Editorial

Caveira de burro

Caveira de burro
Quem vencer licitação da BR-381 poderá explorá-lo por 30 anos | Crédito: Alisson J. Silva/Arquivo Diário do Comércio

Enquanto da França chegam notícias de que está saindo do papel importante projeto para interligar o rio Sena à rede hidroviária europeia, possibilitando que pelo menos 800 mil caminhões sejam retirados de circulação, substituídos por barcaças mais econômicas e menos poluentes, no Brasil o futuro da infraestrutura de transportes continua incerto. Tão incerto quanto o andamento das obras de duplicação da BR 381, no trecho entre Belo Horizonte e Governador Valadares, na região do Rio Doce. O trecho, prolongamento da Rodovia Fernão Dias, principal ligação por terra entre São Paulo e Belo Horizonte, é também conhecido como Rodovia da Morte, o que parece bastante para compreensão do que se passa, numa ladainha tão antiga que já se perdeu no tempo.

Haja imaginação para continuamente acrescentar capítulos a esta novela que parece não ter fim. Como agora, diante do anúncio de que no mês de novembro próximo será realizado leilão de concessão do trecho. Quem vencer poderá explorá-lo por 30 anos, mas assume o compromisso de investir cerca de R$ 10 bilhões e completar a duplicação de 134 quilômetros dos 304 que compreendem o trecho que vai de Belo Horizonte até Governador Valadares. Tanta espera por uma obra que continua manca, embora seja crucial para o acesso ao litoral capixaba e interligação do Vale do Rio Doce a todo o complexo industrial da região Sudeste. Ou seja, uma obra que é tão importante para Minas Gerais quanto para o restante do País e cuja efetiva conclusão, parcial conforme os termos que estão colocados, demandará, com algum otimismo, pelo menos mais 8 anos.

Fazer festa para comemorar o anúncio de realização de um novo leilão soa quase que como deboche ou o mais completo descaso diante da realidade. Tanto assim que passados sete dias depois do anúncio infeliz, o Ministério dos Transportes informa que “estudará” uma maneira de incluir os 70 quilômetros de duplicação que foram, digamos, esquecidos no Orçamento da União. Fica a suposição de que a obra pronta e acabada seria então entregue ao concessionário que ganhar a licitação de novembro. De qualquer forma, não há como deixar de perceber inconsistência no discurso oficial, que de um lado aponta a infraestrutura viária de Minas como prioridade do governo federal para em seguida reforçar a vaga promessa de obras “de ampliação de capacidade” no trecho que permanece a descoberto.

Muito pouco diante do tamanho do problema, de sua importância para o modal rodoviário na região e no País, ou do tempo que já foi perdido. Aos mineiros, que continuarão esperando, sobra a conclusão de que alguém enterrou uma caveira de burro na Rodovia da Morte.

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