Riscos a considerar

“Barbie”, um filme produzido em Hollywood, é o sucesso do momento nos cinemas, o que não representa qualquer surpresa e não somente porque remete a uma boneca, brinquedo destinado a meninas, que faz sucesso há décadas. Há que considerar também os investimentos na publicidade do filme e, sobretudo, que ele chegou a ocupar, na primeira semana de exibição, nada menos que 80% dos cinemas do país.
Com certeza em alguma medida e em algum momento assistir “Barbie” foi simplesmente, e para muitos, questão de falta de opção. Algo sem dúvida a ser considerado por quem tiver preocupação, mínima que seja, com os padrões culturais predominantes em nosso País e ficar sabendo, agora, que este ano, entre os meses de janeiro e junho, foram lançados no País mais de cem produções locais que não alcançaram mais que 1,2% do mercado.
Percentual tão baixo, absolutamente não reflete escolhas e gostos pessoais, mas sim o controle absoluto, total, das salas de exibição por empresas também norte-americanas e umbilicalmente associadas às produtoras de filmes. Tudo isso num monopólio que não deixa brechas também para o cinema de qualquer outra origem, como o europeu que em outras circunstâncias e num passado ainda recente deteve fatia significativa do mercado nacional. Não estamos falando de algo que possa passar despercebido, tampouco de uma situação que devesse ser tolerada. Fala-se muito em educação, fala-se muito que a abertura dos horizontes culturais seria o caminho natural, e mais curto para o desenvolvimento local, tomado no seu sentido mais amplo. Não é, absolutamente, o que está acontecendo, independentemente das qualidades que possa, ou não, ter o filme, que é referência para este comentário.
Interessa sim chamar atenção para os riscos da imposição de uma cultura, qualquer que seja, virtualmente sem abertura para outras possibilidades, começando do próprio cinema nacional. E sem esquecer que o controle das salas de exibição praticamente baniu do País o cinema inglês, francês, italiano, japonês, russo, etc. O cerco que tem origem bem definida e conhecida, completando-se em esquemas também monopolizados, da mesma origem, que alcançam a televisão e mais recentemente também as plataformas de internet. Um processo econômico que estrangula alternativas e, nesse sentido, pode perfeitamente ser comparado a controle de informação e, portanto, censura, ironicamente apontada apenas quando é demonstrada a necessidade de regulamentar as plataformas digitais.
Definitivamente só não enxerga o que se passa quem não tiver olhos para ver e consciência para refletir as proporções dos riscos a que estamos submetidos.
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