rodovia, retificar trechos críticos e realizar a duplicação entre Juiz de Fora e Brasília, tudo isso em troca da cobrança de pedágio e outras facilidades.

O tempo passou, apenas 10% do previsto foi efetivamente duplicado e a concessão foi devolvida sob o argumento de que as condições de operação se deterioraram, tornando-se inviáveis. Não foi este o primeiro caso de fracasso, atribuído a condições contratuais inexequíveis. Cabe de qualquer forma indagar, cabe aceitar os argumentos da concessionária sem maiores discussões. Pelo menos apurar quanto foi arrecadado de pedágio durante o período de concessão e quanto foi investido nesse mesmo período. O “não quero mais, pronto acabou” definitivamente não é opção que pareça minimamente aceitável, ficando assim o dito pelo não dito. Ou, sobretudo, sem que os milhares, ou milhões, de usuários possam saber o que exatamente aconteceu com seu dinheiro.

O mínimo a esperar, neste e em outros casos também pendentes de esclarecimentos, é que tudo passe pelo crivo de avaliação séria e consistente, de tal forma que possa ser dito com absoluta segurança quem perdeu e quem ganhou com esse jogo. Da mesma forma que, tendo aprendido com o passado, as autoridades públicas saibam reorientar futuras concessões para o caminho do sucesso, tal como esperado e prometido desde sempre.

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