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Agência de Singapura busca parceiros no País

Foram realizados encontros em Nova Lima e na Capital nesta semana que devem ter desdobramentos ainda em 2023
Agência de Singapura busca parceiros no País
Representantes de diferentes setores revelaram durante o evento oportunidades para estabelecer parcerias com Singapura | Crédito: Divulgação/FDC

A busca por parcerias estratégicas, abertura de mercado e desenvolvimento tecnológico conjunto trouxeram a Enterprise Singapore – órgão nacional de padrões e credenciamento de Singapura – para uma agenda de dois dias em Belo Horizonte.

A agência defende o crescimento empresarial e trabalha com empresas comprometidas em desenvolver capacidades, inovar e se tornar globais. Também apoia a difusão de Singapura como um centro de comércio global e startups.

Os encontros foram realizados com representantes da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), no P7 Criativo, no Hipercentro, e com representantes multissetoriais, na Fundação Dom Cabral (FDC), em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), na segunda-feira (17).

No dia seguinte (18), se reuniram com representantes do Estado e do Município, na sede da TSX, pela manhã, e, novamente, com representantes do setor produtivo durante o evento Café com Investimentos – Conexões de Impacto, no Parque do Palácio, ambos na região Centro-sul da Capital.

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Durante os eventos, o diretor regional da Enterprise Singapore para América do Sul, Josiah Choy, apresentou as características do país e os principais interesses comerciais e de parceria que a ilha asiática busca no Brasil.

De outro lado, ouviu de representantes de diferentes setores produtivos mineiros as oportunidades e desafios para estabelecer parcerias e desenvolvimento conjunto.

“Eu já tinha alguns conhecimentos sobre a economia de Minas Gerais, sua potência minerária e geração de energia, por exemplo. Não tínhamos, porém, a verdadeira dimensão de outros aspectos muito interessantes, como a força da indústria automotiva e toda a pesquisa e desenvolvimento de um modelo próprio de eletrificação e descarbonização das linhas de produção. Isso é algo que muito interessa ao meu país”, afirmou Choy.

De país rural e sem nenhuma expressão na economia mundial na década de 1960, até se tornar uma potência asiática, Singapura se mostra um caso inspirador para nações em desenvolvimento como o Brasil. O país, que só se tornou independente em 1965, ostenta níveis de competitividade invejáveis. É 4º lugar no Ranking de Competitividade Econômica Global do IMD (Instituto Internacional de Desenvolvimento Gerencial), enquanto o Brasil amarga a 60ª posição, em 2023.

O intenso investimento em educação, tecnologia e inovação transformou a realidade do país que tem apenas 5,45 milhões de habitantes – pouco menos que a RMBH -, ou seja, uma população 40 vezes menor que a brasileira.

Ao mesmo tempo, em valores de 2021, o produto interno bruto (PIB) de Singapura ficou em US$ 397 bilhões. Já o brasileiro, no mesmo período, alcançou a marca de US$ 1,61 trilhão. Nesse caso, a comparação mostra que o PIB Nacional é apenas quatro vezes superior ao “singapurense”.

Com cerca de 618 km² de extensão, o país é uma cidade-estado localizada na maior ilha da península da Malásia, entre a Tailândia e a Indonésia.

“Singapura é um país muito pequeno. Nosso principal ativo é o capital humano. Se você só tem pessoas com quem trabalhar, então só pode fornecer serviços. E eles têm que ser bons de serviço. É preciso criar valor intelectual em vez de apenas fabricar. Então, foi isso que nos levou a desenvolver muitas das soluções tecnológicas”, pontuou o diretor regional da Enterprise Singapore.

A aposta em educação conta com esforços do governo e da iniciativa privada, que distribuem bolsas de estudos dentro e fora do país. A contrapartida exigida dos estudantes é voltar para Singapura e trabalhar no país por períodos que variam entre cinco e 10 anos, dependendo do curso escolhido. Se o acordo for quebrado, o estudante assume a dívida de toda a formação. Assim, Singapura retém talentos e promove o desenvolvimento tecnológico das empresas e, consequentemente, a qualidade de vida no país, gerando um círculo virtuoso de desenvolvimento das pessoas e dos negócios.

Sem área para desenvolver agricultura ou implantar grandes fábricas, o país se voltou para os serviços de base tecnológica e desenvolveu o mercado financeiro. Também adotou como estratégia se valer da posição geográfica privilegiada no centro do Sudeste Asiático, desenvolvendo serviços portuários. Navios do mundo inteiro utilizam o porto de Singapura para se reabastecer e também como hub de distribuição para as demais nações da região.

Sem conflitos com seus poderosos vizinhos como China, Índia e Japão, Singapura é considerado um país neutro e serve, inclusive, como plataforma para empresas fundadas em outros países que mantêm sedes na ilha. Ao mesmo tempo, é o país que mais investe na China e tem entre os seus principais parceiros comerciais, além dos chineses, os norte-americanos. Na América do Sul, o principal parceiro é o Brasil.

De acordo com o organizador da agenda, Marcos Mandacaru, produtivos, os encontros realizados nesta semana devem ter desdobramentos ainda em 2023.

“Foi um momento de conexão e troca de informações. Estamos com entendimentos em várias áreas. Esperamos que esse laço de Minas com Singapura seja fortalecido e que a gente traga mais investimentos para financiar projetos e novas plantas produtivas no Estado. E, sobretudo, criar uma recorrência de uma agenda com Singapura. Não é algo que se faça em uma só visita. Como desdobramento desses dois dias, prevemos mais uma agenda deles aqui em Belo Horizonte, ainda neste ano; uma ida a Singapura, possivelmente com o governo e empresas; e também conexões on-line dos projetos que foram discutidos aqui. E algumas empresas que já apresentaram projetos aqui pretendem ir ao escritório da Enterprise em São Paulo”, afirmou Mandacaru.

Minas Gerais é celeiro de oportunidades

Estamos prontos para ancorar investimentos, diz Mandacaru | Crédito: divulgação/FDC

Na agenda de trabalho da Enterprise Singapore – agência de fomento de negócios e órgão nacional de padrões e credenciamento de Singapura em visita a Belo Horizonte, representantes de diferentes setores produtivos falaram sobre os desafios enfrentados e sobre as oportunidades oferecidas pelas cadeias produtivas.

No setor de serviços, a CEO do Ouro Minas Hotel Dolce by Whyndham, Érica Drummond, destacou a singularidade dos empreendimentos familiares no setor hoteleiro do Brasil e as oportunidades para os fundos de investimento europeus e asiáticos no Brasil.

“Às vezes acham que o Brasil é como a China de anos atrás, quando tudo o que vinha de lá era duvidoso quanto à qualidade. Nossas empresas têm conformidade, temos posição externa muito clara para trazer investidores. Como representante da maior empresa hoteleira do mundo (Whyndham) no Brasil, posso dizer que o nosso País está pronto para atrair investidores máster, especialmente da Europa e da Ásia. Desde 2014 tento estabelecer negociações com Singapura e entendo que essa seja uma grande oportunidade”, afirmou Érica Drummond.

O diretor-executivo do Mining Hub, Leandro Rossi, destacou a importância da mineração clássica em Minas Gerais e também o potencial do setor para contribuir com a transição energética por meio de minérios estratégicos como nióbio e lítio, já explorados no Estado. Ele falou também sobre a necessidade de agregação de valor à cadeia produtiva através do beneficiamento de diferentes minerais.

“Acredito que temos oportunidades em diferentes companhias. Singapura é um hub de tecnologia e mais oportunidades podem vir de lá. Podemos fazer parte da estratégia de internacionalização das empresas de Singapura por meio de apoio às startups brasileiras do setor”, analisou Rossi.

O presidente do Conselho do Instituto Brasil Digital, Leonardo Cunha, trouxe para a mesa a formação de talentos brasileiros e o quanto isso já contribuiu para a disrupção em setores estratégicos, como o caso da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para o agronegócio nacional.

“No Brasil temos tecnologias para quebrar diferentes paradigmas, criadas nas nossas universidades e centros de pesquisa e desenvolvimento. A missão do Instituto é criar e conectar cérebros. Queremos nos colocar à disposição porque acreditamos no modelo de Singapura, que cresceu através dos seus cérebros”, pontuou Cunha.

Durante o encontro no Parque do Palácio foi apresentado um vídeo, produzido em parceria com o DIÁRIO DO COMÉRCIO, que mostra as grandes empresas já instaladas na Capital e seu entorno, demonstrando que a região já foi reconhecida e escolhida por players globais como sede e escritórios estratégicos.

“Belo Horizonte já oferece um ecossistema de negócios e inovação, capaz de atrair empresas tão distintas e importantes como Google e Gerdau, por exemplo. Estamos prontos para ancorar investimentos e empresas de Singapura voltados para diferentes setores”, avaliou o anfitrião do evento, Marcos Mandacaru.

A relação entre Minas Gerais e Singapura, porém, não é recente, lembrou o CEO da Héstia Consultoria, Luiz Antônio Athayde. No início da década de 2000, o país asiático ajudou, via acordo de cooperação na transformação do, então, Aeroporto Internacional de Confins, considerado um elefante branco, em um dos principais aeroportos do Brasil. Hoje, transformado em BH Airport, o terminal abriga um parque de manutenção da Gol Linhas Aéreas, um hub da Azul e oferece 10 voos internacionais.

“A história não se repete, mas se reinventa quando existe vontade e comprometimento para transformar o futuro. Singapura já foi muito importante para Minas Gerais. Tivemos aqui no Estado o primeiro Master Plan do Brasil com Singapura. Projetos para os próximos 50 anos tiveram início quando buscamos lá conhecimentos para transformar o aeroporto da Capital no que precisávamos. Para isso criamos a figura do ‘acordo de cooperação’ para que o trabalho fosse feito”, relembrou Athayde, ex-secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, durante a palestra “Causos de Minas com Singapura”.

O interesse dos empresários mineiros foi visto com alegria pelos representantes da Enterprise. “Ficamos positivamente surpresos com a diversificação da economia mineira e também pelo interesse de tantas empresas por Singapura e olhando para a Ásia. Faz muita diferença estarmos aqui. Grande parte do nosso trabalho é visitar as empresas. Estando aqui em BH temos essa oportunidade de conhecer as empresas e as pessoas. E o brasileiro gosta também de olhar nos olhos, principalmente os mineiros. Estamos abertos a continuar essas conversas e, com certeza, não será nossa última vez em Minas”, completou o Business Development Manager da Enterprise Singapore, Julien Fruchard.

“Brasil é provedor de soluções tecnológicas”

Os temas ligados à transição energética, descarbonização da economia e do ESG de maneira geral chamaram bastante atenção dos representantes da Enterprise Singapore – agência de fomento de negócios e órgão nacional de padrões e credenciamento de Singapura – na visita a Belo Horizonte nos dias 17 e 18 de julho.

Vindos de um país com extrema dificuldade em relação aos recursos naturais, os “singapurenses” vislumbraram no Brasil e, especialmente, Minas Gerais, oportunidades não só de oferecer soluções, mas também de encontrar aqui tecnologias já desenvolvidas para os desafios daquele país.

Sem áreas cultiváveis, Singapura hoje importa mais de 90% dos alimentos consumidos. Sob o risco de uma nova pandemia ou qualquer outro evento que paralise as importações, colocando em risco o abastecimento, o país desenvolve o plano “30 para 30”. O objetivo é que, até 2030, pelo menos 30% do alimento já seja produzido localmente. Para que isso seja possível, porém, é preciso aplicar tecnologia de ponta.

“Se acontecer outro evento como a pandemia, o Brasil não para. Vocês têm água, alimentos, energia. Em Singapura não é assim. Não temos recursos naturais e precisamos de muita tecnologia para diminuirmos a nossa dependência das importações. Além de um agronegócio muito tecnológico, vocês têm um grande avanço em energias renováveis e nas discussões e ações sobre descarbonização, por exemplo. Apenas 20% da matriz energética de Singapura é limpa. Esses são pontos de grande valor para nós”, destacou o diretor regional da Enterprise Singapore para América do Sul, Josiah Choy.

Para o organizador do encontro, Marcos Mandacaru, apresentar o Brasil como um provedor de soluções tecnológicas a um país como Singapura é fundamental para elevar o nível de competitividade junto às demais nações, participando da agenda global de negócios.

“Hoje o Brasil é referência em várias áreas. Tivemos aqui, por exemplo, o caso da Carapreta, que produz carne de modo sustentável. Penso que ali pode existir uma possibilidade de investimentos de fundos de Singapura porque a empresa entrega o que o mundo quer hoje: sustentabilidade, responsabilidade e, ao mesmo tempo, experiência. O Brasil é referência em energia limpa, sustentabilidade e muitos outros setores. Então, quando conseguimos embalar tudo isso de forma vendável para os fundos de fora, conseguimos êxito. O Brasil e Minas são neófitos nessa agenda internacional. Então, quanto mais recorrentes forem essas agendas internacionais, maior a chance de encontrarmos oportunidades”, avaliou o anfitrião do encontro.

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