Futebol feminino consolida espaço e atrai atenção de investidores
A seleção brasileira feminina de futebol enfrenta a França, neste sábado, 7h, pela segunda rodada da fase de grupos da Copa do Mundo. Não só o duelo, mas o futebol feminino em geral já está na boca do povo e deverá ficar ainda mais nas próximas semanas por causa do Mundial na Austrália e Nova Zelândia.
O futebol feminino é marcado por diversos desafios, mas, felizmente, nos últimos anos, muitas empresas têm optado por apoiar o desenvolvimento da modalidade no Brasil. Dentre elas, está a Neoenergia, empresa do setor elétrico brasileiro que é patrocinadora do Campeonato Brasileiro Feminino (Brasileirão Feminino Neoenergia) e da seleção brasileira da categoria.
De acordo com o diretor de Marketing da Neoenergia, Lorenzo Perales, o apoio das empresas às competições da modalidade é essencial para sua profissionalização, assim como para a participação de mais atletas dentro do ecossistema do futebol.
“O apoio das empresas permite contar com mais recursos para a organização de competições, infraestrutura, visibilidade ou estruturação de times, tanto profissionais como de base, criando melhores condições para a prática esportiva. Nessa linha, o apoio da Neoenergia, por meio da parceria com a Confederação Brasileira de Futebol, permitiu tornar as competições de futebol feminino economicamente sustentáveis, transformando a realidade de muitas meninas e mulheres que sonham em jogar futebol”, afirma.
O conteúdo continua após o "Você pode gostar".
Ele ainda destaca que a companhia é a primeira a patrocinar exclusivamente as seleções brasileiras femininas. Segundo Perales, a Neoenergia acredita no esporte como ferramenta que reforça seu compromisso com a equidade de gênero.
“Este patrocínio, o maior da história da empresa, é símbolo de uma atitude que se estende em diversos âmbitos. O fomento ao esporte feminino é resultado de uma crença no esporte como agente de mudança social que promove princípios como vida saudável, respeito, exemplo e disciplina”, declara.
#NossaVez
No caso da Copa do Mundo Feminina deste ano, a empresa do setor energético preparou diversas ativações para engajar e ampliar a participação do público na torcida pela seleção brasileira.
Com o mote de campanha #NossaVez, a Neoenergia busca reforçar o protagonismo da seleção brasileira feminina durante a sua participação no maior palco mundial. Além de provocar a reflexão de todos os brasileiros sobre o papel da mulher em todos os âmbitos da sociedade.
Na primeira fase da campanha, o jogador da seleção masculina Rodrygo vestiu a camisa da seleção feminina para levar energia às mulheres e reforçar a importância de incentivar as atletas. No segundo filme, estrelado pela atacante Geyse Ferreira, a bola é passada para as mulheres que disputam o mundial.
Sólides & América
Especializada em gestão de pessoas, a Sólides mantém uma parceria de dois anos com o América, que inclui o patrocínio do time de futebol mineiro. Segundo o CMO da Sólides, Rafael Kahane, a empresa sempre contou com a premissa de apoiar tanto o futebol masculino quanto o feminino.
“Independentemente da maneira que o apoio seja realizado, seja por intermédio de patrocínios ou parcerias, é muito importante que o setor privado o faça, pois é um passo importante rumo a um cenário esportivo mais diversificado e inclusivo”, afirma.
Ele ainda lembra que a empresa é parceira de outras equipes do futebol feminino nacional. Entre elas o Corinthians, atual campeão brasileiro e semifinalista da edição 2023 do Brasileirão Feminino.
Kahane reforça que a Sólides já está ao lado do América desde 2021 e recentemente renovou essa parceria para até 2025. “Nossa parceria com o América-MG existe desde 2021 e estamos muito felizes por renová-la com uma equipe cujo sucesso é impulsionado pelo talento e que valoriza a individualidade e as competências únicas de cada profissional, seja no campo ou fora dele”, declara.
Legado para gerações futuras
De acordo com o CMO da Sólides, ao investir no futebol feminino a empresa está também criando um legado para as gerações futuras. “Essas ações podem inspirar e motivar mais mulheres a se envolverem no esporte e torná-lo uma parte essencial da cultura esportiva global”, completa.
Ele conta que essa parceria com o América tem rendido diversas ações em conjunto. Entre elas, palestras com especialistas para os atletas e integrantes da área de Recursos Humanos e Departamento Pessoal do clube.
“Nosso objetivo é garantir que cada membro da equipe do América-MG esteja no papel certo, sejam treinados e se mantenham engajados a fim de potencializar suas habilidades únicas e, assim, contribuir para o sucesso geral do time”, afirma.
A Sólides pretende investir cada vez mais no futebol feminino e em outras modalidades esportivas. “O nosso desejo é ser a principal marca dos esportes coletivos no Brasil”, declara.
Gerdau & Cruzeiro
Outra empresa que, há dois anos, também tomou a decisão de apostar no esporte feminino nacional, com ênfase no futebol, foi a Gerdau. Atualmente, a produtora de aço é a patrocinadora master da equipe feminina do Cruzeiro Esporte Clube.
Essa iniciativa teve como ponto de partida o impulsionamento da igualdade de gênero como complemento do programa interno de diversidade e inclusão, conforme explica o diretor de Comunicação e Relações Institucionais da Gerdau, Pedro Torres.
“O nosso interesse em apostar no futebol feminino veio de uma grande questão interna. Poderia ser o futebol masculino? Poderia. Mas optamos pelo futebol feminino como parte de um propósito do nosso programa de Diversidade e Inclusão, dentro de uma empresa onde os ambientes contam com uma grande participação masculina”, diz.
Propósito institucional
Segundo Pedro Torres, a meta da Gerdau é ampliar a atuação feminina em cargos de liderança e em seus setores, pelo viés da transformação cultural como parte de um propósito institucional. Daí veio como necessidade ampliar ações com este propósito. Logo, entre as iniciativas, o apoio ao esporte surgiu como parte desse desejo. “Então, entramos em contato com o Cruzeiro, que logo demonstrou surpresa quanto a uma empresa grande querer patrocinar o time feminino de futebol deles”, disse.
O diretor de Comunicação da Gerdau ressalta que há uma grande discrepância do aporte praticado pelo mercado entre times masculinos e femininos no futebol. “O esporte é uma grande oportunidade, uma vitrine interessante para colocar recursos. Tanto é que somos o primeiro patrocinador master do time feminino de futebol da história do Cruzeiro Esporte Clube”, afirma. “Quando começamos a patrocinar o time, elas estavam na Série B. Já hoje, se encontram na Série A. Como consequência, lógico que esperamos resultados positivos, mas isso é secundário. O foco maior é fomentar o esporte feminino pela transformação de vidas e promoção de uma admiração pelo futebol jogado pelas mulheres”, conclui.
Desenvolvimento e desafios do futebol feminino no Brasil

Para a coordenadora do departamento de futebol feminino do América Futebol Clube, Luiza Parreiras, a baixa autonomia financeira das equipes femininas é um dos principais desafios para a modalidade. Ela destaca que o Corinthians é o único clube no País com essa autonomia frente ao masculino.
“Todos os outros dependem sim do orçamento do masculino e dependem de como o masculino vai desempenhar durante a temporada. Vejo como um grande desafio para as equipes femininas essa sustentabilidade financeira”, relata.
Porém, Luiza Parreiras também enxerga um avanço nesse quesito se comparado com anos anteriores. A categoria tem se tornado mais atrativa para patrocinadores, para canais de televisão e também de streaming, que já estão transmitindo os jogos. “Tudo isso faz o mercado girar e começa a trazer receita para aquele departamento, mas ainda a gente não está no momento de ser autônomo financeiramente”, declara.
O resultado desse maior interesse por parte das marcas, segundo a coordenadora, é a melhora na estrutura das equipes e, consequentemente, na qualidade do treinamento e dos jogos, tornando-os mais disputados.
“Para mim, fica muito claro que ainda é um processo de evolução, é um processo de crescimento da modalidade como um todo. Das pessoas passarem a entender que é diferente do masculino, de ver que tem sim suas qualidades, que tem seus elementos positivos, atrair mais pessoas interessadas, e isso gera toda uma consequência de evolução da modalidade”, esclarece.
O papel da Copa
Luiza Parreiras também afirma que esta Copa do Mundo tem um grande potencial de impulsionar todo esse avanço e desenvolvimento do futebol feminino no Brasil. Assim como a Copa anterior que, em sua visão, foi um divisor de águas para a modalidade. “A Copa na França, em 2019, foi a de maior audiência e foi a Copa de maior retorno financeiro. Mas, com certeza, essa agora vem pra bater tudo isso”, ressalta.
Ela ainda lembra que os salários pagos às jogadoras e demais funcionários ligados à categoria também vêm apresentando avanços, porém, ainda longe do ideal ou do patamar apresentado no masculino.
“Está longe de ser o ideal para que as atletas possam se sustentar e sustentar a família. A gente já vê, sim, condições salariais melhores, muito melhores do que se via há três, quatro anos. Por isso que eu digo que é uma evolução rápida, e vem realmente evoluindo rápido ano a ano. Mas a gente ainda não está num patamar financeiro de ser rentável para as jogadoras e para os clubes”, completa.
Na visão da coordenadora do departamento de futebol feminino do América, existe ainda um desafio que está acima da autonomia financeira. A questão da aceitação cultural. Para Luiza Parreiras essa é uma dificuldade não apenas para o negócio em si, mas também para a consolidação da modalidade.
“É muito fácil chegar em um momento de Copa e todo mundo quer saber, o que é natural, mas acabam às vezes fazendo julgamentos e tendo impressões sem conhecer de fato a modalidade. Sem conhecer os problemas que foram enfrentados pela modalidade, como questões de proibição e de ser algo muito recente”, destaca.
Visionário
Luiza Parreiras destaca que o América percebeu que não basta apenas ter a modalidade e incentivar. Segundo ela, o clube abriu os olhos para maiores investimentos em estrutura, em mais qualidade das atletas que estão sendo formadas e contratadas, no trabalho de treinamento diário.
“Pra mim é muito claro que tudo isso é uma consequência do crescimento, e eu vejo que o América acompanhou e vem acompanhando esse crescimento. Veio investindo e teve como resultado esportivo este ano o acesso para a Série A”, completa.
Ouça a rádio de Minas