O sono e a felicidade
Eu levei um choque quando fui na primeira Conferência de Felicidade nos Negócios no Butão, em 2017, denominada GNH Conference. Para ficarmos alinhados, o Butão é um país com uma média de 770 mil habitantes, localizado na Ásia, na região dos Himalaias.
Mesmo já tendo percorrido uma jornada de autotransformação, era impossível não criar expectativas em relação a um congresso que reunia os principais pesquisadores do tema Felicidade e Espiritualidade nos negócios. Eu também já tinha conhecimento da Ciência da Felicidade, sabendo do que compunha o chamado construto do bem-estar que em resumo é a soma de saberes e indicadores que medem a felicidade, mesmo assim ainda estava na expectativa de ver coisas diferentes.
E sim, tudo era muito diferente, desde as roupas das pessoas, os rituais de abertura do congresso e a magnífica simplicidade das pessoas que ali estavam. Conhecer a felicidade naquele nível era realmente um presente.
No primeiro dia, o tema mais discutido no Congresso se traduz em uma pergunta que vou traduzir em forma de reflexão, pois a ouvi de um palestrante que mexeu profundamente comigo: “Como vamos levar a felicidade para as organizações, se as pessoas não dormem?”
E o sono é um dos elementos fundamentais para o cérebro atuar no neocórtex, parte mais racional e sábia do nosso cérebro, ou seja, a parte que conecta com a consciência. Eu aprendi com um mestre em administração de empresas que tenho a felicidade de chamar de irmão, que falamos muito de Tendências, mas esquecemos as Pendências e o sono é uma base muito importante para trabalhar a felicidade nos negócios.
Em média, 40% da população mundial tem distúrbios ligados ao sono, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).
E aí se inicia um grande desafio para implantar essa gestão com foco em felicidade, com alguns questionamentos:
- Faz sentido continuar o trabalho de turno para negócios não essenciais?
- Se a ansiedade prejudica o sono, faz sentido colocar metas agressivas a ponto de deixar os colaboradores mais desregulados?
- Se alimentação interfere no sono, faz sentido oferecer alimentos com alto índice de carboidrato à noite nos refeitórios, nas lanchonetes e nos restaurantes?
Pode parecer radical as perguntas acima, mas enquanto não aprendermos a disciplina do corpo, dificilmente falaremos de felicidade e espiritualidade nos negócios.
A saúde é um dos pilares da FIB – Felicidade Interna Bruta e não é à toa que seu idealizador (no caso, o país de nome Butão) teve somente duas mortes por Covid, segundo os dados do GNH Center.
E uma coisa que aprendi recentemente com o mestre tibetano: há uma diferença gritante entre cuidar do corpo e curar o corpo. O bem-estar quer cuidar do corpo e a felicidade quer curar o corpo. Resolver um problema de sono, na minha visão, é um processo muito mais profundo que podemos imaginar, que não cabe a mim responder, mas a pergunta que deixo é se a forma como estamos operando e trabalhando a felicidade nos negócios está indo nesta direção ou é mais do mesmo para gerar uma positividade tóxica ou na resolução integral do problema.
Começar pelo básico pode ser uma grata surpresa. E por falar nisso, como anda o sono dos colaboradores da sua organização?
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