Argo Drive 1.3 CVT tem preço competitivo

Amintas Vidal*
O Argo foi lançado há exatos seis anos. Na época, ele chegou com a expectativa de substituir o Palio, o Punto e, até mesmo, o Bravo, três outros hatches que foram descontinuados na reformulação completa pela qual a Fiat passava.
Apesar de maior e mais elaborado que o Palio, o Argo não tinha a sofisticação nos acabamentos, como no Punto e no Bravo, e nem a largura interna deste último.
Com o tempo, suas versões mais caras saíram de linha e ele assumiu sua vocação de hatch compacto de entrada, mas, de certa forma, atendeu àquela incumbência inicial.
O Argo emprestou a sua plataforma, que foi aprimorada e, também, parte da carroceria, peças e alguns sistemas mecânicos para os SUVs Pulse e Fastback, os modelos que hoje ocupam os lugares do Punto e do Bravo no renovado portfólio de produtos da Fiat.
Mesmo simplificado, o Argo está se adaptando às exigências do mercado. A última adequação foi a adoção do câmbio CVT acoplado ao motor Firefly 1.3 aspirado, conjunto que já equipava os modelos compactos Cronos e Pulse.
Veículos recebeu o Argo Drive 1.3 CVT para avaliação, modelo automático mais barato do mercado. Seu preço público sugerido é R$ 92.99 mil. Neste valor, a carroceria vem na cor preta sólida. As outras cores sólidas custam R$ 990 a mais sobre o preço sugerido e, as metálicas e perolizadas, R$ 1,990 mil.
Seus principais equipamentos de série são: ar-condicionado manual; direção elétrica progressiva; central multimídia de 7 polegadas com Android Auto e Apple CarPlay por cabo; display digital em TFT de 3,5 polegadas; volante com comandos de rádio, telefone e regulagem em altura; vidros elétricos dianteiros e traseiros com one touch; alarme antifurto e rodas estampadas em aço, com calotas e pneus 185/60 R15.
Em termos de segurança, os destaques são: airbag duplo; freios ABS com EBD; ESC (controle de estabilidade), TC (controle de tração) e Hill Holder (controle eletrônico que auxilia nas arrancadas em subida); controlador de velocidade (piloto automático); ESS (sinalização de frenagem de emergência); monitoramento de pressão dos pneus; gancho universal para fixação cadeira criança (Isofix) e sensor de estacionamento traseiro.
Só existe um opcional para a versão, o pacote S-Design, que não estava presente na unidade avaliada.
Nele, destaque para o ar-condicionado automático e digital, para a chave presencial e para as rodas em liga leve, entre outros. O pacote é vendido por R$ 3,99 mil.
Motor e câmbio
O motor desta versão é o Firefly 1.3 aspirado. Seu bloco tem quatro cilindros, o cabeçote conta com comando simples atuando sobre oito válvulas e este é tracionado por corrente, sistema que permite variação de abertura das mesmas, tanto na admissão, quanto na exaustão.
Alimentado por injeção indireta multiponto e tendo alta taxa de compressão (13,2:1) ele rende 107/98 cv de potência às 6.250 rpm e 13,7/13,2 kgfm de torque às 4.000 rpm, sempre com etanol e gasolina, respectivamente.
O câmbio é o automático CVT, o sistema que tem a variação continua das relações de marchas.
A Fiat programou sete (7) relações específicas para simular o uso de marchas escalonadas, no modo manual ou quando o motor é mais exigido. As trocas manuais podem ser feitas por meio da alavanca do câmbio.
Externamente, o Argo 2023 recebeu mudanças na dianteira, grades e para-choque redesenhados. Por dentro, a novidade é o novo centro do volante da marca, agora retangular.
Essa versão, a Drive, perdeu o acabamento metalizado no centro do painel, recurso estético transferido para o opcional S-Design.
As peças internas têm desenho elaborado e montagem correta das mesmas, mas tudo em plástico duro. Texturas, pequenos detalhes cromados e em alumínio fosco quebram um pouco a simplicidade na cabine.
O tecido de revestimento dos bancos também é simples e eles são as únicas partes acolchoadas no interior do Argo Drive.
As dimensões do Argo Drive CVT são: 4,03 metros de comprimento; 2,52 metros de distância entre-eixos; 1,72 metro de largura e 1,51 metro de altura.
Ele pesa 1.150 kg, em seu porta-malas cabem 300 litros e, no tanque de combustíveis, 47 litros. O modelo tem carga útil de 400 kg, coincidentemente, a mesma capacidade de reboque sem freio.

Espaço
Para um hatch compacto, o Argo tem ótimo espaço interno. Quatro adultos têm ampla área para cabeças, ombros e pernas.
Ao centro do banco traseiro, só uma criança viaja com conforto, ou um quinto adulto em deslocamentos mais curtos, pois o espaço lateral não é amplo e o túnel central é largo.
A ergonomia é acertada. Todos os equipamentos têm botões físicos giratórios, para funções principais, e de pressão, para as secundárias, arquitetura ideal.
Eles são acessados sem grandes movimentações dos braços. Multimídia destacado acima do nível do painel, teclado tipo piano ao centro e ar-condicionado logo abaixo formam linhas de comando organizadas.
Alguns detalhes destoam dessas qualidades. Os pedais estão um pouco desalinhados em relação ao volante, deslocados para a direita.
As alças das portas dianteiras são muito avançadas, ajudando a fechá-las, mas dificultando a abertura das mesmas. Faltam alças de teto para ajudar o embarque e o desembarque de pessoas com baixa mobilidade.
Por último, a coluna de direção só regula em altura, não permitindo ajuste em distância. Em compensação, existem regulagens de altura para o banco do motorista e para os cintos de segurança nos bancos dianteiros, recursos complementares importantes para a ergonomia.
Multimídia
O multimídia só espelha celulares por cabo, mas o sistema é rápido e preciso, tanto na conexão entre os aparelhos, como na alternância dos aplicativos durante o espelhamento.
Em brilho, sensibilidade ao toque e definição de imagem o conjunto atende, mas o tamanho da tela é pequeno se comparado aos da concorrência.
O sistema de áudio é melhor do que o esperado para um conjunto que não foi desenvolvido por empresa especializada em sonorização. As frequências são bem definidas e a distribuição espacial deixa o som envolvente.
Os graves surpreendem, precisando ser regulados para não causarem distorções. A falta de potência para reproduzir músicas por streaming em altos volumes e sem distorções é uma limitação recorrente nestes equipamentos normais.
Na linha central do painel, dos sete botões existentes, cinco são operantes. Eles comandam o desligamento do controle de tração, o acionamento do pisca alerta, o travamento das portas, ativação do desembaçador do vidro traseiro e o desligamento do airbag do passageiro. Este conjunto em forma de teclado é de fácil identificação e operação.
O ar-condicionado é analógico. Como sempre destacamos, estes sistemas não permitem o controle preciso da temperatura mas, normalmente, são mais eficientes.
No caso do Argo e do Cronos, além do equipamento resfriar o ar rapidamente e manter a temperatura estável, existem três saídas centrais e duas laterais que distribuem bem a forte ventilação do conjunto.
Simples de operar, seus comandos contam com três botões giratórios, sendo um menor ao centro, diferenciação que permite o uso cego, ampliando a segurança na condução.
Quadro de instrumentos
O quadro de instrumentos tem marcadores analógicos com ponteiros iluminados e destacados na cor vermelha, números grandes e traços e pontos bem definidos que ajudam na agilidade de leitura do velocímetro e do conta-giros.

Completo, apresenta a temperatura do líquido de arrefecimento do motor, além do nível de combustível.
O display digital central mostra os dados do computador de bordo e diversas informações sobre o veículo e algumas do multimídia. Elas aparecem em conjuntos, são apresentadas em páginas dedicadas e sua sequência está correta para serem complementares com o mínimo de operações possíveis nos comandos existentes no volante.
Números e letras não são tão grandes, mas a definição desta tela compensa a limitação de tamanho.
Qualidade inerente a quase todos os carros do grupo Stellantis, o volante é anatômico e tem botões bem organizados, tanto na parte da frente, quanto na de trás.
Essa característica permite fácil identificação destes comandos dianteiros e uso cego dos traseiros, outro acerto que contribui na segurança dinâmica.
Conjunto da suspensão entrega estabilidade e conforto
A direção elétrica do Argo é muito leve em manobras de estacionamento, facilitando bastante o uso em baixas velocidades, mas perde assistência elétrica muito prematuramente. Ela fica pesada em velocidades intermediárias, peso que só deveria ter em velocidades maiores.
Contribuindo com essas boas características para as manobras, os sensores de aproximação traseira ajudam ao estacionar, mas a câmera de marcha à ré faz falta, mesmo em um hatch.
Nos carros da Fiat o conforto de marcha é um destaque. O acerto das suspensões dos modelos da marca entrega estabilidade coerente com suas propostas e conforto acima da média.
Sempre dissemos que o Argo aderna menos que o Palio, ele é um hatch mais estável que o modelo sucedido. Mas, mesmo assim, suas suspensões isolam bem a carroceria das irregularidades do piso e trabalham em silêncio.
Ao superar remendos e buracos, obstáculos mais severos, elas demonstram robustez ao emitirem ruídos abafados e não aparentarem sofrer com o trabalho árduo.
Em estrada, o isolamento acústico é satisfatório. Aos 90 km/h e na relação mais longa do câmbio CVT, que é atingida com a alavanca de marchas em “D”, pois a sétima marcha da programação é mais curta que essa mais longa do sistema, o motor trabalha às 1.900 rpm.
Nesta condição, o ruído aerodinâmico é contido e dos pneus, maior, mas não se ouve o motor. Aos 110 km/h e nessa mesma relação, a rotação sobe para o 2.450 rpm e os ruídos se invertem, pois o som do vento contra a carroceria sobressai.
Também é possível ouvir o motor, mas o conforto acústico se mantém, pois são ruídos contidos, considerando ser um carro de entrada.
Este conjunto mecânico está bem dimensionado para o peso do carro e sua proposta. Com pouco curso no acelerador, o câmbio sempre busca a relação mais longa compatível com as variáveis do deslocamento, programação que prioriza o baixo consumo.
Acelerando mais um pouco, o câmbio CVT tem o funcionamento padrão destes sistemas. Ele reduz as relações para o motor alcançar uma rotação mais elevada, próxima às 4.000 rpm, regime em que o torque é maior e, depois que o carro embala, o câmbio multiplica as relações, reduzindo o giro do motor.
Com curso total do acelerador, as sete relações pré-programadas são trocadas no limite do giro permitido, ás 6.500 rpm. Nesta situação, o desempenho é convincente, mas não é esportivo. Ele atende a uma condução segura, dentro da proposta familiar do modelo.
Comutar as marchas por meio da alavanca do câmbio amplia o domínio sobre o carro em ultrapassagens ou para usar o freio-motor. Acionar a tecla Sport também auxilia nessas duas situações, tornando o motor mais responsivo às acelerações ou segurando o carro em decidas.

Consumo
Estes acertos e recursos permitem ao Argo CVT ser eficiente energeticamente. Em nosso teste padronizado de consumo rodoviário, realizamos duas voltas no percurso de 38,4 km, uma mantendo 90 km/h e outra os 110 km/h, sempre conduzindo economicamente.
Na volta mais lenta atingimos 14,4 km/l. Na mais rápida, 12,9 km/l, sempre com etanol no tanque.
No circuito urbano de 6,3 km realizamos quatro voltas, totalizando 25,2 km. Simulamos 20 paradas em semáforos com tempos entre 5 e 50 segundos. Vencemos 152 metros entre o ponto mais alto e o mais baixo do acidentado percurso.
Nessas condições mais severas, o Argo finalizou o teste com 8,1 km/l de etanol. Se ele fosse equipado com o sistema stop/start, como já foi anteriormente, poderia alcançar médias urbanas ainda melhores.
O Argo Drive CVT é o hatch compacto automático com o menor preço do mercado. Seu conjunto de motor e câmbio não é o mais moderno, mas é econômico e tem custo de manutenção mais baixo, pois o sua mecânica é simplificada, conta com menos peças e sistemas mais baratos de manter.
Para quem quer mais conforto e tecnologia a bordo, o pacote S-Design é uma ótima opção, pois aproxima a versão aos concorrentes mais completos e, mesmo com o valor somado, seu preço se mantém o melhor do segmento.
*Colaborador
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